Por: Kalu
Sou mãe de primeira viagem e a maternidade não estava na minha lista de prioridades. Tornei-me uma mamífera assumida no final da gestação. O parto domiciliar bem-sucedido, os grupos de discussão me trouxeram novos conceitos de educação, desenvolvimento e relação. Algo absolutamente diferente do que encontramos em qualquer lugar por aí.
Desta lacuna de informações, decidimos nos reunir para criar este blog que aponta caminhos diferenciados para a educação dos pequenos filhotes. Cada uma de nós tem seu jeito mamífera de ser, mas estamos juntas porque acreditamos e divulgamos formas diferentes de lidar com os pequenos: menos pesos e medidas e mais relação saudável.
No enxoval que ganhei da minha família haviam chupetas especiais trazidas da terra do Tio San e Mamadeiras que imitam o fluxo e o formato dos seios. Antes de despertar para a maternidade ativa aqueles eram objetos inofensivos. Hoje conheço seus perigos que podem arruinar amamentação, principalmente quando introduzidos nos primeiros meses de vida do bebê.
Nestes últimos tempos fiquei absolutamente chocada com o número de depoimentos que ouvi de dificuldades com a amamentação e desmame precoce incentivado pelos pediatras. Em quase todas as situações os complementos dados na mamadeiras e uso de chupetas estavam envolvidos.
Acho que vivemos em tempos de falta de modelos mamíferos para seguir. Como a sociedade valoriza a mulher no mercado de trabalho e filhos precocemente independentes, as mamadeiras e chupetas são poderosos instrumentos de substituição ao bico natural ou bico dos seios.
O pediatra Carlos González, autor do livro "Un Regalo Para Toda La Vida", diz que a amamentação nos primatas superiores não é puramente instintiva. "É preciso uma aprendizagem por observação, aprendizagem que na natureza se dá de forma espontânea. Mas muitas mães dão à luz sem nunca haver visto outra mulher dar de mamar. Algumas nem sequer tiveram outro bebê nos braços. Muitas adolescentes não passaram pela experiência de ver uma mãe cuidando do seu filho apesar de terem feito um bico de babysitter, cuidando o bebê (e dando mamadeira) quando a mãe está ausente. Por outro lado, é relativamente fácil ver bebês tomando mamadeira. Nos parques, nos filmes, nas fotos de revista".
Por trás da crença coletiva de que existe leite fraco, bebê mais tranquilo porque usa chupeta, há uma poderosa indústria que estimula este pensamento e nos faz macaquear. Isss começa de cedo, nas bonequinhas que dormem quando colocamos a chupeta ou que param de chorar quando oferecida uma mamadeira. Lá no nosso inconsciente e no consciente coletivo manifesto nos palpiteiro, está a tentação: dá chupeta pro neném não chorar.
Um dos aspectos que é claro, para mim é a importância da amamentação. Até 6 meses deve ser exclusiva; nada de aguinha, suquinho, cházinho e outros inhos perigosos. Qual é o problema da mamadeira nos primeiros meses de vida? Além de arruinar a amamentação, pode causar problemas na formação da arcada dentária do bebê. Os músculos que os bebês usam para mamar, mesmo que seja a mamadeira mais moderna, não são os mesmos que ele usa para sugar o leite do peito. Outra inimiga mortal da amamentação é a chupeta. Chamada de pacifiers, ou cala-boca, a chupeta aparentemente pode satisfazer uma necessidade de sugar do bebê, mas ela cria uma perigosa dependência que esconde as feições dos pequenos e prejudica a dendição.
Qual a melhor solução para evitar a dependência dos bicos artificiais, antão? O bico natural, o peito. É cansativo dar de mamar. Simmmmm. Mas pense, o que são estes meses de lactação exclusiva (6 meses ou mais) perto da existência humana? E a importância deste gesto que envolve todos os sentidos. O que oferecemos ao dar de mamar é mais que leite. É amor, é o estar perto do coração.
Há correntes que afirmam que o ser humano passa por um período de gestação fora do útero, como os cangurus. Tudo que bebês precisam é de colo e peito. Quem pode se dedicar exclusivamente neste período, que o faça de corpo e alma. Descanse com o bebê, deixe para lá compromisso, internet. Caminhe com ele para desestressar. Parece que o mundo acaba e que só seremos mães para sempre. Mas não é verdade. Em pouco tempo, muito pouco, o bebê vira criança. E mama cada dia menos, nos solicitando de outras formas.
Sempre digo que um ser humano só pode ser completamente independente quando lhe foi dado o direito de ser dependente quando deveria. E quem tem que trabalhar? O que fazer?
Há alternativas: os copinhos e a paciência. Mas para que isso funcione é importante que aquele que nos apoia seja a mãe, a tia, o marido, a babá tenha em mente que aquelas atitudes são importantes.
E se inevitável for o uso de chupetas e mamadeiras, afinal cada um conhece seu limite, que seja adiada ao máximo e que a hora da retirada seja o quanto antes. Se eu fosse dar um conselho diria, até antes da introdução de alimentos, use só peito! Claro que tem mulheres que passam por muitas dificuldades na amamentação. Neste caso, antes de aceitar a orientação de um pediatra intervencionista que receita complemento com leite artificial, procure um grupo de apoio à amamentação como a Matrice.
Eu trabalho em casa e o Miguel mama em livre demanda. Os dias mais corridos que não posso amamentar ele toma outros alimentos no copinho, como o faz desde que tem 7 meses. Quando vou para São Paulo entro no esquema mãe moderna: saio de casa às 8h e só volto 20h. A primeira vez que isso aconteceu ele tinha 6 meses e meio. Fiz um super estoque de leite materno e pedi que a minha mãe oferecesse no copinho. Ela comprou escondido uma mamadeira e uma chupeta. Ela me contou só no dia de eu voltar para a casa. Fiquei muito brava, mas já tinha passado. Informei-a sobre os males dos bicos artificiais.
De volta para casa nada de chupetas e mamadeiras. Existiram dias em que quase pedi para meu marido comprar, porque não aquentava mais o Miguel a chupeitar o dia todo. Mas antes de comprar pensava nas consequências. Foram elas que me fizeram perserverar sem me valer destes recursos. Claro que trabalhando em casa é mais fácil. Mas se algo é realmente importante para nós, há mil caminhos. Alguns difíceis e transformadores. Como a Deborah contou aqui em seu post da dificuldades em amamentar sua filha e voltar a trabalhar. A Renata contou sobre as dificuldades de amamentar gêmeas exclusivamente.
Para ser sincera eu desconheço o lado negro da amamentação. Ela foi tão simples e pouco planejada como meu parto. Miguel nasceu, mamou. Sempre foi assim. No dia seguinte do nascimento, ele mamava um peito e outro, um peito e outro. Percebi que ele estava com fome (só tinha colostro) e depois começou a descer o leite e ele mamou e dormiu. Com 3 meses passamos por uma readequação de demanda, ele ficou uma semana pendurado no peito, e passou. Mas como estava por conta dele, nada foi estressante. E a amamentação continua em livre demanda até hoje, deliciosa e cheia de amor. Às vezes ele chora de noite, dou de mamar e ele dorme. A maioria das vezes não acorda mais.
E assim seguimos por caminhos desconhecidos. Nunca tinha visto um bebê ser amamentado. Todos meus primos tomaram mamadeira cedo. Tirando as maternas e mamíferas, não conheço alguém neste mundão que tenha dado de mamar longamente. Amamento em público sem pudor, porque me centro no meu filho. E se Deus quiser a amamentação continuará, até o dia que as brincadeiras forem mais interessantes que o peito; que ele se esquecer de pedir. E assim, como o cordão que pára de pulsar e pode ser cortado, o desmame ocorrerá naturalmente.
Imagem: Arquivo pessoal
6 comentários:
Parabéns, Kalu, lindo texto e maravilhosa foto, esse olhar é impagável, não é? Não há nada, nada nesse mundo que chegue perto do que sentimos ao ter nossos filhos assim próximos. Minha história é parecida com a sua, minha mãe não amamentou nenhum dos tres filhos, dei mamadeira ao meu irmão caçula.
Mas quando nasceu meu 1º filho e a enfermeira o trouxe para o quarto e nos deixou sozinhos, olhei para ele e disse voce quer mamar? Tirei o peito e só parei quando ele desmamou com 13 meses, eu já estava grávida de 4 meses do meu 2º filho. Tive algumas dificuldades, o peito rachou, sangrou, mas nada me faria desistir do que experimentei com ele naquela 1ª vez.
Monica,
De fato este olhar não tem preço!
Lindo Texto, Kalu.
Também amamento minha filha em livre demanda, me sinto sortuda por poder estar em casa com ela todos os dias.
Quanto às chupetas, na primeira semana de vida dela, em meio a cólicas e muito choro quase cedi a tentação(pedi para o meu marido comprar). Graças a Deus ela recusou a chupeta. Logo em seguida, decidi jogá-las no lixo para não ser novamente tentada. Deu certo, as cólicas passaram o choro também e minha filha segue feliz mamando e chupetando sempre que ela tem vontade.
Adoro o Blog de vocês.
Um grande abraço,
Rakel.
Bem, acho que este é um dos poucos assuntos que posso comentar aqui (pois não sou pai, muito menos mãe - hehe). Mamei no peito até os três anos de idade, nunca chupei uma chupeta, nem mamadeira e acredito que isso tenha influenciado muito na minha dentição. Nunca tive uma cárie, nem que usar aparelho. São todos certinhos!
Beijo grande a todas vocês, mães conscientes.
oi Rodrigo, obrigada pelo comentário!! Olha só, você pode e deve comentar sim, sempre que tiver uma opinião a respeito do que a gente tá discutindo! É muito bacana também a gente ouvir a opinião dos homens, que podem - por enquanto, né - não ser pais, mas são filhos, afinal de contas! :-)
um beijo!
Kalu,
O que me ajudou a perseverar na amamentação foi saber que:
minha avó amamentou minha mãe e tia, gêmeas, até 2 anos e 2 meses, e parou quando engravidou de novo. Ela me disse: "naquele tempo, diziam que não podia. Se eu soubesse que não fazia mal, teria continuado"
minha mãe me amamentou até 2,5 anos, e só parou quando ficou por um mês no hospital com meu pai transplantado
minha tia amamentou minhas primas e eu, inclusive grávida, até 3 anos
E olha que são do tipo que introduz alimentos cedo, enfim, um molde mais tradicional que mamífero...
Será que antigamente era mais comum? Engraçado que conheci uma mamãe este fds no parque Villa-Lobos, que amamentava seu bebê. Fiquei com a pulga atrás da orelha, achando que podia ser uma materna. E era!
Minha mãe diz que no interior de SP todo mundo amamentava. Será isso?
Beijos, Ju Leodoro da Letícia
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