
por: Kathy
Você que cuidou do meu pequenino ser por tantos meses, que nutriu, oxigenou e acompanhou meu neném dentro da minha barriga. Filtrou, trocou, foi minha ligação direta com o Sam desde quando ele ainda era um arrozinho, sementinha, feijãozinho ou todos os nomes fofos pelos quais ele era chamado quando estava aqui no quentinho. Cresceu com ele, cumpriu seu papel com louvor e ajudou a fazer de mim a pessoa mais feliz do mundo porque colaborou para a saúde e o perfeito desenvolvimento do meu filhote.
Venho aqui, publicamente, querida, e jamais poderia ter sido diferente, pedir-lhe desculpas. Não era minha intenção que você fosse eliminada, descartada e jogada fora assim, como se nada significasse. Você não fazia parte daquele lixo hospitalar todo, assim como eu não fazia parte daquele lugar de cheiro tão característico que até hoje consigo me lembrar exatamente dele como se estivesse lá.
Pelo menos pude me despedir. Foi rápido, eu sei, e acho que você também se lembra. Já estava com o Samzinho no colo e devidamente plugado em meu seio quando você saiu. A anestesia não me deixou sentir nada. E lá estava a enfermeira te carregando para longe quando eu pedi, quase supliquei: "Quero ver a minha placenta!!"
A cara da equipe foi cômica. Você devia ter visto... "O que??? Pra que???" Aí não dava... Berrei!! "É isso, eu quero ver a minha placenta, oras, ela é minha, acho que tenho direito, né??" A enfermeira fez aquela cara de quem não contraria louco e me mostrou você...
Foi rápido, mas foi legal. Lá estava você. Bonita eu não digo que era, e você por favor não se ofenda, mas nunca esqueci. Estava lá, emoldurada num daqueles lençóis hospitalares verde agua. Olhei o quanto a paciência da enfermeira permitiu. Nem foi muito. Pena. Lá se foi você pro lixo. Tsc...
Perdão pelo fim não muito digno. Queria muito ter te guardado e depois enterrado, com direito a plantar árvore em cima e tudo, mas não deu! Eu já tinha conseguido tantas vitórias naquela noite que achei que já estava bom. Mas nunca está. Mesmo assim, valeu mesmo, por tudo. Você foi parte integrante do nascimento do Sam e do meu renascimento, exatamente por isso, nunca vou te esquecer!
Imagem: www.gettyimages.com
5 comentários:
Adorei a temática do post e a forma como vc escreveu, aliás, sou fã da sua forma de escrever... fiquei imaginando a cena e a cara da enfermeira....engraçado e bota a gente pra pensar ao mesmo tempo, nunca tinha visto a placenta por esse ângulo, e olha que é tão óbvio né?!
Beijos Kath e outro no Sam
Kathy, se escrevesse uma carta para minha placenta, não seria tão amorosa quanto a sua. Nosso relacionamento foi feliz, porém terminou de forma traumática, como um namoro que termina mal. Mas haverá outra placenta no futuro para mudar o meu atual sentimento de tristeza com minha placenta.
Parabéns pelo texto!
Caramba, também não plantei a minha, mas já me perdoei também! Até guardamos, mas com a loucura que foi o pós-parto esquemos ela dentro de um saco plástico, na sacada. Quando lembramos dela, depois de alguns dias embaixo de sol e chuva, ela já estava bem prejudicada (rsrsrs)... e nós, totalmente sem condições de irmos atrás de um vaso grande com terra, ou encontrarmos um local para plantá-la!
Foi-se! Mas com os devidos agradecimentos!
Beijos!
agora eu chorei. e olha que me fazer chorar é meio difícil.
Postar um comentário