por: Tata
Sempre que alguém me perguntava se as meninas ainda não iam pra escolinha, e eu dizia que ainda não, que só pretendia por lá pelos 4 ou 5 anos, era batata que logo viria o comentário: "mas é importante, criança precisa dos estímulos corretos, pra se desenvolver adequadamente...".
Eu sempre achei esse comentário muito curioso. E pra quem quisesse ouvir, eu dava a minha visão do assunto. Pra mim, criança não "precisa" de estímulo pra se desenvolver. As crianças se desenvolvem naturalmente, sem pressões, cada uma a seu tempo, no dia-a-dia.
Claro que não estamos falando de largar uma criança em um espacinho restrito e achar que tudo bem, afinal, "ela se desenvolve naturalmente". O que quero dizer é que o mundo já é estimulante pra burro, e se a gente deixa os nossos pequenos livres para explorar e descobrir a infinidade de coisinhas que os cerca, eles fazem de tudo o que esteja ao alcance das mãos matéria-prima para a fantasia, para o lúdico, para o aprendizado, a descoberta e o desenvolvimento.
Experimente deixar uma criança livre pra ver. Uma formiga caminhando pelo chão, uma borboleta voando ao seu redor, um artefato qualquer de cozinha, a luz do sol entrando pela janela e formando uma sombra curiosa na parede, um lençol embolado em um canto, potinhos de formatos variados, enfim, as coisas mais simples e cotidianas, se vistas pelos nossos olhos de adultos, são para eles um infinito de possibilidades. Eles pegam, viram, reviram, cheiram, colocam na boca, investigam, descobrem. Na cabecinha deles, impossível dizer o que se passa, e a imensidão de descobertas que estão fazendo, a cada segundo. Assim, naturalmente, sem pressão, sem pressa. Como quem olha, e vê. Essa capacidade que todos temos ao nascer, de nos encantar com cada pequeno detalhe do mundo. E que infelizmente, vamos deixando que se perca por aí, ao longo da vida, na nossa caminhada por esse contraditório "mundo dos adultos".
Aulas de música são bacanas, mas uma panela com uma colher de pau, ou um potinho qualquer em que se coloque um punhado de arroz ou feijão também pode entreter seu pequeno por horas, descobrindo as mil possibilidades de som daquele objeto inusitado. Aulas de arte podem ser interessantes, mas experimente forrar o chão com bastante jornal e deixar seu pequeno livre com dois ou três potinhos de tinta de cores diferentes. Ele provavelmente vai sair dessa aventura pintado da cabeça aos pés, e com um sorriso de orelha a orelha, contente da vida com a descoberta de um novo universo de cores, misturas, texturas. Aulas de dança talvez sejam uma experiência interessante, mas tente escolher um CD com sons diferentes, musiquinhas interessantes, e deixe seu pequeno rodar livre pela sala. Em poucos minutos, você verá aquele corpinho expandir-se pelo espaço de formas que nem você, nem a mais criativa entre as professoras de dança jamais teriam imaginado serem possíveis.
Isso, entre muitos outros exemplos. Criança precisa é de liberdade. Liberdade para experimentar e explorar. É assim que eles crescem, é assim que aprendem. Claro que, com o tempo, as atividades dirigidas que uma escolinha oferece também podem despertar muita coisa bacana para as crianças. Mas nesse comecinho da vida, explorar sem cobranças, sem direção e sem padrões ou objetivos pré-estabelecidos me parece bem mais prazeiroso, produtivo e, principalmente, divertido.
E, afinal de contas, eles têm uma vida inteira pela frente para curtir todas as coisas bacanas - e sim, elas são muitas!! - que uma boa escolinha pode oferecer.
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