por: Tata
Uma coisa que ouço muito, desde que as meninas nasceram, é a clássica pergunta: "mas como é que você se virou com duas???".
A verdade é que ter dois filhotes ao mesmo tempo é uma experiência incrível, transformadora, valiosa, mas também cansativa, sem sombra de dúvida.
Pra começar, a menos que você deixe de lado a livre demanda e estabeleça horário para as mamadas, de forma a que os dois bebês mamem juntos, ou pelo menos em horários minimamente seguidos, você não vai fazer outra coisa da sua vida nos primeiros meses, a não ser amamentar. Pra mim, que insisti na livre demanda e sempre respeitei os ritmos individuais de cada uma, o dia-a-dia no comecinho era da cadeira de amamentação pra cama, da cama pro sofá, do sofá pra cadeira de amamentação, sempre com uma bebê no peito.
A regra de "descanse quando o bebê descansar" também não funciona para mães de gêmeos. Isso porque, quando uma dorme, a outra acorda, e vice-versa. São poucos os momentos que você tem com as duas dormindo, e quando isso acontece, sempre há muito o que fazer. Detalhezinhos insignificantes como alimentar-se, tomar banho, ajeitar tudo para a próxima acordada, troca de fralda e mamada, entre outras coisinhas.
Isso, quando os dois não acordam juntos, e você fica feito polvo, tentando dar conta de tudo com seus míseros dois bracinhos. Bota uma no carrinho e empurra com o pé enquanto troca a fralda da outra, faz careta e palhaçada pra uma de um lado da cama enquanto a outra mama animadamente do outro lado, e por aí vai. Perdi a conta de quantas e quantas vezes lanchei, almocei ou jantei com alguém me dando a comida na boca, porque minhas mãos estavam ocupadas cada uma com uma bebê, uma em cada peito, mamando sofregamente.
E a noite? Quando você tem um bebê que acorda, é uma coisa. Ainda que ele acorde muito, você levantará de duas em duas horas para atendê-lo. Caso ele esteja na sua cama, nem será preciso acordar: se você estiver na posição ideal, ele pegará o peito instintivamente e voltará a dormir, muitas vezes sem que você sequer se dê conta. Com duas, a coisa é diferente. Se cada uma acorda de duas em duas horas, isso significa que você acorda de uma em uma! E com as duas na sua cama, não há outra opção a não ser deixar cada uma de um lado, o que significa que você passará a noite toda virando de um lado para o outro, a fim de saciar a bebê que te solicita no momento.
Depois dessa descrição sucinta do que é a rotina de uma mãe de gêmeas (e sucinta mesmo, porque peguei apenas alguns - poucos - pequenos detalhes...), você deve estar se perguntando aí do outro lado: "e depois de tudo isso essa doida-varrida-caso-de-internação-imediata ainda vem me dizer que ser mãe de gêmeas é uma experiência maravilhosa??? Pois é, digo, repito e insisto: é uma experiência única, e fantástica.
Fantástica, porque a gente aprende o quanto cada serzinho é único, especial e incomparável, porque mesmo no caso de duas crianças nascidas e criadas juntas, compartilhando sempre do mesmo ambiente, da mesma criação e dos mesmos valores, cada uma tem seu jeitinho absolutamente individual, totalmente diferente da outra, com suas particularidades, sua forma especial de ver, sentir e fazer as coisas, e te ensinando a todo momento, cada uma à sua maneira, a beleza da diversidade, e a importância do respeito às diferenças.
Fantástica, porque a gente vê duas criaturinhas cheias de doçura descobrirem uma à outra, construirem diariamente uma relação de afeto, carinho, proteção e cumplicidade. Porque uma nem mesmo sabe o que é a vida sem a presença da outra, e isso estabelece entre elas um laço imensamente forte, uma ligação que dá gosto de ver, e deixa a gente com o coração em pedacinhos, de tanta ternura.
Fantástica, porque a gente aprende a multiplicar o amor a cada momento, a se dividir o tempo todo sem que isso signifique doar-se menos, a superar os limites e dar conta dessa relação a três sem criar competição (pelo menos nada além daquela que é natural aos irmãos), ciúmes exagerados, sentimentos de perda, disputas.
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Fantástica, porque você vê aquelas duas criaturinhas brincando juntas, aprendendo lado a lado, descobrindo o mundo uma com a outra, e criando entre si um mundo impenetrável, um espaço de brincadeira e fantasia que só elas conhecem, compreendem e compartilham. E como se divertem uma com a outra! São capazes de se manter entretidas por um tempo inacreditável, a gargalhar de pequenas coisas e inventar um infinito de brincadeiras divertidíssimas, sem precisar de brinquedos, de atividades orientadas, da companhia de adultos ou de qualquer coisa além da presença da outra.
E fantástica porque, depois de tudo isso, a gente se vê desejando do fundo do coração mais um filhote, e até alimenta lá num cantinho escondido da alma uma vontadezinha meio insana de que sejam gêmeos de novo, só pra passar por tudo isso uma outra vez...
Imagem: www.gettyimages.com.br
4 comentários:
Ser mãe é realmente tudo de bom né!
Parabéns
A vida nos presenteia e nos enche de surpresas lindas, ser mãe é uma dádiva de Deus, Parabéns pela garra, pela força!
Oi Rê,
A maternidade me deixou muito forte e menos chorona, mas ao ler este texto me arrepiei e lágrimas rolaram, amo muito ser mãe de gêmeas, e olha que elas só têm 10 meses e ainda não interagem tanto quanto as suas de 3 anos, mas já percebo uma cumplicidadezinha no ar e me emociono sempre. Tem noites que ao deitar ficamos horas falando das descobertas delas, das diferentes reações frente aos mesmos desafios, do quanto é maravilhoso sermos pais de duas...e nessas horas agradeço muito a Deus por elas terem vindo juntas, mesmo com todo trabalho, que não é pouco, como você disse. Adoro ser mãe de duas, acho até graça e uma sensação de "você não sabe o que está perdendo" quando ouço a famosa frase: gêmeas, você é louca, como consegue dar conta de duas?!? Se todos soubessem tenho certeza absoluta que teriam sempre gêmeos, no mínimo, rsrsrs.
Beijos em todos e na barriga
Oi...Esqueçi de te pedir: posso colocá-lo no blog das minhas meninas? É que nele você expressa tudo que sempre quis falar e não tenho o dom da palavra escrita, só da falada, rsrsrs, falo "pelos cotovelos".
Bjs
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