por: Socorro Moreira, mamífera convidada
De manhã cedinho meu caçula de três anos e meio sai da caminha dele abraçado ao lençol e entra no meu quarto. Ao pé da minha cama, fala baixinho no meu ouvido enquanto põe o lençol ao meu lado e inicia a subida: Mamar peito! Diz ele. rsrs.
Ele tem três anos e meio. Estamos no finzinho desse processo (amamentar). É um dos últimos acordos de desmame entre nós: que ele só mama pela manhã.
É o segundo filho que eu amamento. O primeiro, hoje com nove anos, mamou dois anos e meio. E eu lembro que comecei a reduzir e regrar os horários das mamadas quando ele tinha perto de dois anos. E ele mesmo, espontaneamente foi abandonando as mamadas que deixei ficando apenas uma pela manhã, que eu negociei com ele na época que a gente ia parar quando eu tirasse férias. Expliquei pra ele que ia ficar em casa por muitos e muitos dias e ele topou. O que foi muito difícil entre eu o e mais velho, foi começar a regrar as mamadas. Ele ofereceu muita resistência a não ter mais o peito a tempo e a hora. Mas depois que aceitou que tinha hora e lugar, o resto do desmame correu por si.
E Juliano tem mais de três anos e ainda mama??? Sim. Ainda mama. Como dizem: Para cada filho uma mãe. E o processo de desmame dele, tem sido tão diferente do processo do outro filho como eles são diferentes entre si, e como eu sou diferente como pessoa agora, e como eu sou diferente como mãe.
Juliano aceitou com uma certa facilidade, a organização das mamadas. No entanto, tem oferecido resistência a retirada das mamadas que restaram. Esse último acordo por exemplo, só consegui fazer cumprir depois de algumas noites com ele choramingando e alguns dias ficando num cantinho “chateado”(como ele mesmo dizia). E eu por minha vez, mantive minha firmeza mas tentei estar com ele tanto nas noites de choramingo quanto nos dias de “chateação”. E passou.
Eu pretendia fazer um desmame completamente natural. Pretendia deixar que ELE se desinteressasse completamente pela mama, pretendia manter a relação da gente assim, até quando ele ME desmamasse.
Eu pretendia fazer um desmame completamente natural. Pretendia deixar que ELE se desinteressasse completamente pela mama, pretendia manter a relação da gente assim, até quando ele ME desmamasse.
Mas o tempo passa, o tempo voa e a Poupança Bamerindus continua numa boa...e eu mudei minha decisão. No final das contas, eu percebi que gostaria que o desmame viesse dele, mas esperava que ocorresse mais cedo. Como demorou mais do que eu esperava, eu decidi que teria que partir de mim.
E comuniquei isso a ele. Tive uma conversa com ele me fitando com aqueles grandes olhos castanho-escuros e de cílios longos enquanto lhe dizia que eu não queria mais dar peito a ele por muito tempo e que eu queria que ele deixasse de mamar. Expliquei ainda que como eu percebia que ele gostava muito de mamar, a gente ia parar aos poucos. Enfim, avisei que íamos desmamar.
Ele passou alguns dias dizendo: Eu e minha mãe estamos desmamando. Como se soubesse o que estava dizendo. E no início, aceitou que eu adiasse algumas mamadas e suprimisse outras.
Ele passou alguns dias dizendo: Eu e minha mãe estamos desmamando. Como se soubesse o que estava dizendo. E no início, aceitou que eu adiasse algumas mamadas e suprimisse outras.
Entretanto, acredito que só agora recentemente, quando eu tive outra conversa dizendo que ele não mamava mais á noite, nem pra dormir, só pela manhã foi que ele ofereceu resistência porque percebeu realmente que a relação da gente VAI MUDAR. E vai mudar logo. Uma vez, acordou contando um sonho que Mário (o irmão mais velho estava mamando em mim de pé) e eu entendi que ele estava com medo de perder isso comigo para eu dar pro irmão. Quando conversei com ele, a coisa fluiu um pouco melhor.
Mas entendo que meu papel agora, é ajudá-lo nessa transição. Inicialmente, eu pretendia tirar essa única mamada, tão logo ele aceitasse a regra. Mas recuei. Talvez faça como com o irmão dele, e aguarde as férias do trabalho e uma maior presença em casa pra mudar assim nossa relação.
De qualquer maneira, continuo respondendo a quem me pergunta se ele ainda mama com um: Sim. Muito pouco, mas ainda mama. Porque sei que não é um estado definitivo, porque sei que estou/estamos a caminho da mudança dessa relação e porque sei que por mais críticas que receba, é o meu feeling e minhas decisões quem determinam a melhor hora para NÓS para esse desmame. Tem sido um desafio, tem sido um aprendizado, tem sido um momento de reflexão. De como cada filho é um universo, cada processo é único.
Imagem: www.gettyimages.com.br
6 comentários:
Oi, Socorro!
Você precisa conhecer a minha mãe. Tenho 5 irmãos e, se bem me lembro, todos largaram do peito próximo aos 03 anos, alguns mais cedo, alguns mais tarde.
Eu fui o caçula por 05 anos, e por 05 anos eu tive tudo o que eu sempre quis. Preciso confirmar com a minha mãe quando eu exatamente desmamei, mas creio que foi nesse ritmo mesmo: 03 anos e meio pra cima.
Lado negativo não tem, pelo menos não conheço nenhum.
Lado positivo: eu me sentia criança por mais tempo. Enquanto todo mundo corria pra se matar nas brincadeiras de pic-pega, eu mamava. Não tenho o que reclamar da minha amamentação.
Se você acha que o ritmo do caçula é aos 04 anos, então que seja aos 04 anos, mas uma coisa que eu não recomendaria era ter o pensamento de "ele esta atrasado para desmamar pq o outro desmamou aos 02 anos". Como você mesmo disse, "cada filho é um universo", então deguste dele o máximo que puder. Tenho certeza de que ele esta degustando o máximo que pode. =)
Abraços,
Victor Samuel Bueno Rosa.
Socorro, que bacana ler seu texto! Por coincidência, escrevi sobre o "MEU" desmame (rsrs) no meu blog (www.aprendiz-de-mae.blogspot.com) esses dias... é muito bom ouvir a experiência de outras pessoas, ainda mais uma experiência como a sua, diversa de acordo com o seu momento como mãe e mulher e com cada um dos filhos. Uma experiência e tanto. Gostei muito do texto.
bjs
thaís
Socs querida, sempre um prazer tão grande te ler. Saudade, saudade, saudade.
Socorro, que lindo seu texto! Gostei muitos das reflexões.
Tenho pensado um pouco nessa coisa do desmame sabe. Tenho tentado aguçar minha intuição e meus laços com meu filhos (com 1 ano e 6meses) pra que a gente caminhe juntos por esta estrada. Porque o que tento evitar é que o desmame seja algo unilateral, como em geral acontece. Com 95% é a mãe que decide (é um chute meu, mas acho que a porcentagem deve ser esta pra maior) e os restantes é o bebê/criança que decide.
Penso que as duas vias são unilaterais e que a amamentação é parceria MESMO! Tem que estar todo mundo satisfeito. Idealista? Pode ser... mas acho que a sua opção pelo acordo é a mais democrática!
Adorei saber que dá certo!!!
Beijos, Yuri (mãe da Yasmin 3 anos e Hugo 1 ano e 6 meses)
Socorrinho, minha linda.
acho que é bem por aí, mesmo. a gente muda, e que bom, não? que bom que a gente pode rever conceitos, reinventar caminhos, descobrir possibilidades. essa é a grande maravilha da vida...
aqui, o desmame foi natural e muito tranquilo, então eu sei que isso é possível sim. basta ter amor, carinho, paciência e disposição. tudo o que vc demonstra ter de sobra!!
bjo flor!
Oi é a primeira vez que entro nesse blog. Tenho 2 filhos (3 e 1 ano) e sempre quis amamentar por muito tempo. O mais velho com 9 meses não quis mais, já mamava mamadeira e um dia fez cara de nojo e nunca mais pegou o peito. O segundo tiramos na marra com 3 meses e meio, foi a pior coisa na minha vida, ele teve uns problemas de esofagite e não conseguia mamar no peito, tbm não queria mamadeira, foram dias em que eu sofri e chorei demais. Nào fique preocupada com tempo segundo uma pesquisa canadense com um n bem grande, crianças que foram amamentadas por mais de 2 anos tiveram desempenho na faculdade superior ao grupo que mamou menos.
Parabéns por vc amamentar até hoje!
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