por: Tata
Essa semana, com duas das três filhotas doentes, uma após a outra, e com tudo potencializado por essa neurose da gripe suína que tem lotado os pronto-socorros, passei por uma situação pela qual já havia passado outras vezes, mas que mesmo assim, sempre me provoca uma estranheza e uma tristeza imensas.
Eu trato minhas filhas com homeopatias. Com soluções naturais para os desequilíbrios, com uma ótica não-intervencionista e holística sobre a doença. O resultado disso é que, as mais velhas com quatro anos e pouco, e a mais nova com quase três meses, nunca recorremos a antibióticos, nem mesmo a medicamentos alopáticos. E as meninas têm uma saúde de ferro. Raramente adoecem, e quando acontece, em dois ou três dias, no máximo, o organismo dá conta de se reequilibrar.
Mesmo assim, a cada vez que uma das três fica um pouco mais baqueada, o tanto de bobagens que eu ouço não está escrito, como se diz. Coisas como 'para quê fazer uma criança sofrer tanto, só para provar uma teoria?', 'não vale a pena ser radical só para estar sempre certa', e por aí vai. Já fui acusada de não expor minhas filhas a tratamentos mais invasivos por vaidade.
Sinceramente, me pergunto: como assim?
Não há nada, absolutamente nada, que seja mais fácil para mim no tratamento holístico, não-invasivo. Aliás, pelo contrário. Não medicar a criança significa atenção constante, muito colo enquanto dura o desconforto, noites em claro velando o sono agitado de um pequenino com febre, tosse ou seja lá o que for. Tratar sem remédios é muito mais trabalhoso. Exige muito mais de mim do que se, na hora do aperto, eu recorresse a um antitérmico, ou mesmo a uma 'bomba' alopática qualquer que desse conta dos sintomas e fizesse a criança se reestabelecer sem mais demora.
Por outro lado, para elas sim, o benefício de uma postura mais natural é imenso. A cada novo episódio de doença, o organismo delas tem a oportunidade de se fortalecer, combatendo o desequilíbrio sem ajuda de agentes externos, o que lhe garantirá cada vez mais energia para defender-se e reestabelecer-se em ocasiões futuras.
Vejam bem, não estou dizendo que quem medica o filho assim ou assado o faz porque é mais fácil. Acho que cada um sabe de si, de seus porquês, e deve bancar suas escolhas.
Mas quando se trata da saúde das minhas filhas, estar certa ou errada para mim não tem a menor importância. O que eu valorizo é optar pelo melhor para elas, sempre. Não há egoísmo nessa história.
E sinceramente, que tipo de mãe se pauta por vaidades pessoais na hora de fazer escolhas para os filhos? Bem, sim, há muitas, eu bem sei. Mas se eu tenho certeza de alguma coisa, é que eu não sou uma delas.
Aproveito para compartilhar com vocês, abaixo, uma letra da Legião Urbana que ouvi hoje, no carro, e traduziu muito bem meu sentimento no momento. Os grifos são meus.
E peço desculpas pelo tom tristonho do post de hoje. Mas não tinha como ser diferente. É apenas sinceridade. É o tom dolorido de quem dormiu menos de seis horas ridiculamente picadas somando as últimas duas noites, primeiro acordada com uma cria, depois com a outra, e no meio disso tudo ainda teve que ouvir bobagens dita por quem desconhece o significado da palavra empatia.
quando não há compaixão
nem mesmo um gesto de ajuda
o que pensar da vida
e daqueles que sabemos que amamos
quem pensa por si mesmo é livre
e ser livre é coisa muito séria
não se pode fechar os olhos
não se pode olhar pra trás
sem se aprender alguma coisa pro futuro
corri pro esconderijo
olhei pela janela
o sol é um só
mas quem sabe são duas manhãs
não precisa vir se não for pra ficar
pelo menos uma noite
e três semanas
nada é fácil
nada é certo
não façamos do amor
algo desonesto
quero ser prudente
e sempre ser correto
quero ser constante
e sempre tentar ser sincero
e queremos fugir
mas ficamos sempre sem saber
seu olhar
não conta mais histórias
não brota o fruto e nem a flor
e nem o céu é belo e prateado
e o que eu era eu não sou mais
e não tenho nada pra lembrar
triste coisa é querer bem
a quem não sabe perdoar
acho que sempre lhe amarei
só que não lhe quero mais
não é desejo, nem é saudade
sinceramente, nem é verdade
mas não consigo entender
eu sei porque você fugiu
mas não consigo entender
Imagem: www.gettyimages.com.br Letra: L'avventura, de Renato Russo
8 comentários:
Tata, vivemos a cultura do medo em muitas áreas, e em relação à saúde acrescente-se a isso o fato de culturalmente não termos auto confiança, confiança na nossa saúde e na capacidade do nosso organismo. Porque dissocia-se tudo. Pra medicina moderna somos um conjunto de sistemas físicos, um conjunto de órgãos. Pra vc e pra mim parece tão óbvio que o estado emocional está totalmente ligado ao estado físico, afinal somos uma coisa só, mas a medicina moderna despreza esse fato. Acreditar que nosso corpo tem o poder de combater os desequilíbrios, se reestabelecer sem remédios, hoje, é transgredir. E nadar contra a maré tem um preço: todos os palpites que ouvimos e que, em em momentos mais delicados - especialmente quando se trata dos nossos filhos - atrapalha demais nossa capacidade de tomar decisões conscientes e bancá-las. Infelizmente.
Minha filha tem quase 4 e tomou antibiótico uma vez na vida, junto com um xarope anti alérgico, por conta de uma alergia respiratória crônica. Cedi, admito, num momento de estresse muita insegurança. COm esse tratamento, ela ficou bem por 3 semanas. Depois a alergia voltou. E de quebra, com o desequilíbrio que o antibiótico causou, ela teve sapinho. Ainda lutamos contra esse problema de alergia, mas sem alopatias. melhorou bastante com um tratamento antroposófico, mas não digo que resolveu 100%. trabalhamos as questões emocionais tb, claro, mas isso não se resolve do dia pra noite. Não digo que nunca apelaremos para elas, acredito que há casos em que pode ser necessário, mas a experiência foi muito importante pr ggente.
Força e melhoras pras meninas!
Beijo
Re
Tata,
Nao liga pra quem nao raciocina.
Nao suprima as defesas de sua filha por medo de criticas. As pessoas querem mesmo é se manter em sua ignorancia e ai daquele que ameaçar destruir suas ideias com ideais. Nao estao fazendo contra vc, é contra si mesmos.
Mudar da trabalho e ninguem quer se sujeitar a se reconstruir e se reinventar.
Renato Russa tinha mta sabedoria...
Terá sempre...
Que vc tenha para permanecer em seus ideais e em sua fé.
Nos tropeços, nos desvios. Sempre aprendendo, sempre te amando. Mais e mais.
Oi Re, eu quero ser como vc quando crescer, viu? Estou só no meio do caminho,também nunca mediquei o Davi com alopatia, mas qdo ouço comentários à respeito da saúde dele qdo ele está resfriado, acabo ou me calando e mentindo sobre como cuido dele ou ficando brava demais sem conseguir argumentar o que eu acredito. Estou começando a aprender que tenho que ser mais firme e sem medo de discordar dos outros.Minha sogra já queria marcar horário em clínica para vacinar o Davi contra gripe e pneumonia sem nem me perguntar se eu queria vaciná-lo.Ao invés de dizer que eu nao queria , inventei que ele já havia sido vacinado, mas isso acaba fazendo mal pra mim que acabo nao expondo o que acredito e engolindo sapinhos diários...Por isso acho que vc está muito certa em dizer o que acha, agora quanto a ouvir temos que estar equilibradas para ouvir as asneiras alheias sem ficarmos chateadas ou irritadas , ainda preciso aprender como se faz. beijos.
Coincidências...
A gente foi se encontrar pela primeira vez na sala de espera de um consultório...Suas meninas são lindas! Parabéns!
Eu que não te conhecia pessoalmente, ao sair fiquei com a impressão de um "farol baixo"...
Agora lendo o post, entendi...
É fogo né...Sempre teremos que lidar com palpites, com nóis (dos outros), com os outros! Isso é um exercício!
Eu tô aprendendo ainda a lidar com a doença, a ter a ação holística e sei o quanto exige de uma mãe que se dispõe a isso. Só por isso, vc já está de Parabéns e tiro meu chapéu!
Melhoras para a pequena...
Beijo grande de carinho (a la Aurea...rs)
Pois é... o duro é enxergar o que quase ninguem enxerga.
te entendo totalmente, passo por esse enfrentamento toda vez que alguma coisa baqueia meu pequeno, de dentes a dor de barriga, de virose a um bad day qualquer (que bebê também é gente, o povo não entende, não respeita mal humor de bebê, já acha logo que tá doente, 'tadinho, dá um remedinho pra ele'... afe!)... Enfim, é FODA, mas que se foda, né? Sou eu que vou dar a homeopatia de 5 em 5 min se precisar, então, essa gente enxerida (que infelizmente muitas vezes são pessoas queridas e próximas) que me perdoe, ligo o foda-se MESMO. Mas sempre fico assim meio mal, como parece que você estava quando escreveu esse post. É muito chato mesmo as pessoas ficarem invadindo nossa vida a todo momento, questionando escolhas que são NOSSAS apenas, e de mais ninguém. Mas a nhaca desses comentários desagradáveis passa rápido (tenho certeza que com você é assim também, pelo pouco que te conheço daqui) e o que fica é muito maior, a saúde de nossos pequenos e a certeza de estar fazendo o melhor pra eles. Ponto pra nós.
beijo
meninas,
muito muito obrigada pelo apoio, pelo carinho, pelas palavras. por mais que a gente esteja seguro do caminho que escolheu, nas horas de fragilidade o peito aperta mesmo, e é aí que ter gente querida em torno, mão no ombro, palavra amiga, faz toda a diferença.
pé, você usou a expressão exata: farol baixo. era assim mesmo que eu estava, luz ofuscada. mas tenho certeza que não demoraremos para ter uma oportunidade de nos encontrar em outro contexto, farol totalmente aceso... =D
bjo!
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