Sei que parece estranho vir aqui no blog das Mamíferas falar justamente sobre desmame, e sei também que muita gente não vai concordar comigo, mas mesmo assim resolvi escrever sobre ele e contar minha experiência com amamentação prolongada e limitação das mamadas.
Antes de engravidar, minha idéia era amamentar meus futuros filhos até completarem um ano de idade, período pelo qual minha mãe conta que fui amamentada. Como todos os bebês que eu conhecia mamavam muito menos do que isso, um ano para mim já era mamação pra ninguém botar defeito.
Engravidei, conheci as maternas e mamíferas, conheci crianças de três, quatro anos que ainda se deliciavam no aconchego do peito de suas mães, e abracei a idéia do desmame natural, até quando minha filha quisesse. A Sofia nasceu, mamoma que só ela, mamou exclusivamente até os seis meses e hoje, com dois anos e sete meses, ainda temos a amamentação como importante peça na nossa relação mãe e filha.
Só que nem tudo foram rosas como eu imaginei sobre o desmame natural e a amamentação prolongada. Até cerca de um ano e meio de idade, a Sofia mamava praticamente em livre demanda, de dia e de noite. Comia igual a um mosquito durante o dia, mesmo eu evitando as mamadas próximas às refeições, e à noite acordava inúmeras vezes para mamar. Tudo era motivo para mamar, para acordar, para dormir, para se consolar, porque estava cansada, com fome, com sede...
O que aconteceu é que isso foi batendo no meu limite, fui perdendo a paciência, acordando todos os dias exaurida, começando a primeira mamada do dia já exausta das mamadas da noite, amamentando na maior parte das vezes sem a menor vontade, de saco cheio, falando em português bem claro.
É claro que isso não era bom nem para mim nem para ela, e depois de muito refletir, decidi que era hora de mudar nosso esquema de amamentação, e assim foi feito.
A primeira regrinha, foi que ela só mamaria no quarto dela, na poltrona. Já desestimula um pouco ter que parar de brincar, parar o que está fazendo para ir no quarto mamar, evitando as mil mamadinhas picadas entre as brincadeiras que eram muito comuns.
Depois, combinamos que não mamaria mais fora de casa. Outra coisa que para as mães de bebês pequenos é tão natural, mas com o tempo vai casando, é ter que escolher a roupa em função do fácil acesso aos peitos. Não foi por vergonha de amamentar criança “grande”, tanto que todos que me conhecem sabem que a Sofia ainda mama no peito, mas eu não queria mais amamentar em todo e qualquer lugar, então para ficar uma regra mais fácil de ela entender e aceitar, o combinado era que só em casa podia mamar.
Pouco depois de completar dois anos, fizemos o desmame noturno. Fiz para ela um livrinho, recortando fotos dela e desenhando em volta várias cenas de sua rotina noturna, que terminava com ela mamando, dando tchau para o “mamá”, e indo dormir. Na primeira vez que contei a historinha, ela entendeu tudo, tanto que chorou só de ver o livro.
Mas em poucos dias ela entendeu que depois do tchau o “mamá” dorme e só acorda de manhã e parou de chorar. Ela ainda acorda às vezes, mas pergunta se já está de dia para poder mamar, eu falo que não, deito com ela, abraço, e ela volta a dormir.
Passado mais um tempo, limitei as mamadas para quando acorda de manhã, para fazer a soneca do dia e antes de dormir à noite. Fora isso, quando ela pede muito, pode mamar por dez segundos em cada peito (eu conto em voz alta). O engraçado é que quando falei isso dos dez segundos, imaginei que não daria nem pro cheiro para satisfazer a vontade de mamar, mas não é que funcionou?
Muitas vezes ela está chorosa, pede “quero mamar dez”, e com essa mamada rapidinha sai toda animada e feliz, mesmo que muitas vezes não chegue sequer a sair leite. E com o tempo, essas mamadas fora de hora foram diminuindo cada vez mais, na maioria dos dias ela não pede.
É assim que estamos hoje, com três mamadas pra valer e essas rapidinhas quando necessário. Ela curte muito cada mamada, não dá ainda o menor sinal de desinteresse natural pelo peito. Eu curto muito também, de um esgotamento com a amamentação, voltou a ser um momento extremamente prazeroso para nós duas, por conta destas regras, de ter respeitado o meu limite pessoal de amamentação prolongada.
Não sei até quando isso vai, não me imagino desmamando a minha filha totalmente em um futuro próximo, mas também não me imagino amamentando em livre demanda como era antes.
Resolvi comentar sobre esse assunto porque sempre aparecem nas listas de discussão mães exaustas, com bebês já crescidinhos e muito mamões, que pensam em desmame total por não estarem mais dando conta de sustentar aquela idéia inicial que a gente faz da amamentação livre e prolongada.
Mais difícil do que colocar em prática a limitação das mamadas, foi abandonar o ideal de deixar que minha filha fosse se desinteressando pelo peito naturalmente, que eu pudesse satisfazer toda a necessidade dela de mamar por quanto tempo quisesse. Eu não pude.
Optei por um desmame parcial e gradual como forma de preservar o prazer da amamentação por mais tempo, ainda que com menos mamadas, e assim vamos enquanto estiver bem para as duas, garantindo a equação mãe feliz = bebê feliz.
Tentei e tento fazer tudo da forma mais suave para ela, e acho que posso dizer que estamos caminhando para um desmame que embora não seja natural, continue sendo “mamífero”.
Imagem: www.gettyimages.com.br
19 comentários:
Oi Luciana. Belo post! Eu tenho um bebe de 6m e 23d que mama muito. Ele é um menino que adora peito..rss.. è peito pra td! Ainda bem que eu tb tenho muitoleite e gosto muito de amamenta-lo. Neste periodo do sexto mes, que está sendo bem dificil, ele esta mamando praticamente de 2 em 2 hs, mesmo com a introdução das frutas e sucos. Sei muito bem desta exaustão que vc citou. Pois para um bebe que dormia a noite toda direto desde os 3 meses, e agora acordar assim pra mamar..rsss. Haja folego! Eu estou bem cansada, mas nem me passa pela cabeça de desmama-lo agora. Sei que estamos passando por uma fase dificil, mas que depois td voltará ao normal, pq uma noite bem dormida pra nós que amamentamos é muita coisa.
Fico feliz que vc tenha encontrado uma maneira que seja legal pra vc e sua filha, assim as duas saem ganhando. Parabens pela amamentação prolongada, e pelo belo post, que nos incentiva e mostra que é dificil sim, mas impossivel, não.
Um abraço, Erika.
Legal seu post, exatamente porque muitas mães passam por essas dificuldades mas muitas vezes tem medo de serem julgadas por não conseguirem mais amamentar em livre demanda! Acho que eu também vou estipular uma rotina quando tiver filho grande e mamando, assim como você, acho legal!
Beijos!
Oi Lú, querida! Vc sabe que eu tb sou mamífera convicta, algumas vezes radical... E minha Sofia, assim como a sua, era uma mamona. Total. Sempre mamou em livre demanda. Quando ela estava com 2 anos e 9 meses, eu, sem paciência para fazer esse caminho tranquilo e calmo que vc fez para o desmame parcial, e já não aguentando mais amamentar, e aproveitando um machucado no meu peito, parei de amamentar. De um dia para o outro. Conversei com ela, expliquei que estava machucado, e que não tinha mais leite. E ela parou e não chorou. Foi assim, de uma hora para outra, porque eu estava no meu limite...
Mas ainda hoje eu não posso ficar sem blusa na frente da Sofia que ela quer agarrar, beijar e acarinhar os meus seios, rs... Acho que ela sente saudade porque fui radical. Se eu soubesse da sua experiência, certamente iria copiá-la. Achei muito bonita a forma com que vc fez, o carinho nessa mudança, e o respeito ao seu tempo e ao tempo da sua Sofia.
Parabéns. Beijos grande
Ana Lúcia
A Lucia decidiu sozinha a parar de mamar no peito, lá pelos oito meses de idade. Quem chorou e fez birra foi a mãe dela!
Mas no extremo é mais estranho:
Vi um video de um grupo de mães que acreditam que só a criança decide a hora de parar de mamar.
Confesso que senti alguma estranheza ao ver aquelas crianças de sete anos de idade penduradas no peito da mãe...
( http://www.videosift.com/video/Extraordinary-Breastfeeding-How-Old-Is-Too-Old )
Em termos de saúde física, o leite materno é o melhor alimento que há, fato. Mas e com crianças mais velhas, qual o impacto psicológico de continuar mamando? Elas se tornam crianças mais seguras, ou mais dependentes?
bjs
renato
http://diariogravido.blogspot.com
Muito bom o post, cada dia q passa aprendo amis com esse blog e com as mamiferas convidadas! ja ate salvei e guardei.
Ainda nao tenho filho, mas espero dar leite em livre demanda por quanto me for possivel e saber da sua experiencia ja ajuda demais!
bjinhus
Pois é, o Gael, com apenas 4 meses já estava com a mania de dormi mamando, hehehe, Para mim, agora é excelente pois é uma forma de determinar quando é o momento da dormida noturna, como se fosse o reloginho dele. Depois desta mamada, ele dorme até as 8h, direto. Mas isso não poderá ser sempre assim, penso como será quando tiver de dormir na casa dos avós, das tias e tios. Pretendo amamentar até os 6 meses, depois disso limitarei as mamadas para uma por dia (ou a noite, ou de manhã) e assim até secar de vez! Mas, tudo isso sem o minimos peso na consciencia, isso é importante!!
Perfeito esse post. Retrata muito bem o que certas mães passam. A gente ate que tenta ser heroina, mas as vezes ñ dá.
Fase do Ovo by Super Egg (Não sei seu nome). Nâo é bem assim. Com 4 meses é super normal dormir mamando e até desejável, não acho que seja a melhor saída começar a desmamar com 6 meses. A Luciana conta uma história de desmame parcial (veja bem, PARCIAL) de uma criança com mais de DOIS ANOS que já compreende e negocia horários e condições de mamada, porque a amamentação em livre demanda estava cansativa para mãe e consequentemente balançando o relacionamento mãe/filha... Não limite as mamadas antes de seu filho sinalizar que está preparado, tenho certeza que vc poderá amamentar por muito mais do que os 6 meses muitas vezes ao dia... Não é pq a criança tem 6 meses que está pronta pra ser desmamada... Além do mais, seu filho terá a vida toda pra dormir na casa de avós e tios, deixe que ele mame por enquanto o quando quiser... Pense nisso, ok??
Renato, minha opinião é que as crianças que mamam no peito e desmamam sozinhas são muito mais seguras do que aquelas que são desmamadas... Meu filho de 3 anos e meio ainda mama para dormir e não demonstra sinais de que vai parar e nem eu quero, acho uma delícia que seja assim...
beijos mamíferos!
Pessoal, adorei o retorno, achei que seriam mais críticas...
Mas eu tinha medo de ser mal interpretada, que fique bem claro que a minha filha tem hoje DOIS ANOS E OITO MESES e quase tudo que contei no post foi feito ela com mais de DOIS ANOS. A idéia é manter o prazer na amamentação PROLONGADA.
Iniciar o desmame após os 6 meses me parece muito cedo, eles ainda são muito bebezinhos e não compreendem as coisas de forma racional como nós e como as crianças maiorzinhas começam aos poucos compreender.
Fase do Ovo by Super Egg, a gente sempre consegue extender um pouco mais os nossos limites.
beijos!
Eu quero engravidar quando meu bebê desmamar. E não quero que a diferença entre os filhos seja muito grande. Desmame parcial é uma idéia genial, principalmente quando feito com tanta sensibilidade como você... Parabéns!
Oh orgulho!!!!
Lu, você sabe o qto aprendo com você e quantas cezes te procurei para saber a sua opinião, para conversar...!
E nesse setor amamentação...acho que aqui em casa o caminho vai ser parecido com o seu...afinal a Luiza também é uma mamona de marca maior!!!
Aprendo um monte sempre!! ADORO ter uma prima mamifera !!! Ter esse apoio na familia..(pelo menos de uma pessoa) faz toda diferença!!
Beijocas
Fê
excelente!!!
Me ajudou Mto!!!
A-do-rei o mama dez!!! Parabéns pela perseverança!!!
Carol
Minha filha desmamou sozinha com 1 ano exato. Ela que me pegou de surpresa, pq eu continuava preparada para amamentar muito mais tempo.
Nos primeiros meses praticamos a livre demanda. Perto do quinto mês, qdo eu voltaria a trabalhar, nós tivemos que disciplinar as mamadas para intervalos regulares. E não foi difícil fazer isso.
Do quinto ao sexto mês eu ordenhava leite suficiente para o dia todo (desde que fossem intervalos regulares, pq se fossem dar a cada chorinho, seria uma "estruição" grande de leite, e teria sido impraticável a amamentação exclusiva com a mãe ausente o dia todo).
Desta forma consegui que ela tomasse somente LM até o sexto mês. Para isso eu tinha que ordenhar mais de 1 litro de leite diariamente, "na mão"... rs. A noite e ao acordar eu dava leite direto do peito.
A partir do sexto mês, começamos a introdução de alimentos, e ela comeu de tudo bem demais e de primeira. De forma que com 7 meses já fazia bem todas as refeições (lanches, almoço e jantar). Continuei ordenhando leite para complementar essas refeições, como se eu estivesse ao vivo para dar o complemento. Mas muito rápido esse leite passou a ser desnecessário pq ela já se alimentava muito bem. Ela mesma já não queria mais o leitinho (não cabia mais... rs).
Foi qdo passou a mamar direto no peito, somente para dormir e ao acordar.
E com 1 ano largou o peito por contra própria e para minha surpresa.
Contei toda essa história para dizer que tb fiz o possível, o que estava ao meu alcance, no quesito amamentação. Talvez não tenha sido uma história de amamentação modelo, com livre demanda por tempo indeterminado, etc, etc. Mas foi o NOSSO IDEAL, foi o melhor que pudemos fazer. Talvez se eu não tivesse que trabalhar e permanecesse ao lado dela, a história fosse diferente, vai saber...
Mas é isso! Contei tudo para endossar seu relato de que existem histórias que fogem do modelo ideal, mas que mesmo assim são perfeitas e bem sucedidas, dentro de suas realidades.
legal ver uma experiência diferente e tão mamífera quanto as outras. acredito que a amamentação deva ser um prazer para mãe e filho, se não é, algo está errado, e o desmame parcial pode ser uma saída, sim. também é nosso papel, como mãe, saber ler os sinais dos pequenos e também estimulá-los a novas descobertas, novos aprendizados, inclusive em relação a amamentação. mas, obviamente, sempre respeitando o tempo de cada criança, e, mais, a sintonia de cada relação mãe-filho.
Adorei o post.
beijo
Poxa, gostei muito do seu relato.
Um desmame parcial é muito justo, bem melhor que tirar totalmente e de continuar no mesmo ritmo.
Afinal, com 2 anos (DOIS ANOS) já existem alguma comunicação interessante.
Como uma criança é diferente da outra, né?
Lu, adorei o "mamífera não ortodoxa"! Afinal, há tantas maneiras de ser mamífera quanto há mulheres no mundo... Superabraço.
Adorei!!! e vou aderir tenho um pequeno mamão de 1 ano e 10m q não apresenta nenhum sinal de desinterese pelo "peitinho mama" eu adoro amamentar mas confesso q as vezes fico p...pq p td quer mamar e eu quero q isso aconteça de modo suave para nós dois...vou aderir sua sugestão. Abraços
Nossa1 Muito bom!! tenho uma MAMONA de 1ano e 4 meses, e tá sendo um sufoco amamentar tanto. É toda hora, e é igualzinha sua filha: Mamá pra descansar, pra dormir, se tá triste, entediada, enjoadinha, brava, etc! Tô muito cansada de acordar 7z na noite pra ela mamar apenas 2 minutos ou menos. Fora, que tb ela tá abaixo do peso, pq mama tanto no peito, que rejeita comida, suco, outro tipo de leite. O pediatra dela passou Pediasure pra complementar a alimentação. Mas vou seguir seus passos. Colocar horários de mamar.
Adorei o livrinho vou afzer tb!!!
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