por: Tata
Uma frase que costumo ouvir muito de mães amigas sobre seu relacionamento com os filhos é a velha e boa justificativa: "ah, o que importa não é a quantidade de tempo que passo com meu filho, mas a qualidade desse tempo!!".
Sempre torço o nariz quando ouço esse tipo de argumento. Acho que, de uns tempos pra cá, esse conceito de que "quantidade não importa, o que vale é a quantidade" tem sido levado a extremos bastante equivocados.
É óbvio que de nada adianta uma mãe passar 24hs por dia grudada no seu filho, se nesse tempo está cansada, estressada, de saco cheio, sem paciência. Mas da mesma forma, pouco ou nada adianta ter uma hora por dia para brincar com o seu pequeno. Por mais divertida, fantástica e produtiva que essa uma hora seja, sessenta minutos diários para estar com uma criança simplesmente não são suficientes.
É claro que dá para aproveitar bem o tempo com os filhos, mesmo que esse tempo seja escasso. Com amor, boa vontade, a gente ajeita as coisas. Mas tem que existir um mínimo. Criança exige tempo, dedicação, não dá pra ser diferente. Uma criança é um serzinho em constante desenvolvimento, aprendendo, descobrindo, evoluindo e absorvendo a cada instante. Pense bem: o dia tem 24 horas. Dessas, provavelmente seu filhote passa entre 10 e 13 dormindo. Sobram onze. Você passa uma hora com ele. Com quem ele divide as onze horas restantes?
Sim, eu sei que, para muitas mães, essa escassez de tempo com os filhotes não é opção. Muitas vezes, a necessidade fala mais alto. Se é preciso, então que seja feito da melhor forma, dentro das possibilidades de cada um. Agora, o que eu vejo na maioria das vezes não é falta de opção, mas escolha. Mulheres que poderiam tranquilamente dedicar mais tempo diariamente aos filhotes, optando por não fazê-lo. As razões? As mais variadas possíveis. Não querer abrir mão de um bom salário, não querer deixar de se sentir "produtiva", não focar demais a vida nos filhotes, porque afinal um dia eles crescem, etc, etc, etc. Aí a mulher-maravilha trabalha o dia todo, chega em casa a tempo de uns quarenta minutos de brincadeira com o filhote e, durante esse tempo, ainda fica de olho no relógio, como se houvesse um 'schedule' rigidamente calculado, e uma vozinha lhe soprasse constantemente ao ouvido: "pronto!! você já brincou, já se conectou, já fez sua parte. agora vamos, você tem muito o que fazer!!".
A verdade é que fico triste pra burro quando ouço comentários de mães que trabalham avidamente, e mal curtem um tempinho diário com seus pequenos. Especialmente nessa primeira fase das crianças, os primeiros anos. Porque esse tempo passa rápido demais, e não volta. Carreira, salário, realização profissional, tudo isso dá pra correr atrás. Com garra e força de vontade, sempre dá. Mas nossos filhos só terão um, dois, três, quatro anos, uma vez na vida. Isso, depois que se perde, não dá pra recuperar, por mais que se queira.
Enfim, são escolhas. E como tudo na vida, não existe uma resposta absoluta. Seres humanos são complexos, e há nessas relações um sem-número de nuances.
Mas acho que o mais importante, e no fundo, o que eu queria mesmo dizer, era: curtamos nossos filhos. Eles não são "mais um afazer", não são um compromisso a mais na nossa agenda diária. Eles são um sonho realizado, são presentes divinos, são uma oportunidade de entrega e crescimento. Os filhos são pedacinhos de nós prontos para existir livremente, bater as asas e descobrir o mundo. E deixar de curtir esse espetáculo de camarote é uma decisão que pode doer para o resto da vida...
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10 comentários:
Concordo em grau, número e gênero com você.
renata :)
um dos marcadores que vc escolheu foi "polêmicas", e é mesmo. eu não gosto de frases feitas por princípio, e qdo vejo q estou repetindo uma eu paro pra prestar atenção se sou eu q penso aquilo. penso isso da frase sobre "o que importa é a qualidade blás". (tod)a frase (feita) pode servir de cortina de fumaça pra não entrar em contato com sentimentos. e nesse sentido compartilho com vc de uma antipatia por essa idéia.
por outro lado, ou por muitos infinitos diversos lados, é possível sim a gente estar afastada dos filhos pequenos boa parte do dia, e estar feliz. e a criança estar feliz. são as nuances que vc mesma reconhece.
a vida é a conjunção de infinitos fatores, e a gente corre o risco de cair no maniqueísmo ao acreditar que há mesmo modos bons e maus para se viver em termos absolutos. é o conjunto de histórias de vida de cada pessoa, mais as suas características comportamentais genéticas, que vão determinar ou influir na sensação do quanto se pode estar feliz e achar legal este ou aquele modo de vida. por isso há quem "trabalhe fora" e se sinta infeliz por deixar as cçs, há quem não se sinta infeliz, há quem fique o dia todo e se sinta infeliz, há quem fique o dia todo e se sinta feliz. É dentro da nossa vida que se processa a equação que vai determinar se tal coisa é bacana ou não, pra nós.
Ouvir, ver, conhecer experiências das outras pessoas é fundamental para formar nossa própria idéia das coisas, e sua forma de maternagem é para mim das mais prazerosas de se ver, e pode dar vontade em muita gente de fazer igual; eu mesma teria mudado umas coisas se tivesse sabido umas outras antes.
Mas teria que mudar muita coisa na minha história de vida (por ex, falando da minha experiência) pra que eu me sentisse plenamente feliz. Não que eu o seja plenamente hoje, mas nem tudo a gente muda sem derrubar cartas do castelo, sem mexer varetas do emaranhado que é o pega-varetas da vida.
Deixar as cçs na escola em tempo integral foi a minha fórmula. A primeira crítica que eu faço a esse modelo, e que abre um outro capítulo na polêmica, é a formação dos professores, e antes disso, os valores culturais da nossa sociedade: não estamos preparados para lidar com "os filhos dos outros". Eu idealizava um pouco o preparo dos cuidadores.
Por isso gosto do conceito de vila: é preciso uma vila para educar uma criança. Isso seria bacana. Todos envolvidos com a criação dos filhos de todos, com o mesmo amor, com o mesmo respeito, tolerância, abertura sem preconceito para acolher e mostrar o mundo, com conhecimento, amor, altruísmo.
Pra variar, assuntos que dariam livros :o) Tenho que ficar por aqui ou alugo o comment.
Beijos da sempre admiradora.
Não dá pra não concordar com o que você diz, mas eu não sei se conheço alguém que deixa de estar com filhos por opção. Se eu tivesse alguém pra me sustentar e pudesse ficar em casa com a minha baixinha o tempo todo eu faria, sem dúvida. Se pudesse pagar alguém pra fazer as coisas pra mim dentro de casa, seria outra coisa que teria com absoluta certeza.
Acredito que é válido sim investir na qualidade do pouco tempo que me resta diariamente com a minha filha e tenho certeza que faz toda diferença do mundo pra ela. Percebo isso em todas as atitudes dela e dentro das minhas possibilidades isso basta.
beijos queridas!
Belíssimo texto!
Também nunca concordei com essa frase: pra mim ela é mais uma desculpa de quem não quer passar muito tempo com o filho (ou com qquer outra pessoa, que seja).
Felizmente eu pude optar por deixar o trabalho e cuidar da minha filha. Tá certo que sou eu tambem que faço tudo em casa, mas, só o fato de poder acompanhar o crescimento dela, de ajudá-la a se desenvolver, já vale todo o esforço.
Lógico, tem dias que estou cansada, mas, parece que brincar com ela me traz toda a energia de volta. E toda essa atenção, percebo, se reflete no seu sono, no seu temperamento: ela é uma criança calma, tranquila, carinhosa e tem um sono tão gostoso que até invejo... risos.
Infelizmente, conheço sim uma mãe que optou não querer ficar com o filho porque "não aguento mais cuidar dele, quero um tempo pra mim, pra não fazer nada". Não, essa mãe não trabalha fora; ela já me confessou que dorme a tarde toda e deixa o filho no berço sozinho... juro, não aguentei, saí de perto, pra não brigar e assustar as crianças. Enfim, nem todas são mamíferas...
Olá Tata e demais mamíferas!
Lindo o que você escreveu, não só lindo como muito verdadeiro (confesso que até me emocionei no último parágrafo, em especial).
Quando estava grávida de 7 meses eu e meu marido resolvemos que eu deveria parar de trabalhar, ser mãe período integral. E foi a melhor decisão que já tomamos (depois da decisão de engravidarmos ;D)! Algumas pessoas torcem o nariz quando me perguntam com o que eu trabalho e respondo "sou mãe". Acham que eu sou nova e deveria trabalhar fora, ganhar dinheiro, fazer uma carreira profissional... porém minha resposta é sempre a mesma: "dinheiro depois dá de conseguir, se a gente precisa faz um esforcinho e consegue dar um jeito. Mas a infância do meu filho, estar com ele acompanhando seu crescimento, ajudá-lo a formar sua personalidade, enfim estar por perto sempre que ele precisar não tem preço, e se perco isso não tenho como recuperar depois." Aií me entendem e acabam concordando...
Eles precisam de nós, e nós (talvez até mais) deles.
Beijinhos,
Lívia, mamãe do Uriel (10 meses)
Tata,
Eu era uma mãe que trabalhava fora e fazia de tudo para ter o tal "tempo com qualidade" com meus filhos. Eu achava que era suficiente.
De repente, me vi em casa e percebi que o tempo que tinha com eles, antes, era insuficiente. Ainda bem que deu tempo de corrigir isso!
Por coincidência, comentei isso no meu blog hoje:
http://www.zdezebra.caixadepandora.com.br/?p=278
Abração.
Meninas,
delícia de comentários!
eu acho que é bem por aí, Rose, como você diz e como eu mesma coloquei no texto, não existem verdades absolutas. cada uma encontra o seu caminho pesando suas possibilidades, suas prioridades, seus valores, enfim. eu sempre falo do meu caminho, porque é o que conheço de coração, é o que eu vivo todos os dias, e é dele que eu posso falar com mais propriedade. agora, o importante, no final das contas, é a gente ser feliz. esse deveria ser o objetivo final, sempre. por isso eu não falei em um mínimo de tempo para se ficar com os filhotes, isso seria ridículo, porque eu estaria fazendo uma projeção inspirada na minha forma de viver e ver a maternidade, e nem todo mundo a vê como eu. e isso é fantástico! é na diversidade que repousa a beleza do mundo. o importante é a gente ter consciência das escolhas que está fazendo, e de suas consequências. perder, a gente sempre vai perder alguma coisa, prum lado ou pro outro. a vida é isso: escolher implica perdas - e ganhos também.
Cacau, por mais estranho que possa parecer - e acredite, pra mim também parece, e muito! - , conheço sim mulheres que passam pouco tempo com os filhos por opção. e elas não são poucas. como eu disse no texto, quando é preciso é preciso, não adianta ficar se debatendo nem sofrendo com o que não se pode mudar, não é mesmo? aí é trabalhar com as possibilidades e fazer o melhor possível dentro da nossa realidade. dar o melhor de si, sempre.
queridas, debate delicioso esse!!
bjo
Perfeito Re!
Sempre polêmico esse assunto......
Mas nao pude deixar de escrever...
Quando vc passa o dia todo com seu filho, mesmo com ele fazendo alguma atividade extra, como dança ou qualquer outra coisa, vc presencia as mudanças de humor na criança de uma forma muito curiosa. Quando eu trabalhava fora e a Gabi ficava em tempo integral na escola, eu desfrutava desse "tempo de qualidade" com ela, e achava normal. Maaas, por mais que a pessoa, ou escola que tenha ficado o dia todo me relatasse os acontecimentos do dia, era algo muito vago, algo que nada acrescentava, afinal, já passou, aquele dia "já era", as vezes já vinha dormindo para casa. Me arrepia lembrar disso, e o quanto era pequena ainda. Hoje, com eles em casa, vejo as descobertas, os sorrisos, as birras, os ataques de fúria, e porque começaram, as disputas por brinquedo, por atenção, e assim, posso participar da vida deles, nao de forma controladora, e sim preenchendo com cuidado essa vivência, dando um abraço gostoso, preparando junto o lanchinho da tarde, pulando corda, sentando embaixo da arvore para contar histórias. E melhor, sem ter que esperar o fim de semana, ou a noite para isso.
E tem outro ponto, nosso estado emocional também fica alterado com as crianças em casa o tempo todo, é um exercício constante de paciência e amor, respeito.....
O tempo de qualidade nao é um termo que aprecio não, nunca gostei, e ouvimos isso o tempo todo. O "tempo de qualidade" nem sempre está disponível, ou resume-se a meia hora em que a criança ainda aguenta ficar acordada, mas já cansada do dia! *Tão pequenos!*
Experiencia própria de uma mae que trabalhava e tentava ter tempo.......
bjaooo!!!
Oi
estou vivendo exatamente este momento de constatar mais responsavelmente que o que eu quero mesmo é estar com minhas meninas, quando fiquei grávida da primeira pensava que o mais bacana de tudo de ser mãe seria poder mostrar para minha filha o máximo possível da criança que eu sou e como eu descobri o mundo - e para isso eu preciso conviver com elas - mas e aí, mais do que precisar trabalhar como qq mortal, eu faço parte do grupo "mãe sozinha" que trabalha fora umas 8 horas que chega em casa limpa lava passa cozinha e que é mãe que quer ser lúdica compreensiva que quer dar limites a partir das trocas de respeito entre pessoas (mesmo que uma seja adulta e a outra criança).
Como fazer isso em meio a diferentes de estresse mental e cansaço físico?
Diante destes dilemas, me demiti de um emprego, estou reorganizando meu olhar sobre minha profissão e enfim, me perguntei claramente: o que eu quero?
Ficar com minhas filha, com o máximo de QUALIDADE e QUANTIDADE que minha criatividade puder imaginar e equacionar FILHOS x AMOR x DINHEIRO x MULHER x "o que passar não dá para voltar atrás"
Uma vez perguntei para minha parteira, que tem 3 filhos, o que ela faria diferente na educaçao dos filhos, na vida que tem até agora com os filhos? Ela me disse que "gostaria de ter brincado mais"...putz foi bem ao encontro do que eu imaginava quando estava com minha primeira filha ainda na barriga - e esta é minha busca hoje, mai clara possível
Grata pela reflexão
Ale
ótimo tema renata!
você toca a fundo na questão, do seu ponto de vista, e os pontos de vista expostos aqui nos comentários complementam o seu de uma forma incrível! O meu caso é um meio termo: eu não posso deixar de trabalhar por questões financeiras familiares, mas não suportaria perder a oportunidade, não apenas de "assistir de camarote", mas sim de participar ativamente do espetáculo que é um serzinho se desenvolvendo... Por isso me virei e me estruturei em um trabalho de meio período, bastante flexível, e todo tempo após isso é dedicado quase que exclusivamente ao meu filhote, curtindo cada momento, brincando, acompanhando seu desenvolvimento. Acontece que tem momentos em que não estamos tão bem, a peteca cai mesmo, e nesses momentos os cuidados com o filho podem se tornar algo mais cansativo e pesado, "mais um afazer"... Acho que toda mãe que efetivamente se doa a esse convívio intenso com seu filho passa por momentos assim... mas o bom é que eles passam rápido, justamente pela magia que um filho carrega, e pelo prazer que é poder curti-lo com quantidade E qualidade!!!
beijo
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