por: Helena - Mamífera convidada
Quando fui convidada para escrever aqui, durante o primeiro curso de formação de doulas em Belo Horizonte, fiquei muito empolgada. Já comecei a estruturar toda uma reflexão sobre ser mulher, sobre a busca do nosso feminino perdido, baseada na experiência de ter parido uma menininha, a Carolina, há três anos. Mas, no dia seguinte, meu filho mais velho teve uma convulsão na escola, a segunda em dois meses.
O Luiz Gustavo está com oito anos e já havia sido diagnosticado com epilepsia um pouco antes de completar três. Tudo começou quando fui fazer uma viagem sozinha com meu marido e ele teve uma crise na nossa ausência.
Em pouco tempo, nos vimos diante de um dilema cruel: medicar com anticonvulsivantes ou seguir somente com a homeopatia? Decidimos, sob muita pressão e medo, dar drogas pesadas ao nosso bebê, que jamais havia tomado um antibiótico.Senti, pela primeira vez, como é desejar estar doente no lugar de um filho. Rezei: “Por que não comigo, meu Deus? Por que o meu menino?” Carreguei uma culpa imensa pelo que aconteceu. Que mãe é essa que abandona o filho e vai se divertir?
A culpa costuma ser uma companheira indesejável de praticamente todas as mães. Somos uma figura sobrecarregada em nossa sociedade. Quem já não ouviu a célebre frase: “Cadê a mãe desse menino?” a qualquer sinal de problemas com a criança?
Se nossos filhos não se apresentam ao mundo lindos, perfeitos, inteligentes, maravilhosos e saudáveis, nós mesmas já nos perguntamos: “O que foi que eu fiz de errado?”. É como se eles fossem uma extensão nossa e, por meio deles, mostrássemos como somos bem sucedidas.
Agora, depois de três anos livres daquilo que parecia ter sido um pesadelo, me vejo outra vez tendo que lidar com o fato de que meu filho é uma outra pessoa, um ser humano único, com um caminho próprio a trilhar. Por mais que eu queira, jamais vou poder viver as dificuldades por ele. Então preciso cuidar de mim. Estar bem, inteira ao lado dele. Para o que der e vier.
Não preciso mais ser bem sucedida em nada, apenas fazer o meu melhor de cada momento, respeitando minhas próprias limitações. E isso tem que me bastar. Na caminhada junto aos meus filhos, assumo minhas responsabilidades, mas não quero mais a companhia da culpa. Uma bela missão se estende à nossa frente: sermos felizes, mesmo em meio à tempestade. E, quanto mais leves estivermos, melhor.
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
11 comentários:
Lindo texto Helena! Parabéns e obrigada! Beijos com saudades, Inessa
Helena, tenho certeza que sua força vai encontrar a melhor forma de estar ao lado do seu filho no caminho dele. Alias da sua filha linda também e todas nos.
Parabens!
Pelo aniversario!
Pelo Filhos!
Pelo força!
E por compartilhar essa historia aqui!
Luisa
É preciso muita coragem pra se colocar vulnerável, em dúvida ou cheia de culpa diante do mundo; coisas que só uma mãe é capaz de fazer, diante da sociedade maluca que vive cobrando uma perfeição que nunca se atinge por maiores que sejam nossos esforços.
É preciso também muito peito pra decidir dar uma medicação forte como a que teu menino toma, muitas vezes indo contra a convicção de que um tratamento alternativo cairia bem...
E, principalmente, para continuar sendo mulher, esposa, trabalhadora, filha, amiga... além de ser "só" mãe.
Beijo e força aí, que nossos filhos merecem todo o nosso amor e todo o empenho para que sejamos felizes, pois é com nosso exemplo que aprendem que também podem ser felizes!!!
Ingrid
Helena,
Parabéns pela franqueza de suas palavras. Bonito ver, que vc com os anos, pode realizar que apesar de todos os fatos ocorridos, não foi a ausência o único fato gerador. Sei quantas vezes chorou em pensar que vc era culpada de tudo.
Infelizmente estamos passando por isso denovo, não queríamos ter que passar novamente por esta caminhada incerta, não saber o que gera, não saber o que dispara, não saber quando vai acontecer denovo, não estar por perto para dar assitência, não poder ser a mão que irá acariciar a cabeça do Luiz Gustavo toda vez que algo lhe acontecer.
Acredito que temos um filho especial, que tem um sensibilidade extraordinária, que pode perceber sentimentos mais profundos, enrraizados e não comentar.
Talvez este seja o nosso desafio, fazer com que nosso pequeno brilhante consiga expressar seus sentimentos mais profundos de maneira aberta, tranquila e saudável.
Parabéns novamente pela coragem do seu texto, pela a luta dos últimos anos e a superação alcançada.
Beijo
Gui
Arrasou!
A realidade é muito mais "encantadora" do que imaginamos. Chega de idealizar a mulher, chega de mulheres-maravilhas. Nós nos exigimos coisas absurdas e por mais que o discurso seja politicamente correto, lá estamos nós, mais uma vez em busca da perfeição.
Parabéns pelo texto simples, verdadeiro e REAL!
Beijos,
Camila Morais.
OI Helena
Quando andamos de aviao, a aeromoça sempre diz: "primeiro coloque a máscara em você e depois na criança que está ao seu lado".
À primeira vista, parece uma injustiça, pois um adulto sabe se virar melhor que uma criança. Mas se o adulto não estiver em condições ("inteiro") não poderá ajudar a criança.
Acho que é mais ou menos por ai.
Só posso lhe passar a minha solidariedade e dizer que às vezes essas coisas acontecem também a mim como mãe
Um abraço carinho
Ana Isabel
Amiga linda, nosso caminho pode ser tortuoso mas é só nosso, e assim é e será o dos nosso filhos, muito pessoal. A expectativa como mãe é de estar presente e ser capaz de dar a mão pois os passos... esses só eles podem dar!
Que vc e o Guilherme tenham mãos firmes para apoiar seus filhos! Que eles cresçam em todos os - sentidos - com essa caminhada.
Beijos, saúde pro pequeno.
que coisa, ontem estava tentando colocar em palavras pro meu marido esse sentimento que tenho, de as vezes olhar minha filha e pensar "ela é outra pessoa, nao é uma extensao minha, as vezes quase nao a reconheço", mas ele nao entendeu. fiquei pensando se era mais uma neura so minha, mais um pequeno detalhe nessa bagunça de sentimentos de ser mae de primeira viagem e voilà, leio esse texto bem no dia seguinte. que bom, como das outras vezes, valeu a pena dar uma visitada nesse site de voces. Um beijo, Monica
Sua franqueza e o amor pelo seu filho já te fazem a mãe que você é ! às vezes me vejo assim também, culpada, sabe Deus pelo que..são sentimentos comuns às mães. Mas cheguei a seguinte conclusão: O amor é algo que só quem sente de verdade sabe oque é, e ele é tão forte tão forte que consigo traz os desmandos naturais de um sentimento grande assim. Mães fortes, filhos fortes! Felicidades, vcs merecem.
Ah, eu vivo dizendo isso, qdo nasce um bb, nasce um pai, uma mãe e a culpa!
Infelizmente acho que nunca vou me livrar da cula, desde uma simples queda da cama, uma doença que vc não quer dar antibiótico ou anti-térmico, ou se a mãe quer medicar.
Todas nossas escolhas são questionadas!
E mais uma coisa que lembrei, segundo a antroposofia, os filhos escolhem os pais e os irmãos, então, ele escolheu vocês!
Bjo1
Cath da Laura 1a9m PD
Queridos,
Obrigada por todas as palavras de apoio e compreensão. Apenas quando dividimos nossas dificuldades, percebemos que não somos os únicos enfrentar as mesmas situações, então nos sentimos abraçados e mais fortes para prosseguir.
Aos poucos, vamos encontrando paz ao lidar com as coisas que não são extamente como queríamos, perdoando aos aoutros e, principalmente, as nós mesmos, com todo amor.
Com muito carinho, Helena.
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