por: Suzana Siqueira - mamífera convidada
Hoje em dia, às vezes páro para pensar em como mudei desde a gravidez. Não tenho pré-conceitos de quase nada mais, mas sim muitos conceitos formados.
Antes de ser mãe, eu tinha uma idéia totalmente diferente de como iria educar meu filho. Na verdade, a única certeza que tinha é que teria um parto normal e iria amamentá-lo até os dois anos.
As coisas começaram a mudar quando vi que minha gestação acabaria em uma cesariana, por causa do diagnóstico de placenta prévia. Pronto. Theo nasceu de cesareana. Depois disso, minha única outra certeza começou a desmoronar: a amamentação. Eu tinha bicos invertidos, e já sentia medo de que o Theo não conseguisse sugar direito, mas que nada! O bezerrinho pegou direitinho! Mesmo com dor, fomos nos acertando, e em poucos dias as dificuldades viraram águas passadas.
Foi quando veio outra surpresa: Theo desistiu da mama direita. Totalmente. Só queria mamar no peito esquerdo. Não houve truques, simpatias ou benzedeiras que o demovessem dessa idéia. Logo começaram os palpites "felizes" de quem não tem nada mais para dizer. Era ir ao pediatra que logo vinha: "Ele tá mamando direito? O quê?! Só numa mama?! Vai ter que dar um complemento." E meu filho com um mês de vida, e quase 6 quilos!!!
Havia ainda outro ponto em que não estávamos nos acertando. Theo chorava muito e queria muito peito. Uma coisa que nunca concordei e sempre disse que nunca iria fazer era pôr filho para dormir na cama dos pais. E isso virou uma coisa louca dentro de mim. Eu já era uma mamífera e não sabia. Então, sofríamos os dois: eu, porque queria colocá-lo ao meu lado, dormir juntinho, amamentar o dia inteiro, mas meu lado racional (anos de condicionamento mental) dizia que não, que isso o deixaria mimado, mal acostumado. Com isso, fui ficando estressada, e com medo de que meu leite secasse. Ele, por outro lado, sofria porque queria ficar comigo o tempo todo, e eu insistia em tentar condicioná-lo com meus argumentos racionais.
Esse "desconcerto" se manteve até o momento em que deixei rolar meu lado mais instintivo. Da mesma maneira que eu tinha certeza de que meu corpo daria conta de alimentar meu filho, mesmo que com apenas uma mama, também me permiti ser uma mãe que volta atrás em suas (in) certezas e reconhece que não será isso que a enfraquecerá, muito pelo contrário.
Com essa nova atitude, consegui amamentá-lo exclusivamente até os seis meses somente com o peito esquerdo. Depois disso, ele foi exclusivo até os sete meses pegando os dois, mas o direito somente enquanto dormia. Sim, fiquei com um seio maior do que o outro, mas quem se importa com isso quando vê que o filho chegou aos sete meses com quase dez quilos, super saudável e ativo?
E foi assim que construímos nossa história de descoberta mútua, aprendendo um com o outro. E assim continuamos, felizes com a amamentação até dois meses atrás, quando de comum acordo, e sem sofrimento, nos desmamamos.
???
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
3 comentários:
Que texto lindo! Nada como se assumir mamífera para ganhar fãs leitores. Parabéns pelo espaço, pelas mulheres que o representam e muito sucesso! Também temos um cantinho na web, chamado Desabafo de Mãe e será um prazer imenso recomendá-las. Bjkas
Olá, Suzana!!! Como me vejo na sua história... mas as decepções me tornaram uma mamífera mais forte... vi que as coisas podem nao ser como planejamos e darem certo... Hoje vejo que, em vez do pranto que deixei rolar no momento em que precisei de uma cesariana, deveria ter chorado, em vez disso, por uma alegria intransmutável, que é a de ser mãe... vi tb que o fato de amamentar com leite de vaca minha filha muito precocemente por causa de uma cirurgia plastica na mama, fato que quase me destruiu por dentro, não a matou e nem fez mal, pois tem otima saude... nao faço mais planos, mas deixo as coisas acontecerem da forma mais natural possivel, sem expectativa e, assim, nos entendemos muito, só de olhar... obrigada por compartilhar sua experiencia...
Adorei o relato. COmigo tb o parto não foi do jeito que desejava, mas a amamentação deu certo. Minha bezerrinha mamou até 2 anos e meio e, embora eu tenha ajudado bastante no processo de desmame, regrando e reduzindo aos poucos, ela só parou de vez porque quis.
A ideia da cama compartilhada tb aconteceu comigo depois de algum tempo. Sempre pensei que não era uma boa, nos primeiros meses, mesmo com o coração apertado, minha filha dormia no berço. Mas depois de um tempinho, acho que quando ela tinha uns 6 meses mais ou menos, a gente com menos medo de "amassá-la", e tb por causa da amamentação (não dá pra amamentar 2 anos à noite sem dormir com a criança, acho que ninguem aguenta), ela passou a dormir com a gente. Há algumas semanas pediu pra dormir no quarto ela, fizemos alguns ajustes - era um quarto de bebê - pra acomodora uma menininha de quase 3 anos, e ela está dormindo sozinha e feliz desde então.
QUem diz que deixar filho dormir na cama com a gente é acostumar mal não sabe de nada!
Beijo
Renata
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