Tinha apenas 18 anos quando me trouxe ao mundo através de uma cesárea. Um ano mais tarde era mãe novamente. Uma menina cuidando de outras 2. Contou com a ajuda da mãe tirana e 4 anos depois do meu nascimento começou sua vida independente ao lado do meu pai. Teve depressão para despertar.
Era uma menina violenta com as filhas, muito severa, como aprendeu a ser com seu próprio pai. Sempre impaciente, gritona, com enxaqueca. É assim que me lembro de minha mãe na minha infância. Na adolescência me distanciei. Achava que nela tudo estava errado. Adolescente!
Entrei na vida adulta me sentindo orfã de mãe, como se ela nunca tivesse estado ao meu lado. Então, começamos a fazer juntas um curso de não-violência. Todas as terças saíamos do curso e conversávamos a sós, como duas mulheres.
Descobri a grande mulher que estava ao meu lado, com grande coração, cheia de dúvidas, medos, vontade de crescer espiritualmente. Uma mulher que cuidou exclusivamente dos filhos por 10 anos. Que fez sua faculdade depois que suas 2 filhas já tinham se formado. Com mais de 30 anos, começou uma carreira de sucesso.
Em nossas conversas descobri que aquela mulher de olhos cativantes pedia por minha ajuda. Mostrei os caminhos que segui, desabafamos sobre nossas dificuldades. Deixei de ser a menina a ser educada e passei a ser uma mulher de fibra.
No último dia de curso me descobri grávida. Pela primeira vez senti-me feliz de compartilhar de algo tão importante com ela. Foi a primeira a saber e com uma imensa e surpreendente felicidade, a primeira a me apoiar.
Foi com ela que fui a primeira vez ao GAMA e lá desfez seus mitos. Não tive coragem de contar que ia ter meu filho em casa, mas quando ela soube, encheu-se de orgulho. Depois que meu filho nasceu pude ver o que é esse amor com doçura que é ser avó.
Temos ideologias diferentes, mas sinto o quanto a chegada deste ser nos uniu. Ela me respeita, apóia, entende, admira minha maternagem. Foi fazer curso de Reiki, trocou a alopatia por homeopatia. Tem uma admirável paciência. Uma calma que nunca experimentei como filha. E um amor tão grande que me enche os olhos de lágrimas só de lembrar.
Nos primeiros dias me ajudou muito aqui em casa. Estava recém casada, parida e sem empregada e ela foi uma presença angélica e silente. Cuidou da casa, da comida e me permitiu ficar com meu filho. Reescreveu sua história, uma vez que minha avó privou-a da minha companhia e só deixava-a segurar-me para mamar. Ela fez o oposto: cuidou do mundo para que eu me ocupasse apenas do meu anjo.
Ela não tem mais obrigações de educar. Apenas saboreia a presença leve, como um chocolate importado degustado depois de um café, vendo uma montanhosa paisagem. Se permite amar e ser muito amada.
Eu conheci minha mãe de verdade quando eu mesma me tornei uma. Hoje posso entender suas questões mais profundas, perdoá-la por seus erros, certa que toda mãe quer o melhor para seu filho. E nós filhos, sempre temos a chance de reescrever as nossas histórias através de novas escolhas e novas vidas.
Imagem: Arquivo Pessoal