Tem gente por aí sonhando que para ser mamífera é preciso deixar a maquiagem na gaveta, as belas roupas nas vitrines, a vaidade no armário, a sexualidade no porão, vestir uma capa de gordura, um cabelo desleixado, largar o trabalho, deixar o peito cair, não passar desodorante, aplicar perfume de ocitocina, fazer ginástica de dedo para apontá-lo fundo para outras mães.

Lembro do meu banho, pós-parto, em que me sentia vitoriosa cheia de poder, repleta de ocitocina. Um delicioso banho morno que foi seguido por vários cremes, assim como fiz durante a gestação. Olhei no espelho, passei um batom ajeitei o cabelo, escolhi uma roupa bonita e desci para ficar no sofá de casa, enquanto as enfermeiras terminavam de arrumar a casa.
No dia seguinte, ao acordar depois de uma deliciosa noite de merecido sono, passei base no rosto, blush, batom para receber as pessoas que chegavam. Escolhi uma blusa que facilitava a amamentação.Estava linda para receber minha família, cheia de disposição para fazer um cafezinho e entusiasmo a contar da linda trajetória do nascimento do meu menino.
Vinte e sete dias após meu parto, a atividade sexual voltou a estar presente aqui em casa. Afinal, a vida de casada começou junto com a maternidade, e o fogo do início de casamento não esfriou com o nascimento. Me sentia ainda mais apaixonada por aquele homem que me permitiu parir e foi um grande suporte para que vivesse plenamente os primeiros meses da maternidade. Por sorte, podia dormir junto com meu pequeno, várias vezes por dia. Isso garantia uma grande demanda de leite e disposição para cuidar de mim, dele e sobrar energia para namorar bastante. Miguel foi um bebê tranqüilo que quando não estava dormindo, mamava, mas que já nas primeiras semanas já dormia 4 horas seguidas na madrugada.
Com 30 dias, comecei a praticar caminhada, com Miguel no sling, na mata que circunda minha casa e comecei a receber uma manicure que vinha aqui em casa quinzenalmente. Com dois meses comecei a ir para o salão na cidade, com Miguel no bebê conforto e fazia um verdadeiro malabarismo, para dar de mamar, enquanto fazia as unhas, arrumava o cabelo e depilava.
Foi com 47 dias que fiz minha primeira viagem de avião com Miguel,seguidas de muitas outras de carro. Recém-nascido é uma delícia porque não precisa de nada mais que peito e sling. Viajamos para praia, para a Bahia, para cachoeiras. A limitação existe, na minha opinião, muito mais na cabeça do que necessariamente com a vida com o bebê.
Aos 8 meses, voltei para Yoga para eliminar os quilos a mais que ainda não tinha perdido da gestação. Era uma delícia sair algumas poucas horas e me permitir estar comigo mesma. Trazia-me uma renovação incrível.
Recentemente lancei-me em um novo desafio de eliminar definitivamente 10 quilos. Com um meninão de 3 anos, podia agora pensar em mim sem prejudicá-lo na amamentação. Fiz uma dieta de reeducação alimentar e comecei a correr diariamente, 50 minutos. Miguel vai para escola pela manhã e nestas quatro horas que tenho disponível, corro, medito, trabalho.
Aliás, nunca deixei de trabalhar. Tive a sorte de ter uma licença maternidade e salário fixo até Miguel ter um ano de idade. Trabalho esse que realizava de casa, com algumas idas a São Paulo com períodos curtos que ficava fora de casa.
Hoje posso dizer que nunca me senti tão bonita, que nunca lidei com uma vaidade profunda de uma feminilidade bem resolvida. Tenho a beleza dos 30, com o perfume da maturidade. Voltei a caber nas calças 38, coisa que há 10 anos não vestia. Com a corrida, ganhei pernas torneadas, barriga durinha, que a gestação deixou duas pequenas estrias finas que me lembram com orgulho de um tempo de uma barriga cheia. Meus seios, que ainda amamentam, mas que recebem creme contra a flacidez, continuam firmes e fortes, me permitindo até mesmo usar blusas sem sutiã, assim como fazia quando tinha 18 anos.
Ao mesmo tempo a maternidade me abriu portas para novos projetos. Hoje sou doula, fotografo gestantes e vislumbro um novo mercado com novas fontes de renda. Sem contar que continuo trabalhando para uma grande empresa de cosméticos para a qual faço um blog de beleza. Além disso, estou envolvida em muitos outros projetos como livros, sites sobre espiritualidade, programas sobre meio ambiente.
A maternidade nunca me limitou. Muito pelo contrário. Para mim foi a maior lição espiritual e humana que jamais ousei imaginar que seria tão profundo. Me abriu portas e janelas para mundos desconhecidos e fortaleceu ainda mais aquilo que acreditava. Através do meu nascimento como mãe, nasci mais mulher, mais bonita e segura. Minha vida sexual tornou-se ainda mais intensa e profunda, como todas as outras coisas da minha vida.
Aprendi a aproveitar mais meu tempo, minha mente se tornou mais focada, meus textos mais poéticos. Não foi a maternidade, mas sim como me permiti me transformar por ela, assim como fiz com a maioria dos eventos intensos da minha jornada humana.
Hoje posso dizer que sou uma mamífera perua, que pariu de parto natural, usa maquiagem, roupas sensuais, permite-se viver uma sexualidade plena, corre pela floresta, faz progressiva no cabelo, trabalha mais do que nunca transformando sonhos em projetos, dá de mamar orgulhosamente para um menino de três anos com peitos firmes e abertos para dizer que a limitação mora dentro da cabeça e quando ela se vai, quem nasce é a liberdade de mãos dadas com uma felicidade indescritível.
E você, como a maternidade te fez melhor?
Fotos do arquivo pessoal