
Já não é a primeira vez que nos sugerem, por meio de comentários, 'pegar mais leve' no jeito de dizer as coisas, não 'radicalizar' tanto, tentar colocar as coisas com mais delicadeza e empatia, para não ferir suscetibilidades, não afastar leitoras que tenham valores totalmente diferentes dos nossos e que, quem sabe, por ventura um dia, talvez, em um futuro não tão próximo assim, possam vir a ser conquistadas pelas idéias mamíferas, e 'mudar de lado'.
Eu vou dizer como penso, já deixando claro desde o princípio que a opinião é minha, pessoal. Se minhas companheiras Kalu e Kathy assim entenderem que devem fazer, podem discordar nos comentários, ou em textos próprios publicados posteriormente. Agora, vou dizer o que penso.
Nós não falamos para todas, não. Não falamos para qualquer mulher. E digo isso sabendo que muitas vão me ler e achar essa afirmação arrogante, prepotente e tudo mais. Mas é fato. A gente fala para um tipo específico de mulher, de mãe. Não temos a pretensão de falar para todas, muito menos de agradar a todas, algo que seria praticamente impossível.
Aqui, não falamos para mães que são felizes com suas cesáreas por cordão enrolado, falta de dilatação, bolsa rota, bebê grande demais, ou seja qual for a desculpa esfarrapada do momento. Não falamos para mães que acham que dar mamadeira não é nada de mais, e que amamentação é legal, na teoria, mas na prática, não é pra qualquer uma. Não falamos para mães que acham que é bacana marcar uma cesárea eletiva para estar lindona na hora do parto, com escova tinindo e unhas feitas. Não, definitivamente, nós não falamos para essas mulheres.
Notem que não estou dizendo que essas mulheres não devem nos ler, nem que não sejam bem-vindas por aqui. Nosso blog é aberto, está aí pra quem quiser entrar, comentar, discutir e estar à vontade (desde que respeitados os limites da cordialidade e do respeito de que já andamos falando aqui). Só estou dizendo que essas mulheres não serão contempladas em nossos textos. Não se verão representadas em nossas palavras, não encontrarão eco, não receberão colo.
Minha querida Kalu tem uma frase ótima, de que gosto muito: pé de caqui não dá limão. Acho que isso diz tudo. O mamíferas é um blog comprometido com a maternidade ativa e consciente, com o parto natural, com a amamentação, com o attachment parenting, com o respeito ao tempo da criança. Essa é a nossa linha, é a nossa bandeira. Não adianta vir aqui ler o que a gente escreve e esperar empatia e compreensão com cesáreas agendadas, bebês desmamados precocemente.
Gente passando a mão na cabeça de quem teve uma cesárea por motivos infundados é a coisa mais fácil de encontrar. Tem por aí, aos montes. Aliás, é o que mais se ouve: "se o parto não foi normal, paciência, o importante é que o seu bebê está bem!!". A mesma coisa com amamentação, e com tantos outros temas que tratamos aqui. Pra quem quer uma opinião dentro do status quo, há infinidades de blogs, sites e espaços por aí.
O mamíferas não é mais um, entre tantos. Não é pra falar das mesmas coisas, e do mesmo jeito que já se fala por aí. Se fosse, não faria sentido mantê-lo no ar, trabalhar para que ele continuasse crescendo e ganhando espaço. Nossa diferença é nossa força.
Aqui, a gente acolhe, sim. Acolhe quem passou por uma cesárea desnecessária e quer pensar a respeito, elaborar, encontrar respostas e novos caminhos. Acolhe quem não conseguiu amamentar e sabe que poderia ter sido diferente, acolhe quem se dispõe a pensar sobre as próprias experiências, acolhe quem sabe que não vai ser perfeito, porque nada é, mas está sempre disposto a fazer o melhor, a questionar, a sair da zona de conforto, a ir adiante, a ir mais fundo.
Então, realmente, não falamos para todas. Nossas portas estão abertas. Como já escrevi em outro texto, não fazemos 'check list' pra selecionar leitoras. Quem estiver a fim de chegar, 'puxar uma cadeira' e começar um papo, será muito bem vinda, sempre. Mas temos o nosso estilo, não douramos a pílula, não fazemos rodeio. Aqui, a gente diz o que pensa. Não acho que seja um defeito.
Aliás, arrisco dizer, sem falsa modéstia: pra mim, essa é nossa maior qualidade.
Imagem: http://ceaia.wordpress.com