por: Kalu
Sempre fui a favor de atender a todas as demanadas emocionais do meu filho. Não deixar chorar, estar presente, participar das brincadeiras, minimizar as dores com peito e carinho. Continuo defendendo isso com toda a força do meu coração e "mamifericidade" de minha alma. Mas a maternidade é um eterno aprendizado.
Sem perceber estava sendo boa demais, carinhosa demais e sentindo culpa e dificuldade de me encontrar no meu espaço. E, sobretudo, não sabendo colocar limites para meu filho. Acho que minha referência de limite é uma mãe brava, dando tapas e gritos, conseguindo filhos de propaganda de margarina porque eles morriam de medo de acordar a onça raivosa. Minha mãe era um pouco assim. E essa é a imagem que sempre quis combater e fazer diferente
Nesta busca acabei errando na dose de açúcar e a relação estava enjoativa. Eu atendia as solicitações do Miguel quando eram com choro (de um tombo, de sono, de fome, a toa). Mas quando ele estava bem, alegre, brincando, eu acabava deixando-o para fazer minhas coisas.
Resultado, Miguel passava o dia chorando, pedindo peito, resmungando, miando, grudado na minha perna. Eu me sentindo culpada por não poder atendê-lo a toda hora, confusa, perdida. Até que meu santo marido me disse que estava sendo boa demais, que não estava ensinando ao Miguel que há um limite para a vida dele e para minha.
Conversei com a professora que sugeriu que eu dissesse a ele que determinado lugar era o canto para ele chorar. "Nunca coibir o choro, mas tentar entender porque ele está manifestando seus sentimentos desta forma".
A primeira coisa que fiz foi dizer para ele, a noite, antes de dormir, que se ele chorasse a toa, teria que faze-lo no sofá da sala e não mais grudado na minha perna. No dia seguinte de manhã o chororo começou: não queria tomar banho, colocar o sapato. Então deixei ele lá e quando ele parasse ele se arrumaria para ir na escola. Fiquei ao lado, parada, esperando. Foi uma verdadeira catarse emocional, como uma febre da alma. Ele chorou muito e eu dizia: para sair é só parar. De repente, ele parou. E fez as coisas sem choro.
Quando chegou da escola, dormiu no carro e ao acordar, com o comum mau humor vespertino, lembrei-o do sofá e ele parou na hora. Eu dizia: lugar de chorar é no sofá. Dei peito, almoço, num silêncio e alegria que fazia tempo que não escutava.
Passei a dar peito quando ele estava sem chorar (exceto quando cai). Se ele está com sono, agora ele pede: mamãe, to com sono. me dá mamá? E não há mais aquele chororô infinito e irritante.
Parei de sentir culpa por precisar trabalhar em casa. O que tenho feito é explicar: a mamãe vai te dar almoço e depois você brinca com a Renata (Babá) e depois a mamãe brinca com você. E ele tem aceitado com grande alegria porque quando estou com ele, me faço inteira e presente. Deixo a porta do quarto aberta e vez ou outra ele me traz uma flor ou pede "um poquinho de peitinho". Paro um pouco, dou peito e ele sai serelepe por aí.
E mais uma vez a maternidade fortalece uma lição espiritual: Nem fouxa, nem apertada. Para fazer música é preciso encontrar a flexibilidade com a rigidez da corda para fazer produzir a nota.
Foto: Arquivo pessoal - foto de Kalu Brum - Todos os direitos reservados.
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
11 comentários:
Que lindo blog!!! Quanta informação!!! Conheci o blog de vcs por uma seguidora do meu...gostei muito!!!! E com certeza queria ter conhecido antes!!! Mas como vc sou uma blogueira recente e estou amando esse novo mundo!!! Dê uma olhadinha no blog....gostando, please, divulgue!!!!
www.depreposparto.blogspot.com
Bjs.
Jú
Ser mãe devia vir um manual, e filho tb devia ter manual, gostei do seu post, me fez enxergar coisas que acontecem comigo por outro angulo. ser mãe não é facil mas é bom.
Oi Kalu!
Há tempos que não comento... :)
Gostei bastante deste post, a gente tem que conseguir afinar o instrumento da maneira correta para poder exigir dele algum som depois, né!? Acho linda essa analogia! :)
Comigo acontece o mesmo, às vezes tenho a impressão de que estou exagerando na dose de açúcar, como vc disse. Na verdade quando é aquele chororo artístico, não ligo muito e o Uriel pára em seguidinha. O problema é que a gente protege demais quando ele cai ou bate em alguma coisa. Agora nesses momentos em que quer atenção ele se joga no chão fingindo ter caído ou bate com as mãozinhas na parede para dizer que se machucou. hehehe... é engraçado, mas estou começando a dizer para ele levantar sozinho, para ele não se machucar de propósito... mas é uma fasezinha trabalhosa, né não?!
Bom, mas que é uma delicinha é!
Beijos
Lívia do Uriel (18 meses)
Mais uma vez: lindo post, Kalu.
Já cheguei a pensar, como a Tenikey, que mãe e filho deveriam vir com um manual. Mas, apesar da dificuldade de ser mãe e educar os filhos, desisti de querer esse tal manual. O gostoso é passar pela tempestade pra encontrar o arco-íris. Pode parecer romântico demais, mas depois que alguns temporais aqui com minha pequena, já encontrei o árco-íris algumas vezes. A gente cresce demais com isso, e consegue ver do que nós mesmas somos capazes. Quase sempre muito mais do que imaginamos.
Vou salvar esse texto. Aliás, acho que vou imprimir e colar na parede. rs
Meu filhote me ensina mais que eu a ele, mas ainda tenho tanto a aprender...
Obrigada, Kalu, por dividir conosco sua experiência com tanta sinceridade e humildade.
Por estas e outras sou fã de vocês.
Beijos!
Puxa vida Kalu!! Vc deu uma aula com esse post. A minha filha ainda é pequenininha e ja estou vendo q tenho a tendencia de ser mae-açucar, de procurar entender os sentimentos e choros (nao vejo como ser diferente!). Sei q vai chegar essa fase, de impor limites e vc explicou q isso é possivel e a reaçao positiva do Miguel reforça o fato de que ele sta entendo como as coisas podem funcionar, sem os choramingos "à toa" durante o dia! Adorei! Beijos
''a maternidade fortalece uma lição espiritual: Nem fouxa, nem apertada. Para fazer música é preciso encontrar a flexibilidade com a rigidez da corda para fazer produzir a nota.''LINDO!!
Uma delicia esse blog..
Kalu!
Adorei o texto, mas discordei do título. Você foi uma mãe boa demais quando percebeu o problema e procurou solucioná-lo, entendendo o próprio erro.
Antes estava falhando, não era boa demais!
O que acha??
Julien - Deixei um recadinho lá no seu blog. Parabéns por ele.
Tenikey - Ser mãe é um aprendizado constante e delicioso por isso tb.
Livi - eu nunca fui muito encanada com tobos do Miguel, mas é legar deixar nossos pequenos aprenderem a cair e levantar e estarmos por perto para acalentar e incentivar quando conseguem.
Isabella - eu brinco que o manual existe e chama-se nossa intuição. No meio da tempestade as vcezes é difícil parar e ouvi-la.
Dani e Fernanda- Obrigada pelas lindas palavras...
Journal de Béatrice (não sei seu nome) - Acho que a gente sempre deve fazer o que o nosos coração pede e refletir sempre.
Carol - A expressão mãe boa demais é do livro Mulheres que correm com os lobos. Quer dizer que devemos ser mães boas. Quando somos demais, isso é um problema. Como eu que estava tendo dificuldades de encontrrar uma forma de dar limites sem violência. Esse "demais" estava gerando um impacto negativo no comportamento do Miguel.
Um beijo para todas
Entendi, Kalu!
Kalu, peço licença pra fazer só um comentário... a idéia do cantinho do choro me pareceu bem estranha. Porque a sensação que fica, pra mim, é que chorar é algo errado, e se você quer fazer esse algo errado, tem que ficar num canto, pra não incomodar ninguém, sei lá. Aqui com as meninas, quando elas choram, eu entendo como uma manifestação legítima que pra ela, naquele momento, é necessária. Mesmo que seja pra extravasar um sentimento que ela não está conseguindo vivenciar de outro modo... e se aquela não é a forma adequada de expressar, por qualquer motivo, eu acolho o sentimento, converso e tento ajudá-la a encontrar o caminho para o alívio daquele sentimento, e aprender uma forma melhor de demonstrá-lo, da próxima vez...
de resto, amei a comparação com o instrument musical!!!
bjo lindona...
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