Tudo em minha vida vem sem muito planejamento, tempo de ensaio. Em cada ato vou procurando exercitar meus aprendizados profundos, oferecer o melhor de mim. Foi assim, quando me descobri grávida, morando em São Paulo, planejando viajar para Índia. Não era casada, meu namorado estava a 700km.
A princípio teria um parto natural hospitalar com um médico cesarista em um Hospital bambambam de São Paulo para valer os anos de Plano de Saúde. Uma querida amiga disse: pé de caqui não dá jaca. Não dá para querer parto normal com cesarista. O que dirá natural.
E lá com 37 semanas, venho de mala e cuia para Belo Horizonte com planos secretos não revelados para família e amigos de um parto Domiciliar. E na hora P, tudo foi maravilhoso mostrando que a minha intuição era precisa. Tive um maravilhoso PD, com ritual da placenta.
Descobri a dor e delícia do casamento, encontrando meu papel (ou talvez não) de dona de casa. Ajustes no relacionamento e a mulher nasceu com contrações um pouco mais doloridas que a mãe parida.
Nada sabia sobre bebês e as listas/blogs de maternagem natural me ajudaram: nada de chupeta, mamadeira. Enxoval com peito, sling, banho de balde era o mais completo. E aos poucos eu me descobri uma mãe calma e intuitiva. Pediatra antroposófico, nada de alopatia, febres e doenças tratadas com muito amor e paciência.
Enquanto isso, depois da licença maternidade, o trabalho era tímido e, com um bebê mamão, era possível sentar e me dedicar a escrever. O bebê mamão começou a querer o chão, depois a rolar, engatinhar para bem além dos meus horizontes. Chegou a hora de pedir para alguém me ajudar por meio período. Uma anja veio e é como uma irmã mais velha de meu filhote.
Com pouco mais de 2 anos, Miguel começou a sentir falta de outras crianças, a pedir por amigos: queria diariamente ir na casa de vizinhos para brincar. Senti em meu coração que chegara a hora dele ir para escola. Adaptação lenta, com retrocessos alimentares e mamãezite na parte da tarde. Era meu pequeno pedindo por seu tempo com a mãe, atendido. Passei a encerrar meu trabalho mais cedo para brincar com ele no fim do dia (já que de manhã ele ia para escola).
Eu que nunca planejara em ser mãe, nunca pensei em deixar meu trabalho para cuidar de filho, me descobri realizada na maternagem. Quase 3 anos e a vida me aponta novos caminhos que não sei se estou preparada. Miguel ainda mama muito. Não sei se estou preparada para sair de manhã e voltar a noite. Confesso que me sinto confusa, naquele turning point da vida.
Por um lado grita meu talento e investimento em uma carreira de sucesso; por outro canta a mulher que nasceu tão recentemente e se apaixonou por peito, letras trocadas, brincadeiras mil. Um marido que diz que é a hora de romper com mais este cordão. E no meio, uma mulher de carne e osso que ocila, sem saber ainda que rumo tomar.
14 comentários:
Lendo uma mamífera escrevendo sobre o assunto, volto a pensar: como darei conta do bebê que está à caminho quando minha licença terminar? Tudo que não quero é terceirizar a maternidade, mas como não, se a necessidade me obriga? Dilemas...
"Descobri a dor e delícia do casamento, encontrando meu papel (ou talvez não) de dona de casa. Ajustes no relacionamento e a mulher nasceu com contrações um pouco mais doloridas que a mãe que nasceu."
Igualzinho aqui em casa...Ô dureza...
Kalu, este dilema me consome. Estas contrações também são muito doloridas. E eu ainda me sinto muito longe da luz...
Desejo que você consiga decidir e sentir paz em seu coração, porque sentir o coração em guerra é muito dolorido.
Beijos!
Minha querida Kalu, já te disse o que acho mas só pra reforçar ainda mais, você tem trilhado um caminho maravilhoso e está colhendo os frutos disso a todo momento.
Tenho certeza que vai continuar sendo assim porque simplesmente não existe outro jeito, você merece!
Beijos, sempre aqui!
Respeito quem tem a ideia de amamentacao tao longa, mas eu sou contra, acho que no maximo 1 ano e ja estarei pronta a deixar.
Pode ser um pensamento egoista, mas tbm sou mulher, profissional, amiga e sei que vou querer ter meu tempo e meu espaco alem de ser so mae.
Boa sorte na sua escolha!!
bjinhos
O texto parece que foi publicado sem nem uma revisadinha... Seguem algumas correções, a quem interessar.
1o parágrafo: A 700km (e não "há 700km" - HÁ só serve para indicar passado. Para distância ou futuro usa-se a preposição A)
4o parágrafo: naSceu (e não "naceu")
6o parágrafo: Sentar e escrever (e não "entar")
ultimo parágrafo: receNtemente
última linha: oScila (não "ocila," já que essa palavra não existe)
Kalu, minha querida!
Tenho certeza que você sairá desse dilema muito bem.
Só posso te dizer uma coisa: é menos ruim do que imaginamos.
É difícil achar o equilíbrio e por vezes falhamos mesmo: como mãe, mulher, esposa, profissional. Enfim, são mesmo muitos papéis para pouco tempo. O que eu faço é viver cada momento intensamente, como se não houvesse amanhã. Assim, por mais que eu falhe, eu não fico com a sensação de culpa ou arrependimento. Sei que a falha foi importante para fazer melhor numa próxima oportunidade e assim vou levando. Vivendo um dia de cada vez, resolvendo os problemas se/quando aparecem.
Eu sempre fui uma pessoa muito ansiosa, com mania de viver as coisas antes de acontecerem. A maternidade me ajudou muito a melhorar isso, acho que justamente pelo excesso de papéis a desempenhar sem tempo de conciliá-los perfeitamente.
Tome suas decisões com segurança, lance-se nelas e não tenha medo de voltar atrás se chegar a conclusão que deveria ter feito diferente. Entre erros e acertos, atingimos a nossa "perfeição". A perfeição que nos é possível. Aprendemos que perfeita de fato nunca seremos.
Ah, em tempo, voltar a trabalhar ou não, nada tem a ver com tempo de amamentação. Claro, serão menos mamadas. Mas essas poucas podem ser melhor ainda aproveitadas! ;)
Bjo grande,
--Polly, que te admira muito. Mãe de duas, trabalha 40h por semana, teve licença maternidade de só 4 meses, amamentou exclusivamente até os 6 e continua amamentando a caçula de 11 meses.
PS: Mais uma correçãozinha: "Ajustes no relacionamento e a mulher nasceu com contrações um pouco mais doloridas que a **mãe** que **nasceu**."
Meninas,
Desculpe-me pelos erros. Realmente o texto foi sem revisão e vou procurar ser mais atenta.
Anninha, eu ainda não tenho uma resposta a isso, mas acho que depois de estar com seu bebê no colo, passados alguns meses, você tenha mais clareza. Eu fiquei 3 anos em casa e me sinto feliz com esta decisão. É maravilhoso oferecer-me completamente a quem depende de mim quase que exclusivamente.
Carol, Acho que ser dona de casa e esposa, para mim, é muito mais difícil que ser mãe.
Dani, Dilemas são guerras que nos testam profundamente. MAs eles sempre trazem crescimento.
Cacau - suas palavras foram muito carinhosas e acalentaram meu coração. Obrigada pelo carinho.
Rezinha - Eu não tinha idéia de tempo de amamnetação até ter meu filho. Acho que há muito preconceito com a amamnetação prolongada. Eu hoje tenho certeza que o que cabe para mim é o desmame natural e acredito que ele se dará antes da primeira infância.
Bárbara, obrigada pelas correções.Espero que vc tenha gostado do texto apesar dos erros.
Polly - Vc é uma mulher sábia. Tenho certeza que dói mais em nós do que neles esta ausência. E experimentar com a certeza de que se não der certo é só voltar atrás é uma imagem que conforta. Obrigada pelo carinho.
Kalu, gostei do texto sim, apesar do comentario mal humorado sobre os erros :)
No momento ainda estou longe desse dilema, ja que o meu bebe ainda nem nasceu. Aqui na Inglaterra, onde eu moro, a licenca maternidade eh mais longa, e depois existe a possibilidade de trabalhar em tempo parcial (soh alguns dias por semana) ou de casa.
Pessoalmente, trabalhar de casa seria o ideal, mas ainda tenho que ver como vai ser para organizar tudo isso.
Olá Kalú... há muito tempo venho seguindo o blog, muito antes de saber e desejar-me grávida... Hoje cm 6 meses de gestação, cheia de dúvidas, incertezas e medos, estou aqui para dizer o quanto esse texto me tocou... Gostaria muito de ter o seu e-mail para trocar com vc algumas informações a respeito de médicos, escola, e outras questões de maternagem pois tb sou de BH e creio que como sempre sou ajudada pelo blog com os textos maravilhosos de vcs, também possa ser muito ajudada por vc que está aqui pertinho e pode me dar dicas das "coisas mais práticas" dessa nossa jornada!!! Um grande beijo e obrigada sempre pelos textos e informações cheios de sentimento!!! Vanessa...
Bárbara- O e-mail não foi malcriado não. Que bom saber que no primeiro mundo as coisas são mais amenas para a volta ao trabalho. Investir na primeira infância é construir uma sociedade amis saudável.
Nessa,
Meu e-mail é kalubrum@yahoo.com.br. Pode me escrever que aqui em BH tem um encontro de mãe que acontece no parque das mamgabeiras no último sábado do mês (27/10) no centrod e Educação ambiental, a partir das 9 horas. Pode me escrever que terei um grande prazer de acolhe-la nesta jornada fantástica que é a maternidade.
Beijos
Esse dilema estraçalha agente por dentro e por muito tempo! Deixei minha intuição me guiar, meu coração e não dei ouvidos as expectativas criadas pelo mundo a fora. tenho sido feliz nas minhas escolhas assim.
Os homens tem o papel de nos cutucar de vez enquando de nossa relação com os filhos, isso é muito benefico! Mas cabe a nós decidirmos o que nos faz mais feliz.
O que abate a mulher nos seus multiplos papeis não é apenas sobrecarga fisica em si mesma, mas as cobranças que ela se faz diante de si e dos outros.
qaundo decidimos por nós tudo vai bem!
Kalu, ao menos a escolha está em suas mãos. E mais ainda... vc pode fazê-la num momento, digamos, mais fácil (ou menos difícil). Afinal ele está com 3 anos!!!
Infelizmente eu, e a maioria das mulheres, NÃO TEMOS escolha e temos que voltar com 4 (agora 6) míseros meses.
E não temos escolha messssssmo! =(
Desejo discernimento a vc para uma sábia decisão.
Mas de antemão, não vejo grandes prejuízos em nenhuma das duas decisões. É muito bom qdo se tem em mãos duas coisas boas a se escolher. Isso não é problema, é solução!!! rsrsrs.
Kalu, apesar de todas as conquistas que as mulheres conseguiram, acredito eu que nunca na História da humanidade foi tão difícil ser mulher. Posso estar equivocada, mas antes era algo bem mais simples: casar, ter filhos, criá-los e cuidar dos afazeres da casa, vendo-os crescer com uma certa estrutura familiar. Hoje a mulher se vê obrigada e não mais possuindo um direito de ter uma profissão, sucesso, casar e ainda ser mãe! Tenho o meu talento que larguei para me dedicar à maternagem, como você, e me sinto privilegiada por poder fazer isso tendo meu marido para segurar as pontas dentro de casa e nunca me cobrando nada, mas isso é para poucas privilegiadas, infelizmente... Acho que hoje a mulher tem que reconquistar aquilo que antes era um direito mais primário e natural: o de ser mãe.
Esse meu comentário pode parecer chauvinista, mas nao é. Tenho o desejo e vou voltar a trabalhar naquilo que eu sonho, mas vendo a Kamila tão dependente de mim algo muito maior me pede para esperar, como você também fez e isso é maravilhoso. Acho que na verdade somos as tais privilegiadas por simplesmente ouvirmos a voz dos nossos corações no lugar de ouvir as loucuras, exigências do mundo moderno. Nós mulheres precisamos batalhar para conquistar isso também, o direito à maternagem em prol de uma sociedade mais humana, pacífica, amorosa, pois, se continuarmos assim, principalmente aqui no Brasil, não sei como será o futuro de nossas crianças com suas infâncias longe de suas mães, carentes de amor, ao sabor do que a TV traz para ver, consumir e com isso ganhando presentes no lugar de calor, presença, estrutura para o hoje e ao resto da vida. Infelizmente estou vendo esse filme bem de perto na minha família e as consequências não me deixam nada feliz. Fico preocupada com que tipo de pessoas a Kamila terá que topar daqui umas décadas.
Eu nasci por cesárea eletiva, não fui amamentada, mas pelo menos tive minha mãe sempre por perto... e hoje essas crianças que não tiveram direito a um parto, sem peito e ainda nem sequer com suas mães por perto??? Posso parecer pessimista, mas sinto um certo medo do que virá!
Ter a mulher de volta ao trabalho em 4 ou 6 meses (que meleca de conquista, né??) depois de ter seu filho para ficar 10,12 horas fora de casa e ainda ganhar uma merreca é fruto de uma sociedade capitalista desumana, imediatista, cruel com suas crianças e futuros adultos que sabe-se lá que problemas terão e trarão a essa mesma sociedade, só aumentando essa bola de neve. Quando cair a ficha que a mulher na verdade não tem direito a nada atualmente talvez a partir daí haverá uma mudança, mas o problema é que nós mulheres estamos iludidas com o tal comercial de margarina que nunca acontece nas nossas vidas, achando que temos o poder de decisão nas nossas mãos quando na verdade só somos moldadas por essa máquina opressora que só quer mais e mais poder e dinheiro as nossas custas e a de nossos filhos.
Ai...desculpe... a vontade que eu tenho mesmo é de morar no meio do mato, plantar meus orgânicos, mas confesso que não sou tão corajosa ou desprendida assim... Tudo bem...vamos seguindo, mas acho que começando por seguir a voz do coração deva ser o melhor a ser feito ou, se for possível, ter um mestre espiritual nesta vida para nos guiar!
Beijos e desculpe pelo desabafo, texto longo e confuso, mas acho que deu para entender, né? Estou aqui no PC a essa hora por não conseguir dormir por causa de uma baita gripe que começou!
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