
por: Ana Sixx (mamífera convidada)
Quero falar sobre a importância daquele que irá acompanhar o nosso parto.
Poderia falar sobre muitas outras coisas, mas acho que essa escolha é a peça chave para que possamos ter um parto de acordo com aquele que queremos para nossa história de vida, e por conta disso, farei essa abordagem.
Em 2005, a madrinha de minha filha (amiga minha há quase 30 anos) teve sua primeira filha, e após o nascimento da menina fui passar 1 semana com ela, para dar aquele suporte emocional tão importante nesse período.
Quando cheguei lá, ela ainda estava no Hospital, havia passado por uma cirurgia e estava ainda muito abalada, pois de fato, não desejava esse tipo de nascimento nem para sua filha e nem para si mesma.
Estive com ela na última visita do “Doutor” para sua liberação. Eu estava tão chateada com tudo aquilo que ela havia passado, com vontade de voar no pescoço dele, e tive que nesse momento assistir uma das cenas mais deprimentes que já vi na vida.
Ele chegou perto dela, colocou a mão sobre ela e fez aquele comentário idiota, que todos eles sempre fazem, do tipo: “Foi melhor assim...”, “O bebê podia sofrer...”, etc e tals.
Mas, o que mais me deixou triste (e nesse momento fui para o banheiro, para que ela não me visse chorando) foi o fato dele chegar e falar "E o bebê?" e perguntar na maior cara de pau, "É menina né??!!"
Gente, como assim???
Pára, pára tudo que eu vou saltar disso.
Como um cara, acompanha uma gestante durante 9 meses e não sabe qual o sexo daquela criança??
Vi que isso passou desapercebido por eles, que estavam naquele furacão de acontecimentos e não ouviram o que o cara disse. Mas eu ouvi!
E depois disso, fiquei matutando sobre essa cena por muito tempo. Eu já participava das listas de parto humanizado, então, vocês imaginem como fiquei puta com isso.
Que daqui há 1-2 anos, ele a reencontrasse, e não lembrasse do sexo do bebê dela, e que a tivesse apenas como um rosto conhecido, eu até aceito (compreender jamais), já que esse tipo de médico dorme e acorda com a caixa registradora batendo clique.
Mas 1 dia depois??????????
Quando comecei meu pré-natal eu tinha muitas expectativas em relação a tudo. Me preocupava com o bebê, com a minha saúde, com a dilatação, e principalmente com o meu cuidador. Pois sabia que dele viria a força e a coragem para me lançar à frente.
Deveria ser uma pessoa que entrasse no barco comigo. Abraçasse meu sonho e partilhasse não só do meu parto, mas das minhas inspirações e dos meus desejos mais remotos.
É uma fase tão delicada, estamos com tudo tão ardente, tão acontecendo, queremos ser importantes, altivas com nossas lindas e redondas barrigas.
Encontrei uma parceira.
Sim, ela não só entrou no barco comigo, como segurou o leme com a mão dela sobre a minha, me deu a direção, o carinho, a atenção.
Foram 40 semanas e 5 dias de aprendizado, para ambas.
Na hora em que minha Cora decidiu sair do casulo, ela estava ali, do meu lado.
No silêncio mais cálido e protetor que eu já vivenciei, dando espaço para que eu me libertasse de medos e temores que nos são empurrado por toda uma vida.
Vivi intensamente meu trabalho de parto. Protagonista, mas com aquela mão sábia e tranqüila ao meu lado.
Passado 2 anos dessa experiência magnífica, vejo com alegria o trabalho dessa mulher que em 19 anos de experiência com partos domiciliares, recorda cada história, cada bebê nascido, como parte de sua própria história.
As mulheres que tem seus filhos com profissionais que realmente abraçam o parto sabem do que estou falando, elas não são apenas mais um número.
Por conta disso tudo que falei, vamos lutar pelo nosso direito de ser plena. Não vamos deixar nos braços de qualquer profissional uma página tão linda da nossa história. O protagonismo do parto é nosso, mas tem que ter um coadjuvante a nossa altura.
Vamos nos ligar nisso!
Dedico esse texto a 3 Mamíferas, doces, plenas e repletas de amor:
Heloísa Lessa, Maysa Ludovice e Claudia Orthof
E também a minha comadre, pequena guerreira, que resgatou parte do seu parto numa linda amamentação que já completa 3 anos e 8 meses.
Imagem: arquivo pessoal (Heloísa Lessa, Maysa Ludovice, Ana Sixx e Cora)
6 comentários:
liiiiiiiiiindoooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!! Parabéns!!! da companheira de parteiras, lia (e chico)
Que post lindo! Fiquei extremamente inspirada e encorajada. Apesar dos medos que incutem na gente, ouvir relatos assim fazem surgir uma certeza lá no fundo da alma!
Obrigada!
Bjos!
Realmente...eu passei por um PD super bem assistido e até hoje tenho um carinho imenso pelas pessoas que acompanharam tudo...e sei que elas também....delicia!
Beijocas!!!
É muito confortante saber de uma experiência tão emocionante e forte!!!
Depois de um PNH e uma assistência não tão humana, quero me espelhar em pessoas como você!
Ana, depois de tanto tempo eu tô lendo novamente seu post...
É tão bom pensar que posso ter o parto que eu sempre sonhei.
Obrigada por ter me permitido, oferecido, aberto mesmo, o caminho que estava ali na minha frente.
E vamo que vamo!
Nossa, tenho muito orgulho de ter sido aluna da Maísa e da Heloísa na UERJ!
Infelizmente não pude ter meu filho de parto natural. Mas se Deus quiser no próximo vai dar tudo certo e meu próximo parto será com uma delas!
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