Imagine um ser, que nunca foi tocado, que nunca viu a luz, ser recebido de cabeça para baixo, tomar uma palmada no bumbum, cegado por uma luz artificial que serve para que o "dotô" veja melhor as coisas e esfregado por um pano áspero assim que chega a esta Terra?
Não há outra coisa a fazer senão gritar a plenos pulmões e orgulhar os pais que acham que o choro é sinal de vida. Mas não é. É dor, pura dor, como da mulher anestesiada que com um pano azul tem sua barriga cortada. Um choro que clama por respeito. Respeito pelo modo de nascer, sem ser arrancado do ventre, sem receber doses de anestesia, sem ser afastado do universo conhecido que é o braço da mãe. Choro de quem queria ser abraçado e expelir naturalmente o líquido dos pulmôes. De quem queria ter tido um braço vivo para segurá-lo com amor e um peito disponível para mamar. O cordão no tempo certo ser cortado e enquanto isso não acontecesse, mamaria.
Nada de tubos nas narinas, colírios para prevenir uma conjuntivite causada por gonorréia e injeção de Vitamina K. No lugar da balança fria, o braço quente da mãe, um pano macio a aquecer o corpo. O quarto escuro, o silêncio bailante com a música que a mãe escolheu para o parto, o cheiro das entranhas, do vernix da pele do bebê. E não há separação por nemhum momento. Do colo da mãe, para o braço do pai. Olhos despertos, sentidos aguçados, para depois dormir o sono dos justos.
Acredito que defender o direito de nascer sorrindo deveria ser nossa segunda luta, que nasce com o direito de parir plenamente. Esta dupla anda junta. Um parto humanizado proporciona ao bebê um nascimento menos traumático, mais humano, pleno de significado.
Se não podemos impedir todos os sofrimentos da vida de nossos filhos, podemos fazer da primeira experiência a menos traumática e mais saudável para ambos. E parir em casa, neste contexto, se torna convidativo. Mais do que o direito de parir naturalmente a escolha pelo meu parto domiciliar surgiu porque queria que meu filho vivenciasse a naturalidade em cada instante. Sem brigar com os protocolos do hospital. E a lembrança de seu semblante sereno e seu cheiro de vida são memórias que guardo como grande vitória no arquivo da minha vida.
E você, se pudesse, como gostaria de nascer? Sorrindo ou chorando?
11 comentários:
Eu gostaria de nascer... simplesmente. Sem regras, sem dor, para ficar com a unica coisa que significa, entao, pra mim, minha mamae...
Eu nao tive absolutamente nada sso qd nasci, mas pude dar aos meus filhos um nascimento digno e seguro.
E tenho certeza que, em parte por causa disso, eles farão parte de uma nova humanidade.
Uma humanidade tao íntegra qt foram seus nascimentos....
Sem dúvidas que eu gostaria de ter nascido assim.
A cada dia que passa, a cada texto que leio, mais sinto vontade de ter um parto domiciliar.
Vamos ver...
Bjos!
Lindo o post Kalu!
Coisas da vida: hj em dia a gente tem que "brigar" para nascer sorrindo!
Queridas, estou numa blogagem coletiva contra os "capitais" da matrix que deturpam coisas belas!
Linda,
Precisamos de uma força com essa blogagem coletiva aqui no Mamãe Antenada!
Link:
http://mamaeantenada.blogspot.com/2009/11/blogagem-coletiva-carregando-com.html
Beijão e força!
Dydy - Eu também fui nascida e pude, através da minha história de desconstruções, fazer o mesmo por meu filho.
Maíra - O parto domiciliar é uma escolha sábia. Eu sou super ativista. Espero lhe encontrar num destes encontroas aqui em BH.
Perola - A gente tem que lutar por uma alimentação sem agrotóxico, por um tratamento digno, pagar mais caro por uma escola alternativa. A matrix se tornou a regra. Estamos fora, graças a Deus. rs
Kalu, quando o Teo estava para nascer, eu decidi pelo hospital por achar que tendo uma equipe humanizada a coisa seria diferente. Mas, não sei se foi a falta do pediatra (que eu julgo muito importante para quem vai ter em hospital), eu não consegui evitar que ele ficasse na UTI por dois dias sem uma real necessidade.
Por isso, hoje vou brigar até meu último fio de cabelo pelo meu PD. Não quero ter que passar por toda aquela chateação de novo.
Adorei o seu post!
Beijo
Lindíssimo o post, Kalu. A cada dia que passa me orgulho mais e mais de ter dado um nascimento digno para a minha filha. Acho que esse é modo de começar a vida "com o pé direito"! :)
Ângela (da Marina, 19 dias, PD)
Lindo post, Kalu!
Cada vez mais e mais a vontade de ter um PD vai tomando conta de mim. Com tudo que tenho lido, tanto aqui como em listas, vejo o quanto é lindo nascer sorrindo e, nada melhor que nascer sorrindo no aconchego do seu lar.
Beijos!!!
Kalu, querida!!! Muito bom o texto. Eu não nasci assim, mas a minha filha nasceu, tranquila, do jeito que merecia e mamou com o cordão pulsando o quanto ela quis. Foi lindo!
Nesse meu próximo bebê será assim tb, porque, pela regra, ela nascerá em casa, e, se tiver que ser no hospital, será com uma equipe que respeita e aceita as minhas escolhas, portanto, ele tb nascerá sorrindo.
Um sorriso procê!
Beijos
puxa, kalu, nem me fale, que eu fiquei fula da vida quando, depois de um TP em casa tão maravilhoso, vi ,eu filho ser segurado como uma salsicha de cabeça pra baixo no hospital. Uma pena! pena mesmo esta falta de respeito que os hospitais tem com o nascimento.
bjs!
Gostaria muito de ter tido parto natural. O meu foi normal, com direito a episio, anestesia (ao invés de analgesia) em excesso, péssimo tratamento enquanto ser humano, mãe e mulher, decúbito 100% horizontal, manobras de Kristeller violentíssimas (perdi toda motricidade e sensibilidade por 5 horas após o parto!!!)que me impediram de dormir de lado por 2 meses de tanta dor, além de hematomas na barriga, uma estadia de 2 semanas na UTI (meu bb teve hipóxia grave) e marcas psicológicas que carrego até hoje. São feridas que sei, nunca ciatrizarão. Mas pretendo transformar minha dor em uma bandeira, ajudando a humanizar o atendimento a muitas mulheres e seus filhos, na maternidade onde pagarei GO na faculdade. E quem sabe me engajar numa ONG ou mesmo virar obstetra.
Olá Kalu!
Gostei muito do texto que escreveu e adoraria colocá-lo no meu blog. Espero que não se importe. ;)
MJ
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