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Desde que me conheço por gente, muito antes de ficar grávida, desejei ter uma menina. Na verdade queria mais que uma, mas achei melhor pensar em uma por vez.
Assim que fiquei grávida, além do parto, não conseguia pensar em outra coisa, além do sexo do bebê! Pedia em todas as minhas orações que aquela semente fosse uma menininha, perfeita, saudável, mas uma menininha...
Exceto minha mãe e minha sogra, o resto do mundo achava que era um menino. Todas as tabelas, todas as brincadeiras, todas as pessoas que me paravam a rua falavam que eu esperava um menino. Descobrimos com 25 semanas, no terceiro e último ultrassom, quando ela resolveu mostrar quem era! Mas mesmo assim, até o dia anterior ao nascimento dela, fui parada no shopping por uma senhora dizendo que o “meninão” logo estaria por aqui!
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Pode parecer um capricho bobo, mas não é! Nem capricho, nem bobo! E eu percebi assim que ela saiu de dentro de mim. Descobri o porquê dessa “obsessão” pelo feminino.
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As melhores lembranças da minha infância foram ao lado das minhas irmãs, tias e primas. Apesar de ter uns 15 tios e “trocentos” primos, nada se compara ao que vivi ao lado dessas mulheres.
Existe uma ligação muito forte entre nós, apesar da distância, dos rumos que nossas vidas tomaram, os laços continuam fortes entre nós.
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Isso foi decisivo quando decidi pelo parto domiciliar, e quando optei por partilhar esse momento com minha mãe, irmãs e sogra. Além da parteira. O único homem era o meu amado companheiro, que participou ativamente do parto mas de uma forma silenciosa e cúmplice, de um jeito que só ele sabe fazer e me fazer sentir.
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O parto foi um momento maravilhoso. Contar com a presença da minha mãe, irmã, sogra e parteira! Todas mulheres, todas importantes na minha vida e que acreditavam naquele processo.
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E assim que minha filha nasceu, senti uma energia muito forte percorrendo todo meu corpo. Além do alívio, da emoção de ter trazido minha filha ao mundo, de ter feito uma longa jornada com ela e ser coroada recebendo aquele ser maravilhoso e puro nos meus braços. Muito além de saber que eu fiz minha filha nascer, e que ela me proporcionou isso.
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Naquele momento senti uma energia diferente de tudo que eu já tinha sentido. Parecia que eu fazia parte de algo muito maior, eu sentia como se me juntasse às minhas ancestrais, às mulheres que fizeram parte das histórias que ouvi, que pariam em suas casas, o “sagrado feminino” que me falaram. Eu precisava dessa força naquele momento. Precisava sentir que elas estavam ali comigo. E a presença das mulheres que escolhi me proporcionaram isso.
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Talvez a ciência explique como algum processo hormonal, mas não tem hormônios sintéticos que consigam reproduzir a comunhão espiritual que é dar à luz a um filho! E eu quis dividir esse momento com as pessoas que mais amo nesse mundo. Nada mais justo que minha filha fosse recebida pelas pessoas que mais esperaram por ela.
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E hoje, ela já está grandinha, não é mais um bebê, todas as noites temos nosso ritual que remete às mais doces lembranças que posso trazer da sua chegada: nosso banho. O banho é um dos momentos mais importantes do meu dia, e acredito que do dia dela também. É o “nosso momento”, a hora que nos reconectamos; eu encho a bacia com água, ela brinca enquanto eu tomo meu banho, então nós brincamos e eu saio, ela normalmente fica mais um pouquinho na água, mas recentemente ela começou a me banhar, como eu faço com ela, enchendo os potinhos e banhando seu corpo.
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E quando ela começou a fazer isso, eu comecei a lembrar de coisas do parto que ainda não tinha consciência: no momento que a bolsa das águas se rompeu eu desejei um dia poder partilhar desse momento com a minha filha; quando ela nascia, minha mãe segurou forte a minha mão e me dizia baixinho palavras de incentivo e força e eu desejei isso pra mim e pra ela!
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Que um dia, se assim minha filha escolher, ela possa me aceitar na sua hora, e que eu possa segurar sua mão e me unir à ela e à sua cria, da mesma forma que minha mãe se uniu a nós duas.
Imagem: www.weheartit.com
por: Mariana Tezini, mamífera convidada
Outro dia, meu companheiro me disse que eu quero tanto um parto natural que se meu próximo parto for assim, eu vou gostar mais desse filho do que do Caetano. Tivemos uma longa conversa sobre isso e percebemos aí duas esferas diferentes: a chegada do Caetano e o meu parto. Eu não gostei do parto, mas logicamente amei a vinda do meu filho.
Vou explicar: tínhamos um plano de parto domiciliar. Esse plano foi seguido até o limite, meu e do meu filho, e me entreguei à cirurgia que naquele momento se mostrou necessária, não sem antes tentarmos todos os recursos cabíveis. Porém, a frustração e a pergunta: “por quê?” são inevitáveis.
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Caetano nasceu por meio de uma cesariana que está em processo de cicatrização física e emocional. A frase muito ouvida: “o importante é que ele está bem”, traz uma estranha sensação de ambigüidade. Se por um lado é maravilhoso ver meu filho bem, por outro o parto, que era um momento muito planejado e esperado por mim, teve um desfecho ruim. Essa frase ainda parece negar toda a minha busca por um parto natural e um nascimento com respeito e carinho para meu filho. Sei que o caminho construído até aqui não se perdeu, pois apesar da importância do parto para mim - que significa um belíssimo ritual feminino e poderoso e não só a chegada de um bebê – a maternidade não é resumida à via de parto.
Aos poucos, a sensação negativa vai diminuindo, afinal minha cesárea não teve o peso da cesárea desnecessária, irresponsável, precipitada, supérflua, que reprime. Sem pressa, vou encarando essa frustração, e agora estou tentando enfatizar o positivo do processo todo: ele escolheu chegar na hora dele, e nós fizemos de tudo pra recebê-lo da melhor maneira possível. O nascimento tomou um rumo diferente do planejado e nem por isso desanimamos na nossa jornada, continuamos a oferecer as melhores escolhas pro nosso filho: logo ao nascer ele não tomou nenhuma injeção e nem pingaram colírio em seus olhos. Não ficou longe de mim. Ele mamou na primeira hora e por mais 6 meses exclusivamente, e continuará nessa livre demanda até quando quiser. Dormimos juntos, slingamos e damos muito colo.
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Eu tive um processo de busca, informação, questionamento e autoconhecimento referente a gravidez e ao parto que a cirurgia não vai apagar. Depois de tanta transformação, vou aprendendo a olhar a cicatriz e não lamentar, mas sim compreender e aceitar que é inerente uma dose de imprevisibilidade nesse evento, que eu não posso controlar todas as etapas do parto como planejei e que ainda assim toda minha busca não foi em vão.
Se antes do Caetano nascer eu já era defensora da humanização do parto, depois que ele nasceu eu virei uma militante, até meu trabalho seguiu novos rumos para abrigar essas questões. São frutos doces que colho dessa história. A minha cesárea me proporcionou um novo olhar sobre essas questões.
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Meu filho, Caetano, nunca vai ficar vai ficar pra trás! Caetano sempre vai ser o meu primeiro filhote, esperado, desejado, amado. Eu não quero substituí-lo por um bebê que nasça de parto natural. Eu quero sim outro parto, quero sentir a passagem de um bebê pela minha vagina e quero ser protagonista do nascimento. Visto que ficou um vazio, vazio esse que um novo parto vai ajudar a curar, mas não vai me fazer esquecer. E se cada parto é uma possibilidade, um mistério, eu tenho certeza que um dia terei uma nova história para contar.
Imagem: www.gettyimages.com.br
Para pagar um médico humanizado, uma doula, um pediatra humanizado, percebi que seria bem mais em conta parir em casa. E também, muito mais confortável e seguro. Afinal, as enfermeiras que por aqui trabalham em dupla estão aptas a identificarem qualquer intercorrência; elas trazem balão de oxigênio e outros equipamentos no caso de precisar reanimar o bebê; as bactérias aqui de casa são conhecidas pelo meu corpo e não existem megabactérias resistentes como no caso de hospitais.
Mas o que me levou verdadeiramente a optar pelo parto domiciliar foi o tratamento que esperava para meu filho, que mesmo em muitos hospitais humanizados, existem protocolos que são irrevogáveis. Seja a separação, seja o banho, o corte precoce do cordão, o nitrato de prata, o banho, o NAN ou Glicose no berçário, a Vitamina K, as vacinas etc.
Por isso parir em casa foi a minha opção. E sempre que encontro uma barriguda querendo um parto natural, entrego esta carta. Ela reflete porque desejo que todas as mulhres possíveis possm viver esta experiência.
E você, porque acha que devemos ou não devemos parir em casa?
Foto: Arquivo Pessoal - Miguel chegando em casa.