
por: Kathy
Várias amigas e conhecidas minhas tiveram problemas de hipertensão na gravidez e por conta disso acabaram tendo seus filhos por cesarianas. Em alguns casos o diagnóstico é meio assustador: pré-eclâmpsia, seguido então da indicação de cesárea.
Fiquei com uma pulguinha atrás da orelha ao ouvir tantos casos diagnosticados como pré-eclâmpsias e seguidos de cesariana. Claro que eu não posso afirmar categoricamente em quais desses casos as cesáreas foram bem indicadas ou em quais a tal pressão alta surgiu como mais uma das desculpas que os médicos nos empurram goela abaixo. Mas, ainda assim, achei importante tentar explicar bem as diferenças entre pressão alta, pré eclâmpsia e eclâmpsia.
Existem aí situações diferentes que precisam ser desmistificadas: Primeira situação: pressão alta durante a gravidez ou hipertensão gestacional. Pode ocorrer mesmo com quem costumava ter a pressão baixa antes de engravidar. Não tem muitos sintomas a princípio, por isso a necessidade de se medir a pressão sempre durante o pré-natal. Não é indicação de cesárea e nem sinônimo de pré-eclâmpsia.
Um pré-natal bem feito associado a uma dieta saudável e uma gestação sem ganho excessivo de peso em geral dão conta do recado com tranquilidade. Algumas vezes a situação pode exigir o controle da pressão com medicamentos indicados pelo obstretra, mas isoladamente esse é só mais um fator a ser cuidado, sem grandes estresses.
Muita gente fala dos inchaços (edemas) durante a gravidez e associa esse sintoma a pressão alta e também com a pré eclâmpsia mas já foi comprovado que esses inchaços não estão relacionados necessariamente à hipertensão e que grávidas saudáveis podem também apresentar inchaços em determinados momentos da gestação.
Segunda situação: pré-eclâmpsia. A pré-eclâmpsia é a associação entre pressão alta que surge em geral depois das 20 semanas de gravidez com proteinúria. Que bicho é esse? É a liberação significativa de proteína na urina. Quanto é uma liberação significativa? Acima de 300mg detectada num exame feito em urina de 24 horas ou uma cruz ou mais naqueles exames reagentes de fita. Sem proteinúria não há pré-eclâmpsia.
Pressão alta isolada não caracteriza pré-eclâmpsia. Pre-eclâmpsia não tem cura, a única cura para o quadro é o parto, mas ainda assim não é indicação de cesárea. Repito: pré eclâmpsia não é indicação de cesárea. Obviamente que a doença pede acompanhamento médico constante e a repetição das medidas citadas acima (pré-natal bem feito, controle do peso, boa alimentação). Em alguns casos novamente o controle é feito com medicamentos.
Se não há complicações nem para a mãe nem para o bebê, o mais indicado é aguardar até que o bebê esteja maior (atingindo peso e maturidade para nascer), quando então pode ser feita a indução do parto normal.
Copio aqui citação da obstetra Melania Amorim sobre o parto normal em casos de pré-eclâmpsia:
"O parto normal é preferível em diversas circunstâncias, porque os distúrbios da coagulação podem complicar a pré-eclâmpsia, e o risco de sangramento é, evidentemente, muito maior na cesariana em relação ao parto normal. Além disso, se houver redução acentuada da contagem de plaquetas (abaixo de 70.000/mm3), não pode ser feita anestesia regional (raquidiana ou peridural) e, na cesariana, a anestesia terá que ser geral, com maiores riscos. É claro que a chance de cesariana aumenta, em virtude de algumas complicações (como o descolamento prematuro de placenta e alterações da vitalidade fetal, por exemplo) indicarem o parto imediato, porém em muitos casos pode ocorrer o parto normal, sem riscos para a mulher." Veja o texto completo aqui.
Terceira situação: Eclâmpsia propriamente dita. É um quadro bem grave, ocorre quando a pressão sobe demais, sem controle, e acontece a convulsão. Nesse caso é sim indicação de cesárea de emergência.
Quando eu nasci, minha mãe teve eclâmpsia. Ela convulsionou e depois ficou três dias inconsciente na UTI. Quase morremos. Meu pai ficou traumatizado com a história. Tanto que, quando engravidei, ele muitas vezes manifestou essa preocupação de que eu repetisse o histórico familiar.
Eu sempre tive a pressão muito baixa. Controlei bem durante gravidez, mas sem neuroses. Nunca esse histórico me preocupou ou me assustou. De verdade. Nem lembrava disso na maior parte do tempo, aliás. Não me considerava como uma gestante "de risco" nem nada do gênero. Me informei sobre o tema, tirei minhas dúvidas com minha médica e mantive minha cabeça tranquila.
Acho importante demais se informar, perguntar, questionar, tirar todas as dúvidas possíveis e imagináveis. Sem dúvidas pairando por nossas mentes e apoiadas por profissionais de confiança, é possível ter certeza de que uma cesariana foi bem indicada, por exemplo, ou mesmo que o tratamento escolhido é mesmo o mais adequado.
Não é tomar o lugar dos médicos nem querer "saber mais do que eles". É apenas exclarecer certas coisas que muitas vezes ficam nebulosas e se transformam em fantasminhas que nos atormentam e apavoram. E aí, apavoradas, passamos a andar por aí nos sentindo como se fôssemos uma bomba relógio prestes a explodir.
Vamos portanto combater essa sensação ruim com muita informação?
PS: Sim, Cacauzinha, esse texto foi inspirado em você! :o)