por: Ana Lúcia Keunecke - mamífera convidada
Fico muito feliz de poder escrever aqui. Parabéns mamíferas pela iniciativa e pelo cuidado diário com esse espaço que faz um mundo melhor.
Eu só pude ser mãe depois de ser mãe! Se pareceu óbvia a afirmação, explico a frase. Conheci meu marido, o João, em 1998. 16 anos mais velho do que eu, ele já era separado e tinha dois filhos do primeiro casamento: o Maurício e a Marina. Por alguma razão eu encarei essa informação com muita naturalidade, em que pese afirmar que eu nunca me relacionaria com um homem que fosse mais velho, tivesse ex-mulher e filhos. Mas com o João foi diferente, e conhecer o Mau e a Má fez meu coração perceber que ainda havia muito espaço para o amor.
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Com 45 dias de namoro eu e o João fomos morar juntos na casa da minha mãe. Meses depois estávamos num apartamento onde tinha um quarto para as crianças, que ficavam conosco todos os finais de semana e, às vezes, durante a semana também. Em 2000, após o casamento formal, os meninos também tornaram definitiva a moradia conosco e, em 2001, após um dolorido processo de Guarda Judicial, ficou formalizado que o lugar deles era com o pai e comigo.
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E, desde a chegada deles em minha vida, tudo se transformou. Muitos nomes foram dados a mim no início da relação: boadrasta; mãe-cover; mãe 2; mãe torta; rs... Mas nunca importou o nome e sim a consistência da nossa convivência.
Com o Maurício e a Marina eu aprendi a delicadeza do amor. O amor construído, cuidado, ceifado dia a dia. Com o Mau e a Má eu aprendi que a vida é feita de pequenos detalhes de atenção, carinho, conversas e dedicação. Com os dois eu aprendi que não precisava parir para ser mãe, porque nossa relação é de mãe e filhos, mas que se escolheram no amor, na construção diária de uma relação que vale a pena.
É claro que tivemos percalços (não menos diferentes dos conflitos que existem entre mães biológicas e seus filhos).... afinal, somos 04 gerações diferentes convivendo diariamente, mas todos os obstáculos superados se transformaram numa deliciosa vitória onde sempre o ganho foi por uma vida mais inteira e certa.
Quando fomos morar todos juntos, o Maurício tinha 11 anos e a Marina tinha 09. Hoje o Mau é um homem de quase 20 anos e a Má está se descobrindo mulher e tem 17 anos. São quase 09 anos de convivência diária, onde aprendi a amar, ser mãe e descobri o melhor de mim.
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E, só depois de receber tanto amor desses dois, das noites preocupadas quando eles não estavam bem, do choro compartilhado nas tristezas, de ver uma generosidade nos olhos deles que jamais pensei existir, de sentir o aperto de mão nas horas difíceis ou o beijo de agradecimento nas conquistas diárias da qual fiz parte, de ver o valor de um crescimento constante, é que pude gestar e parir a Sofia.
E, só depois de receber tanto amor desses dois, das noites preocupadas quando eles não estavam bem, do choro compartilhado nas tristezas, de ver uma generosidade nos olhos deles que jamais pensei existir, de sentir o aperto de mão nas horas difíceis ou o beijo de agradecimento nas conquistas diárias da qual fiz parte, de ver o valor de um crescimento constante, é que pude gestar e parir a Sofia.
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E foi maravilhoso! A completude de nossa família fora dos padrões. Meus primeiros filhos acompanharam toda minha gravidez intensamente; conversavam com a pequena na barriga todos os dias. Não iam dormir sem dar boa noite para aquele ser que crescia dentro de mim e que sabíamos que era parte de todos nós... E, dessa mesma forma, estiveram comigo no parto: o Mau com o medo de dar alguma coisa errada, a Má com a segurança de que tudo estava certo, e a Sofia chegando para vivenciar uma família muito especial.
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Quando nasceu a Sofia, nasceu uma nova mulher em mim, uma mulher que aprendeu o vínculo natural com a vida; que aprendeu a amamentar, e aprendeu a responsabilidade com um ser dependente.
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E, concordando com que muitos me falaram que quando eu tivesse um filho meu eu veria a diferença, eu digo que é diferente sim: com o Mau e a Má eu sempre tive a certeza que daria certo, que nada faltaria; e com a Sofia eu senti fragilidade e um medo de não conseguir. Além, é claro, das diferenças de amamentar, trocar fralda, ensinar a andar, etc... Mas só!
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O amor é na mesma intensidade. E, da mesma forma que a Sofia faz parte de mim, o Maurício e a Marina também são partes indispensáveis da minha vida.
O amor é na mesma intensidade. E, da mesma forma que a Sofia faz parte de mim, o Maurício e a Marina também são partes indispensáveis da minha vida.
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E, como a Sofia, eles estarão no meu dia a dia pro resto da vida. E, com eles, eu trago uma certeza: de que a maternidade eu aprendi antes de parir, eu comecei a aprender o que é ser mãe no dia em que eles vieram viver comigo.
É por isso que eu digo: EU SÓ PUDE SER MÃE, DEPOIS DE SER MÃE.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
3 comentários:
Que linda!
Amei o texto, você é doce!
Grande beijo
Amei o texto, Ana... Parabéns
Ana Lúcia, fui ler o seu blog, rapidamente, pra "entender" melhor sua história. Muito linda.Espero que vc não tenha voltado a fumar. Vou copiar alguns trechos do seu post pra passar para meu marido e meus irmãos e sobrinhos, que insistem em continuar com o cigarro. Li que vc prefer anos pares. Engraçado, nunca falei com minguém, mas prefiro os anos ímpares...Embora minha vida seja plena de graças, mas os pares me pesam um pouco. Bobagem nossa. Será?
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