
por: Kalu
Triste é o país em que as crianças dançam como se estivessem fazendo sexo, disse certa vez Darcy Ribeiro. Esta semana recebi este vídeo que me deixou chocada.
Vivemos a era da banalização da vida, da violência, do sexo, da morte. Um mundo de 70 assassinatos por hora nos desenhos, de crianças que dançam desta maneira obscena, de uma vida sem sentido, afastada da natureza, das brincadeiras sadias, com ausência de pais, rodeada de brinquedos.
Crianças trancafiadas em espaços minúculos, com medo de tiro, de assaltos. Que as músicas que conhecem são dos intervalos comerciais ou dos desenhos animados, que aos 7 anos já entram na internet e aos 12, participam de chata de sexo.
Pais que ao verem duas crianças de sexo oposto brincando fazem insinuações sexuais, crianças que não conhecem o gosto das frutas tiradas dos pés, que não sobem em árvore, que sempre estão limpas e sabem escrever e ler aos 4 anos, que nos finais de semana, vem os familiares dançando funk e dançam juntos como se tudo aquilo fosse normal. Que pouco ou não mamaram no peito, que aprenderam a dormir sozinhas cansadas de chorar, que apanham e são humilhadas das mais variadas formas.
Eu escolhi um caminho diferente para criar meu filho e tenho medo deste mundo aí fora. Parece que as coisas pioram a uma progressão geométrica. Meu filho que vai a uma escola em que se preserva a infância, com alimentos naturais, tecidos naturais, músicas com instrumentos clássicos, que conectam a criança às estações do ano, às fases da lua. Com vaca, pato e galinha, fazem pão toda semana como um ato sagrado. Rezam para os anjos, fadas e gnomos. Aprendem a respeitar todas as formas de vida, de todos os reinos. Aprendem a fazer utensílios domésticos, instrumentos musicais, a tecer, bordar, cozinhar, plantar, esculpir.
Aqui em casa cantamos mantra, a TV não é mais ligada, sempre me retiro ou evito festas com músicas de qualidade duvidosa. Meu filho não chupa chupeta, consome alimentos orgânicos, quase não ingere açúcar, nunca experimentou refrrigerant e nunca recebeu um tapa.
Às vezes sinto que estamos vivendo uma bolha e não quero sair dela. Quero que meu filho continue a acreditar que o mundo é belo, porque, apesar de tudo, ele é. E cada dia me sinto com mais vontade de largar tudo e morar em uma comunidade alternativa. Uma vez eu li que a atitude mais ambientalmente correta não é pensar no mundo que deixaremos para nossos filhos, mas sim, o filho que deixaremos para o mundo.
Neste dia das crianças eu faço minha prece a todas as crianças que diarimente têm sua infância roubada, seja a margem do sistema, seja inserido nele que um dia possam traçar escolhas diferentes. E do fundo do meu coração desejo que cada pai pense no filho que deixará para o mundo.
Foto: Kalu Brum