É curioso perceber como pais e mães vivenciam de formas diferentes a chegada de um filho.
A gente se torna mãe desde o momento em que percebe ou intui que tem uma sementinha crescendo dentro de si. Desde o primeiro enjôo, desejo ou seja lá qual tenha sido a primeira reação do organismo à gravidez, a gente já se apaixona por aquele serzinho que não tem cara, não tem forma, mas já se faz presente dentro da gente com uma intensidade que nem que a gente quisesse, saberia dimensionar. A maternidade nos invade desde o primeiro momento, de uma forma absoluta e irrevogável.
Com os homens, a coisa acontece de um jeito diferente. Não é que eles não se apaixonem pelos filhos, nem que não sintam essa ligação sublime com a cria, mas é diferente. Para o pai, é mais complicado sentir o filho desde o começo. Ele se alegra, curte imaginar, escolher o nome, sentir o chute colocando a mão na barriga da mãe, envolve-se nos planos, na preparação para aquela futura presença tão especial. Mas em geral, a coisa toda para ele é bastante abstrata. O homem não sente o processo dentro de si. Ele vê a coisa acontecendo de fora. E isso faz toda a diferença.
Aí, um belo dia, o bichinho nasce. A vida de cabeça para baixo. E a gente, desde o primeiro contato, vive esse sentimento maluco, de olhar bem fundo naqueles olhinhos tão puros e tão brilhantes, e sentir como se já conhecesse aquela criaturinha desde o começo dos tempos. É imediato. A gente se sente invadida por um instinto animal, um desejo primitivo de proteger aquele pacotinho tão frágil, tão suscetível, tão desamparado diante do mundo. A gente não se torna mãe, porque já era. Mesmo sem saber. E os pais, em geral, ficam meio perdidos diante dessa simbiose, sem saber muito bem onde se encaixar, como fazer parte daquela ligação tão misteriosa e tão sublime.
É aí que vale a pena a gente olhar com carinho para o lado e fazer um esforço para entender que há várias maneiras de se vivenciar esse milagre que é a chegada de um pequenino ao mundo. A gente tem que lembrar que o pai vive o processo de chegada de um filho de um jeito diferente. E diferente é só isso mesmo: diferente. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.
E diferente também pode ser bacana. Porque se o amor incondicional que o filhote sente ao aconchegar-se no colo materno lhe traz segurança e paz, o amor aprendiz, o amor em processo, o amor de descoberta que sente ao ser acolhido pelo pai também pode lhe trazer um infinito. É um amor que não vem pronto, que não tem receita. Um laço também inquebrantável que vai sendo construído ali, na relação, no dia-a-dia, a cada pequeno traço de um a ser revelado para o outro.
Quando eu vejo minhas pimentas a aconchegarem-se as duas a um só tempo no colo do pai, quase a reinventar as leis do tempo e do espaço, sinto-me invadida por uma ternura tão grande que chega a doer. É que percebo, assim de repente, como estando distraída, a grandeza de tudo o que viemos construindo para elas, e que é, no final das contas, tudo o que de mais belo e especial se pode desejar a uma criança: uma teia de cuidado, de doçura, de aconchego. Uma rede de amor, que as alcançará sempre, onde quer que estejam.
Imagem: http://ferrus.blogs.sapo.pt/
2 comentários:
No início da minha gravidez, meu marido sempre dizia que seríamos pais apenas depois que nascesse e eu dizia que o bebê já existia e era nosso filho, logo, éramos sim pais. Não lembro de ter falado mais nisso. Então hoje, ele disse que me daria presente de dia das mães e eu perguntei: mesmo que não tiver nascido? Ele respondeu que sim, que eu já era mãe, mas ele ainda estava se tornando pai.
Interessante mesmo essa diferença que você descreveu tão bem.
Beijos,
Dani Garbellini (da materna)
é mesmo uma delícia! lindo ver crescer e florescer a relação pai e filho! diariamente, nos pequenos gestos e carinhos. cada dia um pouquinho e sem limite para acabar.
:)
mais beijos...
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