Aquelas duas listrinhas descobertas no banheiro do trabalho foi o começo de grandes transformações. Fui uma daquelas mulheres que dizia não querer ter filho. Pensava em viajar o mundo, namorar a vida inteira. Tinha como filosofia não voltar ao mesmo lugar nas férias e feriados. Achava que filhos, marido estavam dentro daquele padrão de felicidade comum que não cabia nos meus planos.
O amor por meu companheiro, o chamado dos céus e uma vida no meu ventre mudaram minha realidade. Cada um em um estado diferente, o medo da perda da família, do emprego e o momento de entrega: deixe acontecer e espere.
Vieram os enjôos dos 3 primeiros meses e aquela estranha sensação de não sentir mudanças e conviver com um turbilhão delas. A barriga que demorou a surgir, assim como minha consciência de que agora era múltipla e estava perdendo a oportunidade de vivenciar um período único da vida. Aquele médico fofo que fazia ultrassons em todas as consultas, gravava cada um deles, não falava do parto por não ser a hora.
Chegou o encontro com o GAMA e a reunião com mães contando a poesia do parto. Algo mudou naquela noite em que estava com 26 semanas. Naquele dia comecei a gestar o meu nascimento. Voltei para Yoga para gestantes, comecei a fazer natação, meditações em meu ventre. Ganhei o livro Parto Ativo e me emocionei com os relatos de parto domiciliar. Será que eu conseguiria?
Meu filho começou a mexer e meu marido descobriu-se pai. Nos finais de semana, porque estávamos separados por 800 km, aanhava massagens ao som da música que esteva presente na hora do nascimento. Neste momento já sentia meu corpo perdendo as formas, arredondando-se. E eu me sentia plena de energia... Viajei para Carrancas, Minas Gerais. Fiz muitas trilhas, banhei-me em águas lindas. Casei em uma cerimônia inesquecível, aos moldes indianos, aqui em casa. Com um lindo barrigão. Minha Lua de Mel foi em Fernando de Noronha. Muita praia e caminhadas, aos 7 meses de gestação.
Peguei uma terrível alergia e não podia usar nem desodorantes. A coceira era terrível. Mas eu não ligava... Me sentia a maior parte do tempo em êxtase. Adorava os paparicos e cuidados. A fila preferencial, a cordialidade constante. Deixei de tomar café e tomava suco de maracujá.
Queria falar sobre o parto com o médico bonzinho. Ele fugia, ria de minhas perguntas: você faz parto sem episiotomia? Sem anestesia? Continuava com a leitura do livro parto ativo e cada dia tinha certeza que queria viver a plenitude de um parto em que seria dona de meus atos.
Compartilhei as informações para meu marido que se sensibilizou também. Decidimos por um parto em casa. Não mais em São Paulo, mas em Belo Horizonte. A barriga saltou, cheia de vida. Ganhei o livro nascer Sorrindo e comecei a pensar não só no parto, mas sobre o que fazer quando meu filho nascesse. Queria esperar o cordão parar de pulsar, queria plantar minha placenta. Não queria nenhuma injeção de vitamina. E assim aconteceu. Um parto rápido, um nascimento humanizado em casa.
Eu, que não queria ser mãe, descobri as delicias desta escolha que a vida me fez. Trouxe meu trabalho para casa. E com um recém-nascido no colo, descobri a magia do instinto. Parecia tão natural amamentar, sem regras, sempre que meu filho chorasse.
Nasci mamífera! Aprendi com as meninas das listas de discussão sobre tudo: dormir junto com a cria, sling, banho de balde, não à chupeta e sim ao peito sempre. Aprendi que colo não estraga e nem amor e chamego. Fiz shantala e faço até hoje. Mergulhei intensamente na maternidade, com um prazer indescritível. E curto cada novo desafio de cada fase com tanta alegria. Colho os frutos de minhas escolhas com uma criança sorridente e amorosa que me mostra que ser mamífera é a atividade mais intensa e transformadora que já vivi!
3 comentários:
Ai Kalu,
somos muito mais parecidas do que eu podia imaginar...
Nosa experiencia é praticamente igual. A unica coisa diferente foi que nao fiz shantala pq aqui nao há, mas vc ate me inspirou a escrever sobre a maternidade... Mas nem precisa ler pq vai achar que foi vc que escreveu!
Inclusive o modo de escrever. rs
Um garnde abraço e parabens pela sensibilidade.
Dydy,
Dei uma vasculhada nos seus blogs... Realmente temos uma semelhança na maneira de pensar, escrever e agir bastante semelhantes. Eu fico feliz de encontrar mais de mim no mundo. Um beijo e obrigada por suas doces palavras.
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