- Se esse menino mamar agora não vai almoçar!
Perdi as contas de quantas vezes escutei esta frase. Principalmente porque meu filho não é daqueles comilões que aceita o que colocar na mesa. Já cheguei, muitas vezes, a culpar a livre demanda (mamar no peito a hora que quiser). Quando escuto esta frase hoje não me sinto "fazendo a coisa errada". Sempre respondo:
-Deixa ele mamar o que precisa e comer o que tem vontade! Criança que têm comida em casa não fica desnutrida.!
Miguel hoje tem quase dois anos e mama muitas vezes por dia. Quando está entretido com brincadeiras mama de manhã, às 10h, almoça, mama de sobremesa; mama para dormir por volta das 14h; às 17h e depois das 19h chega a mamar por mais de 1 hora, trocando um peito pelo outro. Depois mama para dormir. No fim de semana é quase todo o tempo.
Tirando esta mamada para dormir, quando ele está na casa de alguém, come bastante, substituindo o leite por alimentos como frutas, legumes e folhas. Isso tudo naturalmente. Muitas vezes já ouvi sugestões de desmamar para ele comer mais. Hoje sei que meu leite leva para ele muito mais que nutrientes e ferro: está repleto de amor, que sacia sua fome física e espiritual.
Mas este empoderamento de acreditar na livre demanda como um aliado de nossa relação, não foi algo tão fácil. A alimentação do meu filho sempre foi o maior desafio mamífero. Miguel mamou exclusivamente até 6 meses, em livre demanda. Na gestação, em um curso bastante questionável que fiz, a enfermeira que explicava sobre aleitamento disse que bebês precisavam ser amamentados de 3 em 3 horas. Que dar de mamar o tempo tododo era um erro que causaria dependência. Eu de nada sabia, mas recebi dicas de deixar um relógio em frente para que ele mamasse 20 minutos em cada peito, para que um não ficasse maior que o outro.
Depois de meu parto que naceu o Miguel e uma mulher selvagem, eu me guiei pela intuição. Com as dicas das mulheres incríveis da lista descobri que o feto suga o tempo todo, que privar o filho da livre demanda é abrir janelas para chupeta, que o leite materno é facilmente digerido e os bebês t~em estômagos pequenos. Minha amamentação era O DIA TODO. cansava? Sim! Mas eu estava disposta a me dedicar a ele, exclusivamente. Tudo transcorreu as mil maravilhas, ele engordando bastante e eu nem aí para o quanto ele mamava....
Com 6 meses, meu filho já sentava, tinha 4 dentes e mostrava interesse pelos alimentos. Hora de introduzir alimentos. Comecei com as frutas, que ele aceitou com muita facilidade. Semana seguinte foram as papinhas salgadas, no almoço e na outra semna no jantar também. Nossa, como ele comia bem. Mamava o dia todo, comia e mamava de sobremesa. Com 8 meses pegou uma virose e ficou 20 dias só no peito.
Foi aí que acho que perdi minha confiança. Não entendi aquele retrocesso alimentar como parte do crescimento. Eu insistia que ele comesse, chegando a violência de segurar sua boca para comer. Em minha cabeça achava que se ele não comesse não iria sarar. Foram dias de desespero, de conviver com um sentimento de impontência. Nessa hora caí na besteira de ouvir os palpiteiros. Comecei a regular o peito próximo das refeições. Era doloroso ouvir meu filho chorar procurando o peito e eu com mil malabarismos para ele comer.
Foi quando fui ao pediatra e ele me disse:
- Seu filho tem direito de ir e voltar em suas conquistas, quantas vezes quiser. Até 1 ano de idade o alimento mais importante é o seu leite. Neste momento você está apresentando os sabores, ensinando a ele uma nova relação com a comida.
Nossa! O estrago já estava feito. Mas como maternidade é isso mesmo, passei a amamentá-lo em livre demanda novamente e buscando redespertar o interesse dele pela comida. Demorou muito tempo. A cada gripe, virose, febre, ele regredia (e ainda regride), voltavando a mamar o dia todo. Acho que o que acaba nos deixando "preocupadas" é não saber o quanto a criança mama. Minha sugestão: relaxe, que nossos filhos são espertos e sabem o quanto precisam de alimento.
Com 11 meses ainda oferecia papinhas para o Miguel, sempre amassadas com o garfo. Nessa época percebi que ele queria mesmo era comida. Passei a oferecer a nossa e ele começou a comer muito melhor. Hoje com 2 anos ele come bem. Não muito, mas com qualidade. E mama em livre demanda! Hoje sei que em nada atrapalha a alimentação. Muito pelo contrário: é um grande complemento dela, com o sabor do calo, do afeto e do mais profundo amor.
Foto do Arquivo pessoal: Miguel comendo sopa de beterraba com 6 meses.
Um comentário:
Pois é. Volto a trabalhar daqui a 15 dias e não sei como farei com questão da amamentação.Meu filho mama o dia inteiro! Adorei seu relato sobre a alimentão do Miguel.
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