por: Maurício Brum - Pai mamífero convidado
A paternidade sempre me foi algo distante e, por muitos anos, algo bastante improvável de acontecer. Tanto o foi que em meu primeiro casamento decidimos não ter filhos. Hoje vejo que fui protegido pela sorte ao não ter tido filhos nesta união. Era demasiado novo e focado no meu umbigo, preocupado com a profissão, formação adicional e voltei a querer mesmo era ‘aproveitar’ a vida de solteiro resgatada. Conceitos, meros conceitos, que a vida vai pulverizando, removendo, remodelando, recriando e reinventando.
Neste período, entre a separação e hoje, sempre investi muito em algo pouco comum no universo masculino – o autoconhecimento por intermédio de terapias, cursos e qualquer ferramenta nova que aparecesse e que demonstrasse um conteúdo de caráter “busca do Ser".
Aos dezessete anos havia lido a trilogia de Hermann Hesse (Demian, Lobo da Estepe e Sidarta) e acabei me fazendo aquelas perguntas básicas sobre o ato de estar nesta vida e as respostas foram demoradas, mas vieram. E causaram terremotos, revoluções e acontecimentos tais que foi ficando difícil encarar a vida com aquele nível de simplicidade superficial retratado pelos anúncios da cerveja Skol, se é que me entendem.
Mas aí, bem antes mesmo de conhecer a Kalu, começou a aparecer nos trabalhos terapêuticos a presença da família: Eu, mulher e um filho, já era um menino, já era o Miguel. Tanto foi assim que quando a Kalu me contou que estava grávida, eu, respeitando os feelings dela, perguntei: O que você acha que vai ser? E ela, do alto de sua certeza, confirmou: Um menino, sem dúvida!
Foi um elixir balsâmico em minha vida . Eu havia mudado de emprego e me arriscava numa carreira solo com minha própria empresa e sabia que esta era a hora. Hora certa que chega para quem se respeita, se questiona, avalia, procura novos ventos ao invés de navegar na correnteza da ilusão gerada por uma vida de cordeiro, obedecendo e repetindo tudo o que alguém já disse e adotando estas como mensagens verdadeiras.
Mas havia algo a ser buscado, algo ainda ausente, algo que às vezes doía alma e coração. E doía por não ser sentido, pois este algo era o amor. Ter amor para poder doar amor, afinal, este é o único bem que quanto mais se doa mais se tem, só que ele foi ficando meio cafona....até se saber resgatar do meio comum dos temperos Sazons da vida e buscá-lo no próprio interior e poder fazer do coração a morada de minha maior luz, meu amor interior.
Quando o Miguel chegou, eu achava que estava pronto, que nada. Foi preciso vê-lo, carregá-lo um pouco, senti-lo, mordiscar, cheirar e lamber a cria ‘n’ vezes, para poder constatar que era um movimento crescente em uma espiral sem fim.
A cada dia surgia uma nova luzinha no olho dele, algo captava sua atenção e a minha ia junto. E acompanhar estes passos foi nos aproximando, nos aclimatando e, quando menos se espera, ele tinha uma casa que o respirava, que o sorvia, que se enchia de sua alegria, de seu risos, gritinhos, falas estranhas e incompreendidas, que hoje já são claras, diretas e pessoais que quase assustam, mas enchem o coração com o prazer da surpresa e da criatividade dele. E aí me vi jorrando de amor.
Ser pai de uma criança como o Miguel tem sido para mim a maior das alegrias, pois junto com ele e ratificando tudo que eu buscara e pensara, veio junto uma incomum mãe, a Kalu.
É indescritível a sensação de tê-lo por aqui, sorrindo, mostrando sua personalidade, sua imensa alegria, sua beleza e postura. Creio que a maioria dos pais curte muito este momento. Mas creio ter curtido mais que muitos. Eu o vi nascer aqui em casa e cortei seu cordão. Eu pude lhe dar o 1° banho junto à mãe menos de uma hora após sua chegada. Eu pude acolhê-lo também por toda sua 1ª noite aqui, onde todos nós 3 dormimos e acordamos super bem. Desde então o vejo descer as escadas com um belo sorriso, aquela alegria peculiar. Quase todos os dias ainda pude: almoçar e passear com ele nesta hora, ver como ele cresceu dia após dia, participar de suas descobertas e aprendizados.
Eu o vi engatinhar e agora o vejo a correr e a chutar bola, pular! Mais que tudo, eu o vejo a alegrar esta casa, a nos unir mais ainda como casal, a me encher de orgulho de me saber seu pai, a quem ele poderá sempre contar.
Cada vez que o abraço há um sentimento novo vibrando, gritando dentro de mim. Realmente estão sendo os diferentes melhores dias de minha vida. Sinto-me 500 vezes melhor, mais humano, mais amoroso, mais apaixonado por eles dois e mais grato ao criador por ter me presenteado, ter me agraciado, ter me iluminado o caminho construindo uma família.
Hoje, não consigo nem mesmo tentar imaginar minha vida sem estes dois. Como goiabada com queijo, para nós mineiros! É um estar completo.
6 comentários:
Muito legal!
É muito bonito ver pais assim tão dedicados a criação dos filhos. Essas crianças com pais assim tem muito dharma!
Sobre essa busca do Ser, esse autoconhecimento (tão importante e ao mesmo tempo tão esquecido). Meu marido também sempre investiu muito nisso. E foi assim que conhecemos a Gnosis, antiga escola de mistérios. Escola de regeneração. O homem em busca de seu Ser.
Sempre achei que a Kalu combinava muito com esses conhecimentos. Agora acho mais ainda! ;)
Fica a dica: www.ageacac.org.br
Beijinhos,
Lívia mamãe do Uriel (quase 15 meses)
Parabéns ao pai!lindo! lindas palavras...mesmo muito! poucos homens têm á vontade para escrever coisas assim vindas do coração. Adorei! Quem está aberto ao universo consegue realmente perceber a dádiva que é ter um filho.
Beijinhos para voçês!
Adorei Mauricio...
Mas Kalu, nao fica deixando um marido tao foda assim ficar escrevendo assim nao, senao a mulherada vai querer roubar!
Parabens aos dois por serem tao especiais. e a vc, Mauricio, em especial por nao ser um mais um mero assistente de futebol regado a cerveja..
Bjks
"Parabens aos dois por serem tão especiais. E a vc, Mauricio, em especial, por não ser um mais um mero assistente de futebol regado a cerveja..."(2)
Lindo post, linda essa tua visão.
Parabéns!
Fada_Lin,Obrigado pelas palavras e pela dica;
Kel, mamãe Dydy e Paty,Um Obrigado do coração, o mesmo que escreveu;
Cacau, Obrigado. Só fico chateado pelo termo "sua visão"....seria muito melhor se fosse a visão de muitos, como taí a turma da cerveja prá nos contrariar, esta sim com muitos adeptos rsrsrsrs
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