por: Tata
Perdi as contas de quantas vezes as pimentas foram confundidas com menininhos quando eram bebês. Tudo por conta de um pequeno detalhe, o melhor, pela falta dele: os brincos.
Hoje, já não acontece mais. Minhas menininhas já são reconhecidas como tal onde quer que estejam. Até porque elas já tem uma farta cabeleira cacheada que não deixa dúvidas (embora não haja problema em cabelo comprido para meninos, mas o senso comum, da mesma forma que associa meninas a brincos, faz a mesma 'conexão mental' com as madeixas longas). Mas quando eram bebezinhas, era direto. E sempre vinha a pergunta: "mas por que você não coloca um brinquinho nelas, fica tão bonitinho...".
Eu não coloquei brinco nas minhas filhas, e não colocaria, por várias razões. A primeira delas é que não faz nenhum sentido, pra mim, ter lutado tanto para que elas tivessem um nascimento digno, sem intervenções, incômodos, picadas desnecessárias, e em seguida concordar que lhe furem as orelhas - algo bastante invasivo - por uma vaidade que nem é delas, é minha.
Não concordo com quem diz que "bebê sente menos dor", ou que "quanto menorzinho, menos sofre". Não é porque o bebê não sabe falar nem expressar sua dor ou seu incômodo, que ele não os sente. Pelo contrário, imagino que deva ser ainda mais assustador, já que ele não faz a menor idéia de onde vem aquela picada, se aquela dor vai passar logo ou não, se vão fazer de novo, ou porque ele precisa passar por aquilo.
Hoje, já não acontece mais. Minhas menininhas já são reconhecidas como tal onde quer que estejam. Até porque elas já tem uma farta cabeleira cacheada que não deixa dúvidas (embora não haja problema em cabelo comprido para meninos, mas o senso comum, da mesma forma que associa meninas a brincos, faz a mesma 'conexão mental' com as madeixas longas). Mas quando eram bebezinhas, era direto. E sempre vinha a pergunta: "mas por que você não coloca um brinquinho nelas, fica tão bonitinho...".
Eu não coloquei brinco nas minhas filhas, e não colocaria, por várias razões. A primeira delas é que não faz nenhum sentido, pra mim, ter lutado tanto para que elas tivessem um nascimento digno, sem intervenções, incômodos, picadas desnecessárias, e em seguida concordar que lhe furem as orelhas - algo bastante invasivo - por uma vaidade que nem é delas, é minha.
Não concordo com quem diz que "bebê sente menos dor", ou que "quanto menorzinho, menos sofre". Não é porque o bebê não sabe falar nem expressar sua dor ou seu incômodo, que ele não os sente. Pelo contrário, imagino que deva ser ainda mais assustador, já que ele não faz a menor idéia de onde vem aquela picada, se aquela dor vai passar logo ou não, se vão fazer de novo, ou porque ele precisa passar por aquilo.
A segunda razão pela qual minhas pimentas não têm as orelhinhas furadas tem a ver com uma forma muito particular de ver a maternidade, e a minha relação com as minhas filhas. Eu não as vejo como uma extensão de mim. Elas são serezinhos independentes, pessoinhas autônomas, livres. E não me parece justo tomar decisões sobre um corpo que não me pertence. Acho muito mais correto dar tempo ao tempo, e esperar até que elas possam decidir por si mesmas.
Comigo, aconteceu assim. Eu não tive as orelhas furadas quando bebê. Fui querer furar quando já tinha uns onze anos. Minha mãe me levou até a farmácia e eu, diante da dor da primeira orelha furada, não quis furar a outra. Depois de muita conversa, acabei concordando. Mas sempre penso que, caso isso acontecesse com as minhas meninas, respeitaria também a decisão de que saíssem da farmácia com apenas uma orelha furada. Eu posso achar “esteticamente inadequado”, estranho ou seja lá o que for, mas sinceramente, isso não tem a menor importância. Por que é que elas têm que se guiar pelos meus conceitos estéticos, ou pelas minhas vontades? Afinal, elas estarão decidindo sobre aquilo que lhes é de direito.
Eu sempre procuro preservar, na minha relação com as minhas filhas, a atitude que eu acredito ser a base de tudo: o respeito. Respeito o direito delas serem o que são, de tomarem as decisões que lhe cabem, de descobrirem sem interferências seus gostos, suas prioridades, seus caminhos. Meu maior desejo para elas é a liberdade. E vou cuidando, aos pouquinhos, com pequenas atitudes, para que isso nunca lhes falte.
Sim, há decisões que precisarei tomar por elas. É inevitável, faz parte do meu papel, como mãe. Mas prefiro fazê-lo apenas quando é realmente necessário, para coisas que não podem ser deixadas para depois, e que elas ainda não têm condições de decidir por si.
O resto, vou deixando que elas tateiem com suas mãozinhas curiosas, quando forem se descobrindo preparadas para isso. Tudo a seu tempo.
Imagem: 'Moça com Brinco de Pérola', de Vermeer
12 comentários:
Rê, confesso que depois de ler esse post passei a analisar isso de forma diferente.
Realmente faz todo sentido, mas nunca tinha parado pra pensar nisso, as orelhas da minha pequena já foram furadas mas se eu tivesse visto isso por esse ângulo com certeza não o faria.
Quem melhor do que eles mesmos pra decidir né?
Sou tão contra mais que faz moicano em cabeça de bebê, pinta, faz maquiagem...e nunca tinha pensando na questão do brinco.
Obrigada por mais essa, não vale mais pra Bruna, mas quem sabe numa próxima? ;)
Sou da mesmíssima opinião, se tivesse uma menininha tambem não colocaria brincos de jeito nenhum... Aliás, eu nem gosto muito de brincos, me irritam pacas, uso muito de vez em quando...
Agora, se o Sam um dia quiser colocar, respeito totalmente, mesmo porque o pai dele mesmo usa...
Minha mãe tem quatro filhas e não furou as orelhas de nenhuma. Todas nós o fizemos por nossa própria vontade, quando quisemos. Seguirei o exemplo, com certeza!
Seja o Arthur ou uma futura filha, poderão furar se quiserem, mas acho que se forem muito pequenos, talvez eu coloque brincos de colar, até terem mais condições de decidir.
Renata, seu post me deixa com uma dor no coração. Infelizmente, eu não consegui fazer frente à pressão da minha irmã e da minha mãe quando a Sofia tinha 07 meses e a levei para furar as orelhas. Nossa, ela chorou tanto, que até hoje me dói quando lembro. Me arrependi, deveria ter brigado, batido o pé. E a pequena, que adora brinco nas outras pessoas, não suporte que coloque nela e não gosta que põe a mão na orelhinha dela...
Que pena que não existia esse blog antes, certamente eu teria me centrado, não cederia e não teria furado a orelha dela...
Beijos
Ana Lúcia, que se tiver um outreo bebê e for menina não vai furar a orelhinha dela...
Meninas, nesse assunto penso diferente. A comparação com as intervenções depois do parto não se aplica, porque estas são evitadas não por causarem desconforto e sofrimento - afinal o próprio parto o causa, assim como os primeiros banhos, trocas de roupa - mas por serem inúteis. E furar a orelha tem uma finalidade, não é inútil. As amigas que eu tenho que furaram depois de grande sempre tiveram problemas de coçar, infeccionar, então optei por furar da minha filha com 3 meses. Furei não para impor uma vaidade minha, mas para facilitar sua vida, pensando no seu bem, como tudo que a gente que é mãe faz. E ela nem sequer chorou, donde concluo que não doeu. Não porque bb não sente dor, mas porque a pele, os tecidos são mais molinhos, tornando o furo mais fácil. E não me arrependo, pois a minha filha adora me ver se brincos, sempre repara e comenta, seja uma boliha pequena ou um pendurado grande. E a liberdade de usar ou não ela sempre vai ter, lógico. Beijos!!!
Lu, posso só questionar um ponto do que você colocou?
"Furei não para impor uma vaidade minha, mas para facilitar sua vida, pensando no seu bem (...)".
Entendo o teu raciocínio, o que não entendo é porque não ter a orelha furada significaria ter um problema a ser resolvido no futuro. Afinal, brincos não são obrigatórios, certo? Ainda que você considere furar depois de grande um problema (o q eu, q furei depois de grande, particularmente discordo), ela pode optar por simplesmente não furar, e aí nada de problema!
Minhas filhas também adoram me ver de brinco, mas curioso, elas mesmas já incorporaram que é coisa de "menina grande". Elas olham pra mim e dizem: "mamãe, quando eu crescer mais eu vou querer pôr um brinco azul/rosa/roxo...". Isso, sem eu nem ninguém nunca ter dito pra elas que elas não poderiam colocar brincos agora, se quisessem.
Ana, não fica triste não, querida. A gente faz sempre o melhor a cada momento, e isso é que é o importante. O que vale é a gente estar sempre aberto a ouvir as opiniões diferentes e, se for o caso, não ter medo de mudar de idéia. E essa generosidade eu não tenho a menor dúvida de que você tem.
Sempre obrigada pelas visitas e comentários, meninas!!
bjitos
Rê
Eu também não furei a orelha da minha filha. Tive o privilégio de participar de discussões sobre esse tema antes do nascimento da Helena, que fortaleceram a minha decisão. E também porque não entrava na minha cabeça a idéia da minha filha ter que usar brinco por uma vaidade, que não parece ser só da mãe, mas coletiva.
Infelizmente minha mãe furou a minha orelha quando eu tinha uns 3 anos, não lembro se eu queria, mas me lembro do quanto doeu. E hoje em dia praticamente não uso brincos.
Também acho que dói sim nos bebês. As pessoas acham que não dói porque confundem com a idéia de cicatrização. Todo mundo sabe que quanto menor a criança, mais rápida a cicatrização. Mas o furar dói de qualquer maneira. Se fosse assim o teste do pézinho não doia. Agora uma coisa é furar por uma questão de saúde, outra é furar por uma questão cultural...
Tata, obrigada por dividir sua experiência e sábias palavras em relação a esse assunto, pois isso foi quase motivo de briga aqui em casa com o meu marido por culpa minha, claro, mulher que quis impor uma vaidade boba que nem ela mesma mantem! Depois da sábia insistência do meu par (embora eu continuasse emburrada com isso) não furamos as orelhinhas da minha pequena Kamila. Suas orelhinhas foram salvas da sandice de sua mãe que fez tudo para ter um parto plenamente natural, e teve, com grande sucesso, e hoje minha pequeninha completa exatamente 6 meses sem brinquinhos, graças a Deus e a suposta chatice do meu marido, até ler suas palavras e ver cair a ficha! Como diz o velho ditado: "santo de casa não faz milagre"!
Beijos!
Gente, vou ser uma voz distoante, assim como foi a Luciana.
Eu furei as orelhas da minha filha quando ela tinha 4 meses e posso afirmar que não doeu.
Eu também tinha muita pena de furar, porque acho sim que dói
.
Como eu não queria que minha pequena sofresse, apliquei um anestésico local chama EMLA (Lidocaína/Prilocaína), por orientação da própria farmacêutica da farmácia onde furei. A única coisa que Yumi fez na hora de furar (com aqueles brincos específicos pra isso, aplicados com máquina) foi dar uma piscada por causa do barulho da máquina. E só.
Optei por furar porque já vi meninas maiores revoltadas porque suas mães não lhes furaram a orelha quando eram bebês - e eu não quero que minha filha, quando crescer, reclame disto também.
Minha sobrinha não teve a orelha furada quando bebê e furou com uns 11 anos de idade. Teve problemas de cicatrização. Por isso, acho que é melhor mesmo que se fure quando ainda é bebê.
Mas minha opção não tem nada a ver com vaidade minha não (nem sou vaidosa, devia ser mais...) e nem por pressão da sociedade. Fiz porque imagino que ela vá gostar de usar brincos e se eu podia proporcionar os furos desde já e SEM dor, porquê não?
Puxa vida... sou mãe de um garotão, mas se um dia meu filho tiver uma irmãzinha, vou furar sim. Sabe por que? Filho de peixe, peixinho é. Minha mãe não furou minha orelha, e eu sempre quis usar brincos, e até hoje sou "maria mijona" e tenho medo de furar a orelha! Furem as orelhas das bebezinhas sim...
Andrea, essa questão "dói ou não dói" é polêmica, e não dá pra afirmar alguma coisa. O fato dela não ter chorado não significa que a situação não a tenha incomodado ou assustado de alguma forma, apenas bbs diferentes reagem de formas diferentes às mesmas situações. Só quem poderia afirmar categoricamente se doeu ou não seria a bb, mas como ela não fala... :-)
respeito sua opinião, e com certeza você tem todo o direito de decidir furar ou não a orelhinha da sua filha. eu opto por não furar por convicções pessoais, por uma forma particular de encarar a maternidade. você tem outra, perfeito. agora, a questão da dor, não dá pra ser categórico e afirmar "não doeu", entende?
Luciana, eu sou super medrosa para furos, injeções, etc, e mesmo assim optei por furar a orelha por mim mesma, com 11 anos. não é regra que a criança que deixa pra furar depois acabe não furando, entende? e mesmo que não fure, e daí? brincos não são um artefato obrigatório, é pura vaidade, puro conceito social. se ela não quiser furar, não fura e pode viver feliz sem brincos, ou com brincos de pressão, sei lá.
o que eu acho interessante é a gente se questionar sobre essas verdades absolutas, que na verdade são culturais, e impostas, como "menina tem que usar brinco", "menino não usa rosa", e por aí vai...
meninas, obrigada pelos comentários, debater é sempre muito bom!!!
bjos a todas!
Meninas, concordo com todos os comentários (favoráveis e contrários).
Meu pai não deixou furarem minha orelha de bebê, e hoje, beirando os 28 anos, procurei um acupunturista. Vou furar antes, pra ver se dói muito e dependendo do "grau de dor", vou furar a orelhinha da minha pequena sim.
Hoje a Letícia tem 7 meses e já tomou várias picadas em nome de um bem maior (vacinas e mais vacinas). Mesmo elas não garantem 100% de imunidade, mas optei por apostar nisso. Aproveitei e tomei umas picadas, para compartilhar a dor dela.
Quanto ao brinco, seja por achar bonitinho, seja por pressão da sociedade, acho que vou acabar furando agora, de pequena, enquanto a orelha dela é mais fina.
Bom, se mais para frente ela optar por não usar brincos, sem problemas, o furo fecha e acabou... Não vejo problemas, pois não acho que vá causar traumas, afinal, a maioria acaba fazendo desta forma, sem consequencias.
De qualquer forma, se optar por não furar, se a dor na minha orelha for muito grande ou se conseguir furar apenas uma das orelhas, volto aqui pra contar, ok? rsrsrs
beijos a todas vocês, mães que amam incondicionalmente seus filhos.
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