
por: Rita Merlo (mamífera convidada)
Em um determinado momento da minha vida eu descobri que o relógio biológico existe mesmo. Simplesmente a gente acorda um dia e é como se a vida inteira a gente quisesse ser mãe, como se isso fosse uma prerrogativa para a nossa existência. É incrível!
Quando tive esse "clique", eu era noiva. Queria casar no dia seguinte e já grávida. A pressa sempre foi a minha característica mais marcante. Controlar tudo, até mesmo uma folha que cai da árvore, era a segunda. A maternidade me ensinou que eu estava dupla e redondamente enganada.
Não consegui convencer o noivo a adiantar as coisas, pelo menos no quesito gravidez. Tínhamos que construir a casa, juntar uma grana, essas coisas que a gente julga essencial para termos filhos.
Em 2003 casamos mais duros do que nunca. Eu não teria coragem de engravidar tão sem grana assim. Em 2005, tudo certo. Tínhamos alguma estabilidade e o meu relógio biológico disparou como uma matraca doida de novo!
Comecei a pesquisar tudo sobre maternidade. A minha sede de informação era enorme. Apesar de ter tudo muito do tradicional enraizado na minha mente, o meu coração pedia mais. Eu sentia que precisava dar uma outra condição de vida para o meu filho. Não materialmente falando mas, em termos de qualidade e estilo de vida.
Uma condição saudável, contra-mão de tudo o que eu mesma tinha vivido. Descobri o parto natural, a vontade de ter a minha filha da forma mais suave possível, de educá-la como um ser humano digno, respeitando esse planeta e todos os seres vivos que nele vivem. Cuidando para que o seu futuro fosse diferente das previsões que a gente vê nos noticiários diariamente.
Em fevereiro de 2005, veio o teste de gravidez positivo. Ah, quanta satisfação! Tudo como planejado: gravidez na primeira tentativa. O meu fluxo de caixa estava certo e calculado até o nascimento do bebê.
Eu acho que a maternidade começou aí. Desse teste positivo ao nascimento da minha filha, tudo foi uma aventura, uma lição para mim. Perdi o bebê com 6 semanas, e demorei 6 meses para engravidar de novo. Quando engravidei, tive 3 ameaças de aborto e fiz uma cerclagem uterina com 20 semanas.
Ao mesmo tempo que eu ia na contra-mão de tudo e todos, desde as minhas opções de parto até da escolha de não ter uma decoração cor de rosa de revista para o quarto do bebê, eu aprendi que controlar tudo é uma ilusão e que eu devia ter me livrado dessa armadilha o quanto antes.
Com poucas semanas de gravidez, passado o risco de aborto, começam as clássicas perguntas: vai marcar a cesárea? E eu, de peito estufado, retrucava sarcasticamente: “essa criança vai nascer por onde entrou e não se fala mais nisso”.
Com 33 semanas de gestação, ela estava podálica. E aí, vai marcar uma cesárea agora? “de jeito nenhum, estou usando homeopatia, fazendo exercícios e o Rodrigo (o pai) conversa com ela todos os dias, ela pode virar até em trabalho de parto!”. Ela nasceu de cesárea.
Investi então tudo na amamentação. A amamentação foi complicada, eu não tinha muito experiência, uma mamoplastia feita 10 anos antes, mas conseguimos! Eu tinha muito orgulho de mim mesma! Tive que contar com o apoio do meu marido e do pediatra pois mais uma vez, os palpites tradicionais de que eu estava deixando a minha filha passar fome tentavam me enlouquecer.
Nessa hora, eu já um pouco mais treinada, não rebatia ninguém, não enfrentava. Apenas mostrava uma filha saudável, crescendo muito bem e até acima das expectativas, como era absurdo insinuar que o meu leite era fraco ou insuficiente.
Mesmo com essa amamentação super bem sucedida, minha filha decidiu parar de mamar sozinha e precocemente com 9 meses.
As pessoas não compreendiam por que eu tinha que chacoalhar os peitos antes de amamentar, colocava a minha filha dentro de um pano amarrado e que ela não tomava vitaminas, não usava chupeta ou por que não estava sempre impecavelmente penteada! Juro! Até que a minha filha não ia ser uma menina vaidosa eu ouvi por não vestir um bebê de rosa e encher de babados, presilhas e afins como se ela fosse uma boneca.
Com o tempo acho que as pessoas vão se acostumando, se orgulhando dos resultados e quando menos você espera, se formou uma nova família, e você tem um monte de aliados ao seu redor. Mesmo que sejam até a próxima decisão fora da curva como retardar a vacinação ou até mesmo, não vacinar...
Hoje a minha filha é absolutamente saudável, feliz, come verduras e frutas, respeita os animais da casa e me ajuda a reciclar lixo, mesmo que ela não saiba ainda exatamente o que isso significa. Um dia ela vai saber e já vai estar incorporado em sua vida cotidiana.
É uma lição e tanto ir na contra-mão além do mais porque nem tudo o que eu que escolhi acabou saindo extamente como planejado, seja por causa do parto natural que não se realizou, seja por conta de amamentação complicada. Eu me via cobrada, brigando por tudo e ouvindo: “não disse, isso não ia mesmo dar certo”.
Mas, acreditem, a satisfação de ser independente, de arcar inteiramente com a responsabilidade de criar um bebê da forma como eu acredito, é imensurável.
Por isso, para cada mãe de primeira viagem que se vê acuada, cercada por leões muito bem intencionados mas, ferozes, eu não hesito em passar a minha experiência e afirmar: enfrente, bata de frente, assuma a maternidade que idealizou e acha certa para o seu filho. O resultado será recompensador.
Nada do que eu planejei se realizou da maneira como eu esperava. Nem mesmo a maternidade em si. Isso porque ser mãe é muito, muito melhor do que jamais eu poderia descrever nessas linhas. Tudo saiu ainda melhor do eu sempre sonhei!
Imagem: http://www.ecosapaixonados.com.br/mensagens_fonadas/Maes/imagens/mae03.jpg
3 comentários:
Rita, parabéns por tudo!
Acompanhei sua luta e nada é em vão.
Muito rico e lindo seu depoimento.
Boa semana pra vc e pra gata da Manu.
Tati e Enzo
Que lindo, Rita!
Também sinto que a maternidade está sendo uma avassaladora forma de me descontruir, renascer.
Beijos!
Embora defenda intensamente o aprto normal, acredito que a maternidade é muito mais do que parir pela vagina ou barriga. E vc prova isso ao escrever. Parabéns!!!
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