Sempre ouço esta máxima: não sou menos mãe porque não tive meu parto normal, porque não amamentei meu filho, porque não tive leite, porque deixei chorar, porque contratei uma babá para cuidar dele etc.
Este tipo de comentário me parece uma defesa para algo que ainda tem uma cicatriz ou estranhamento de confronto com uma realidade absolutamente diferente. No mundão de meu Deus, a boiada não questiona os motivos das cesáreas e algumas até preferem "se livrar" da dor.
Não se informam e, de fato, não faz diferença para elas o modo como os filhos chegarão ao mundo, se vão ou não ficar em alojamento conjunto, se tomarão ou não vitamina k, nitrato de prata e mil outras intervenções. Bem da verdade é que elas nem sabem o que acontece, se são procedimentos necessários ou não. O diferencial está nos enxovais e carrinhos, entre outras coisas que se pode comprar rapidamente na esquina. Afinal, todo mundo sobrebiveu com isso, para que tentar o diferente?
São mulheres que não buscam informações para amamentarem seus filhos e na dor da amamentação "a tal pega errada" desistem e dão uma mamadeira. Ou nem amamentam para o peito não cair. Se orgulham que os filhos dormem a noite toda sozinhos. Encontram profissionais afim com suas mentalidades: meu filho não estava engordando por isso demos NAN. Não buscam uma segunda opinião. Outras ainda contratam uma babá/enfermeira para passar a noite com o bebê para que possam ter uma boa noite de sono. A maioria nem sabe que NAN é leite de vaca.
A grande maioria educa com tapas e gritos e acha que ninguém morreu com isso, que trauma todo mundo passa.
Estas mulheres realmente não são menos mães. Elas oferecem o que tem para oferecer. Elas não se permitem questionar o que está estabelecido na sociedade e dentro de si mesmas. Seguem um passo de uma boiada que caminha na mesma direção seguindo os desejos de um mundo capitalista.
Conheço histórias lindas de mulheres que depois de uma ou duas cesáreas conseguem seu parto normal humanizado. Mulheres que peitam a família e no segundo filho trocam de pediatra porque aquele outro mandou dar chazinho e papinha com 3/4 meses. Elas sabem da importância do aleitamento exclusivo até 6 meses e prolongada até quando "quiserem" e superam a si mesmas. Muitas mães trabalham o dia todo, gastam tempo a tirar leite no trabalho para que seus pequenos não precisem beber leite de outro animal. Mulheres que mesmo cansadas, com mais filhos, não acham que é normal deixar o bebê chorar para aprender a consolar-se. Mulheres que repensam suas vidas e abrem mão de um trabalho das 8h às 18h, para ficar mais tempo com a criança, valorizando o que é essencial: a presença.
Definitivamente me sinto caminhando em direção contrária, como muitas de vocês. Não sou mais mãe porque pari meu filho em casa, porque o amamento até hoje com 2 anos e meio ou porque nunca o deixei chorando a noite para conquistar a minha noite de sono. Mas sou melhor do que eu mesma, porque sei que estas conquistas são fruto de uma dedicação intensa e transformadora.
Só eu sei como tive que enfrentar os fantasmas de nunca mais conseguir trabalhar, ou os monstros de que algo acontecesse de errado no parto em casa. Só eu sei o quanto me superei quando não ouvi a voz do diabinho dizendo: dá uma chupeta para ele não chorar? que tal uma mamadeira para ele dormir mais? E hoje sei que sou melhor do que eu era, porque segui minha intuição, destrui todas as referências comuns de maternagem para buscar a minha própria, mais humana e natural.
Sempre lido com olhares reprovadores quando saco o peito e amamento uma criança que anda e fala ou quando defendo o não uso da chupeta, a importância da febre. São as informações e a minha intuição que me fortalecem para seguir contra a boiada, a vir aqui dar a cara a tapa para defender o que eu acredito com a profundidade do meu ser. Não é fácil se sentir uma ET a maior parte do tempo, mas vale a pena.
Eu nunca pensei em ser mãe, mas quando Deus me concedeu a dádiva desta tarefa, eu busquei o melhor que tinha para oferecer, que é parte da construção do meu ser. E acredito que cada mâe faça o mesmo.
Para a grande maioria seguir o que se tem de referência é o único caminho e quando se defrontam com uma realidade diferente, se defendem. E sempre com a mesma frase: não sou menos mãe... E a história recomeça.
Foto: Paula Lyn