
por: Kalu
Eu queria me calar diante de uma mulher grávida com cesárea agendada, de uma mamadeira enfiada na boca de um recém-nascido, de uma mãe que dá um safanão no filho em público. Mas eu simplesmente não consigo. Sempre me lembro de uma frase do Patch Adams: Quando a gente se cala, morre um pouco.
Eu cansei de me calar diante das pessoas com medo de ser agredida, com medo de não ser aceita. Eu prefiro falar, munida de toda a intenção de oferecer o meu conhecimento adquirido depois de tomar a pílula vermelha, para quem sabe, despertar mais um escolhido.
Nem ligo para as caras feias, o semblante assustado de mães que me vêem amamentar uma criança de 2 anos e meio e não se calam a dizer: coitada, sofre até hoje. E com um sorriso terno explico que não é sofrimento, é amor, dedicação, relação e afeto. Que meu filho não precisará consolar-se em uma chupeta para isso.
Eu não consigo ser polida quando meu filho conta que bateu em um menino, porque o menino bateu primeiro, e uma mãe, que nem conhecia, disse que ele estava certo. Agachada, olho no olho, disse: a gente não bate, meu filho. Chamamos a professora para resolver a questão. Isso na frente da mãe que elogiou o ato do Miguel.
Eu não posso ver uma grávida que sempre puxo papo. Pergunto para quando, quem é o médico, como ela está. E quase sempre escuto que ela escolheu cesárea com medo da dor. Aí conto sobre meu parto, sem anestesia, sem dor. Os olhos brilham. A ignorância conforta, mas a esperança sacode. Falo do blog, mostro a porta. E sei que só ela poderá cruzar.
Durante a adaptação do Miguel na escolhinha, conheci muitas mães e pais. Fiquei absolutamente chocada como, apesar da consciência, de buscar uma escola alternativa, seguem os passos da boiada sem questionar. Tratam com homeopatia, mas não são tão radicais, como dizem. Fazem apologia às palmadas e se chocaram quando disse que nunca bati no meu filho e se levantei a voz, com muita vergonha, foi uma ou duas vezes.
Logo ganho o rótulo de radical, de “você não é referência porque é louca”. Ou ainda tenho que ouvir, como minha irmã me disse: “Você sofre demais porque pensa demais. È só não pensar que a gente não sofre”. Eu simplesmente não consigo.
Quando a gente toma a pílula vermelha, quando a gente desvenda, dia a dia os códigos da matrix questiona, desconfia todo tempo. Questiona se o pediatra que indicou NAN não recebe ajuda da empresa fabricante. Questiona se o médico bonzinho que inventa uma razão para uma cesárea não o fez por conta do final de semana.
A gente se questiona buscando ser melhor a cada dia, busca caminhos longos de quem está correndo na contramão dos passos da boiada. As vezes é solitário, sem referência. Mas não há prazer maior do que ver despertar, mais um ser, e vê-lo cruzar a porta para fazer parte da sua turma.