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por: Tata
Hoje, 27 de janeiro, é aniversário da minha mãe. E nessa data tão especial, vou pedir licença a vocês para fazer diferente. Hoje, ao invés de falar sobre ser mãe, vou falar sobre ser filha.
Eu acho que o que a gente vive como filhas, desde a barriga, nos primeiros anos e pela vida afora, tem uma grande influência no que a gente vai viver depois, quando chega a hora de ver a barriga crescendo e receber nossos próprios filhos no mundo. Pode ser que a gente siga os passos ou negue totalmente o que nossas mães fizeram conosco. De um jeito ou de outro, a experiência delas pesa, tem sua importância.
Minha mãe é uma mamífera roots, como eu costumo dizer. Intuitiva, porque naquela época (final dos anos 70) o acesso à informação não era nem de longe tão fácil e simples como é hoje. Não havia internet, blogs, lista de discussão. E mesmo assim, ela optou pelo parto natural, pela amamentação, pelo tratamento homeopático, por uma alimentação natural, pela educação não-violenta, pelo caminho da empatia e do diálogo, por ficar em casa acompanhando a primeira infância dos filhos ao invés de sair pra trabalhar todos os dias e só voltar à noitinha.
Foi por tudo o que ouvi dela, desde que me entendo por gente, que sempre desejei parir minhas filhas naturalmente. Se nunca tive medo da dor do parto, foi porque sempre ouvi os comentários sorridentes dela entre uma história e outra, dizendo que tinha ficado meditando na sala de espera do hospital, e que não entendia porque as outras mulheres gritavam tanto, já que a dor não era tudo isso.
Se eu quis tanto amamentar, e o fiz sempre com tanto prazer, e com tanto amor, foi por ter visto sempre o brilho imenso nos seus olhos, ao nos contar o quanto era delicioso ter um bebezinho pendurado no peito, mamando contente.
Se hoje, com minhas filhas, eu opto sempre por caminhos não-violentos, se não economizo carinho, toque, afeto, compreensão, é porque tive tudo isso na minha própria infância, e sei do fundo do coração o quanto foi importante, e o quanto faz a diferença na pessoa que me tornei.
É claro que algumas opções que fiz foram diferentes das dela. Essa é a minha história, afinal. É a minha vez de ser mãe, de errar e acertar pelas próprias pernas. Eu não quero repetir a experiência dela, quero viver a minha. E cada vez que escolho um caminho para seguir com minhas filhas que talvez ela mesma não tivesse escolhido, ela me presenteia com seu apoio, com sua presença, respeitando meu espaço e minhas opções, mesmo quando não as compreende, ou não concorda com elas.
Ser mãe, afinal, é isso mesmo: dar espaço pros filhos crescerem, ganharem asas e voarem pelo mundo cheios de liberdade. Como ela fez comigo, e como eu espero saber fazer quando chegar a minha vez. Doar minhas filhas ao mundo com a mesma doçura, com o mesmo amor, com a mesma genrosidade com que ela abriu os braços para me deixar ir.
E é por tudo isso que hoje, quando essa grande mulher, guerreira, doce, mãezona, meu maior exemplo de vida, minha referência, grande companheira de caminhada, um amor intenso e inteiro que cultivo no peito, completa 50 anos, uma idade tão emblemática, eu não poderia falar de outra coisa. 50 anos sem esconder idade, sem crises e sem neuroses, sem vontade de voltar no tempo, transbordando serenidade, alegria e paixão pela vida. Pra mim, como mãe, como mulher, um exemplo.
Mãe, feliz aniversário. E embrulhado com laço de fita, vai aqui um imenso e açucarado obrigada. Obrigada pela filha que eu pude ser, caminhando de mãos dadas contigo. E se hoje posso ser essa mãe mamífera-xiita-radical-sem-perder-a-ternura para minhas pimentas, é em grande parte também graças a você.
Imagem: arquivo pessoal (a aniversariante do dia, Liliana, ou 'vovó Lilica', como é chamada pelas pimentas, curtindo a netinha caçula Chiara)
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
5 comentários:
Lindo, Tata! Toda licença do mundo pra inverter o papel narrativo aqui, já que todo mundo é filha antes de ser mãe! Que maravilha ter uma mãe tão fascinante como a sua... Mande meus sinceros parabéns, pelo aniversário e pelas escolhas feitas ao longo da vida, pelo exemplo que ela deixou pra ti e através de você, para todas nós...
Ai que legal!!! E ela ainda é uma vó toda chiquetosa!!! Um beijo pra ela aquariana como eu!!! :D
Me pus a chorar ao ler o post de hoje !!!
Em sempre tive uma relação ótima com a minha mãe, ela sempre foi minha amiga, companheira, conselheira, mas é engraçado como qdo invertemos os papéis, ou seja, qdo viramos mães, os sentimentos por nossas mais mudam de maneira inexplicáveis....sei lá...parece ficam mais intensos!!!
Parabens a vó Lilica
Ai Tata, lindo texto! Ate me emocionei...
Embora eu nao tenha tido essa relaçao linda com minha mae, hj faço de tudo para recuperar o tempo perdido e tento dar o maximo de carinho e atençao a minha pequena.
Bjs
Que declaração de amor mais linda! Eu tbem me emocionei muito! Parabéns pras duas lindas e super mamães!
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