
por: Tata
Lembram daquela propaganda de carro, com um casal viajando enlouquecido pelas discussões das crianças no banco de trás, ao som de um rock bem barulhento, enquanto o casal da outra pista relaxa ao som tranquilo de uma música clássica, porque o carro deles têm o que chamam de "tecnologia acalma criança"?? Pois bem, vocês vão me achar maluca se eu disser que acho a viagem do primeiro casal bem mais bacana e divertida?
A tal 'tecnologia acalma criança' é um DVD instalado no banco de trás, onde os pequenos podem passar a viagem toda assistindo desenhos, o que teoricamente tornaria a viagem menos estressante e cansativa.
Posso parecer antiquada, mas eu torço o nariz pra esse tipo de coisa. Acho que é o tipo de aparelho que só contribui para distanciar ainda mais as famílias, para eliminar as conversas, para afastar as pessoas.
Eu me lembro com muito carinho das viagens da minha infância. Íamos eu e meu irmão no banco de trás, minha mãe no banco da frente, às vezes meus avós junto, e não nos cansávamos de inventar novas formas de passar o tempo: propúnhamos jogos de adivinhação - como aquele em que um dos jogadores pensa em um objeto/pessoa/lugar, etc, e os outros têm que fazer perguntas para serem respondidas com sim ou não... adoooro esse jogo até hoje, hehe - , brincávamos de chutar qual seria a cor do próximo carro a passar ao lado do nosso, ou de contar quantos carros vermelhos passavam, contávamos histórias, piadas, jogávamos o jogo do 'bum' (alguém conhece?), enfim, fossem quantos fossem os kilômetros de estrada adiante, sempre surgia uma idéia nova para animar o ambiente.
Se era cansativo? Sim, muitas vezes era. Mas mesmo nessas horas, fazíamos piada do nosso próprio cansaço, ríamos de nossa própria aparência descabelada e amarrotada - quem é que consegue chegar limpinho e arrumadinho ao seu destino?? - , enfim, arrumávamos um jeito de, juntos, tornar aquela viagem uma experiência em família, saborosa, bacana.
Hoje, eu tento passar um pouquinho disso para as minhas filhas. Nossas viagens são momentos para estarmos em família, só nos quatro (agora cinco!!), momentos para que a gente se curta, para que estejamos de fato uns com os outros. Quando saímos para um trajeto longo, enchemos o carro de brinquedinhos, livrinhos, biscoitos, barrinhas e outras coisinhas para a hora da fome, colocamos o bom-humor na bagagem e vamos embora.
Sem dúvida, ligar um DVD passando desenho no banco de trás do carro nos proporcionaria uma viagem muito mais silenciosa, mais organizada. Mas nossas filhas perderiam a oportunidade de olhar pela janela e apreciar a paisagem, ver os carros passando, as árvores, as montanhas, as vacas na beira da estrada e, como eu quando era criança, apontar entusiasmadamente para eles, gritando para o resto de nós: "olha só, que legal!!!". Perderiam a oportunidade de dar risada com a palhaçada do papai no banco da frente, de curtir a história contada pela mamãe, de fazer aquela bagunça gostosa que depois, em casa, a gente relembra com tanta alegria.
Em nome de ter menos trabalho, de facilitar as coisas, de se cansar menos, acho que às vezes a gente exagera. E acaba perdendo a oportunidade de viver momentos especiais, momentos de alegria, de comunhão. E afinal, os momentos mais cansativos, mais bagunçados, os que exigem mais da gente, também fazem parte da vida em família, é ou não é?
É por isso que aqui em casa, DVD no carro é um acessório mais do que dispensável: é indesejado. E pra vocês? Alguém aí tem uma experiência diferente pra contar?
Imagem: http://www.ovelho.com/content/dvd-no-carro