
Nós Mamíferas fizemos questão de participar da blogagem coletiva "BATER EM CRIANÇA É COVARDIA", divulgada pela comunidade do Orkut Pediatria Radical. A data para postar era ontem, mas como o tema é importantíssimo e deve ser discutido sempre, achamos que mesmo com um dia de atraso, valia a pena falar sobre isso aqui no mamíferas. O assunto é polêmico, mas por aqui não há discussão: bater em criança é covardia pura. Pra provar como a causa é importante para nós, hoje o blog contará com textos de todas as mamíferas. Espero que gostem!
por: Kathy
Era um prato lindo! Arrozinho integral, tomate, espinafre refogadinho, batata cozida, tudo quentinho. Coloquei diante do Samuel, que estava em sua cadeirinha, e, ao lado, um copão de suco de laranja. Quando me virei pra tampar uma panela, um barulhão e uma gargalhada: Meu pequeno tinha virado o copo de suco inteiro no prato!
Nem preciso dizer que fiquei muito brava, né? Estava pensando em mil coisas que precisava fazer, meio atrasada e ainda acontece uma dessas pra atrapalhar mais ainda... Juro pra vocês que tive vontade de bater nele, virar um tapão mesmo...
Comecei a ensaiar uma bronca daquelas, mas percebi que estava completamente alterada, e também que o motivo da minha alteração não era somente um copinho de suco e um almoço perdido, mas sim a minha cabeça, lotada de pequenos probleminhas do dia-a-dia.
Como aqui em casa bater está fora de cogitação, resolvi que precisava me acalmar antes de partir pra qualquer ação. E foi o que fiz. Me concentrei na pilha de louça suja para lavar e gastei minha raiva numa panela, que esfreguei com gosto. Deixei a bagunça toda ali, e quando me virei percebi que Samuel estava se divertindo com a bagunça do prato, do suco, que estava em processo de experimentação pura. Claro que não posso deixar ele desperdiçar comida e fazer o que não deve na hora do almoço, mas não podia punir meu pequeno com agressividade por conta daquela arte que nada mais é do que mais uma forma dele testar seus próprios limites e os limites do mundo.
Mais calma, consegui conversar, explicar que aquela comida seria jogada fora, que o trabalho da mamãe em fazê-la havia sido em vão, e que agora ele teria que me ajudar a limpar. Foi tranquilo e nada traumático pra nenhuma das partes. Sim, porque se um dia eu chegar ao extremo de bater sei que a culpa que vai cair sobre a minha cabeça será mais dolorida do que dez tapas que eu desse no meu filho. Trauma para os dois lados.
A lição que quero deixar é essa: quando pensar em bater, reflita, tente colocar a cabeça no lugar, pense sobre onde está localizada realmente sua irritação. Não dá pra descontar problemas em uma alminha tão indefesa, dá? Pra mim, sem condições...
por: Tata
Fui criada sem nunca ter levado um tapinha sequer. Palmadas, chineladas, beliscões, surras, nada disso fez parte da minha realidade enquanto eu crescia. Talvez por isso, a idéia de castigar fisicamente uma criança para ensinar-lhe o que quer que fosse sempre tenha me parecido totalmente absurda e desprovida de sentido.
Mesmo antes de me tornar mãe, eu já sabia que jamais bateria em meus filhos. Nem mesmo um tapinha na mão ou no bumbum, por cima da fralda, nada. Muitas vezes, quando eu expressava essa opinião, ouvia das pessoas, em tom velado – ou às vezes nem tanto - de ameaça: “ah, você fala isso porque ainda não é mãe, espere só até ter filhos!”. Com o nascimento das pimentas, a frase padrão passou a ser: “ah, mas isso é porque elas ainda são pequenas, espera só até elas crescerem e começarem a te desafiar!!”. Hoje, já mãe de duas lindas menininhas de 3 anos e meio, questionadoras e peraltas como qualquer criança saudável e inteligente, os termos mudaram de novo, mas o tom de ameaça continua o mesmo: “ah, mas você deu sorte, elas são tranqüilas, espera pra ver se o próximo vai ser assim!!”. O constante questionamento revela uma verdade triste e indisfarçável: para o senso comum, a criança que “não precisa apanhar para aprender” é a exceção, e não a regra. Do fundo do meu coração de mãe, e pelo bem das nossas crianças, torço para que essa realidade mude.
Castigos físicos, pra mim, são inaceitáveis por vários motivos. Primeiro, pelo mais óbvio: é injusto e covarde, porque a criança é a parte mais fraca, e é agredida sem ter condições de se defender. O adulto que bate se aproveita da sua posição privilegiada na relação para se impor pelo uso da força. Segundo, porque não funciona. A criança que apanha obedece não porque aprendeu a lição, nem por respeito à orientação dada, mas por medo. Uma criança que deixa de mexer no fogão porque levou uma palmada não aprendeu que a atitude é perigosa, apenas que, caso faça de novo, vai apanhar outra vez. Crianças que aprendem pelo medo tendem a se comportar “adequadamente” perto dos pais, e a fazer tudo o que é proibido longe deles, quando a possibilidade da palmada não existe. Terceiro, porque quando se bate, a lição que se está passando à criança é de que é legítimo usar a força física para conseguir o que se quer. Pior: de que é legítimo usá-la contra alguém mais fraco que você. Absorvida essa lição, como querer que a criança entenda que não deve bater no coleguinha mais novo para, por exemplo, reaver o brinquedo que lhe foi tomado?
Minhas filhas nunca levaram um tapinha, um puxão de orelha, um beliscão. E nunca levarão. Essa é uma das poucas coisas em minha vida para a qual posso dizer, sem medo: “nunca!”. Digo nunca porque sei bem qual a relação que quero ter com as minhas filhas. Quero que nossa relação seja baseada no respeito, na confiança, nunca na ameaça ou no medo. O diálogo é a peça chave aqui em casa, hoje e sempre.
A “lei seca contra a palmada”, pra mim, é muito mais que uma idéia visionária, ou “psicologismo barato”. Na verdade, talvez seja o único caminho para a criação de um futuro diferente. Um mundo onde as relações se baseiem não mais na lei do mais forte, mas na igualdade, no respeito e no amor.
Por: Kalu
Se você conhecer uma pessoa que tenha dado um tapa em uma criança com um estado emocional equilibrado, com a única finalidade de educar, vou começar a pensar que a palmada pode ser uma medida educativa. Tenho certeza que você não irá encontrar, porque palmadas, beliscões, puxões de cabelo são uma resposta agressiva para um estado emocional abalado.
Os animais educam com mordidas e rosnadas, para mostrarem os limites para os filhotes. Este é o único atributo que possuem, afinal não desenvolveram a argumentação. Somos seres pensantes, sentintes. Acho curioso que uma sociedade busque e valorize métodos tecnológicos para nascer e ainda valorizem métodos animalescos para educar.
Eu fui criada com tapas, surras de cinta, chineladas para decorar a matéria para prova. Minha mãe apenas repetiu modelos aprendidos em que o respeito se conquista com medo, que seres desenvolvidos são aqueles que temem o olhar congelante que antecede o tapa. Minha mãe me batia e me colocava de castigo. Pegava meu lápis de cor e desenhava debaixo da cama cenas de violência que vivia. Anos mais tarde, quando ela se desfez da cama, viu aqueles desenhos e se sentiu a pior das criaturas. Ela apenas seguiu modelos sem questioná-los. E dessa violência busquei métodos alternativos de educação.
Meu primeiro despertar surgiu na terapia, em que passei a entender que a agressividade que sentia era fruto da criança que sofreu agressão. Para fazer diferente, aprendi a perdoar meus pais, entendendo que o que eles me ofereceram era o melhor que podiam. Se eu queria fazer melhor e diferente para mim, deveria expandir meu conhecimento sobre a violência. O caminho que encontrei foi através da yoga. Percebi que agredimos quando sentimos que estamos perdendo algo, autoridade, respeito ou seja lá o que for. A violência é um exercício de poder do ego, que os hindus classificam como sendo uma contração da força divina. A medida que buscamos a conexão com algo maior, deixamos de querer exercitar o pequeno poder. Nosso pavio se prolonga a ponto de ter mais tempo antes de responder violentamente. Com a espiritualidade não existe mais a necessidade de respeitar ”porque sou sua mãe”. As hierarquias se dissolvem e fica a função de cuidar e tornar-se um bom cuidador.
Eu não quero criar um ser que sabe obedecer e o faz por medo. Espero orientar para que ele saiba respeitar a beleza de todas as formas de vida e faça de sua existência uma oportunidade de aprendizado e não de imposição. Procuro desde sempre entender suas exigências, as vezes expressas em forma de birra, para buscar a origem do sentimento não atendido. E o que desejo, com tudo isso, é que ele seja feliz e livre.
Aqui em casa não entra tapa, nem castigo. A lei seca é seguida a risca, a começar por nós.
por: Deborah
///
Também cresci sem saber o que é uma surra ou um tapa dos meus pais... Ainda bem! Fui criada sendo ouvida, compreendida. Filha de pais que se separaram quando eu tinha 3 anos, acabei tendo muita interferência de avós, que me criaram em boa parte do tempo, e tios. Da avó, lembro de uns "safanões", de um dos tios gritos e até tapa na cara, que marcou para sempre.
;;;
Mas o que ficou mesmo dentro de mim foi a educação com respeito que recebi dos meus pais. Sem abusos de poder e que, tenho certeza, fez de mim um adulto que sei das minhas responsabilidades, que vê o mundo com olhos críticos, que luta pelo que quer e não tem medo de voltar atrás e recomeçar, sempre, do zero, se for preciso.
///
Que criança não deve apanhar, que é um ato de covardia dos adultos, que só fazemos isto porque estamos descontrolados... acho que já está mais do que provado e é inquestionável num mundo mamífero. Mas, quero aproveitar o assunto para falar de outra violência contra as crianças. A de achar que eles ainda não são pessoas, que são apenas seres em formação. Isto sempre me incomodou muito. Sou criticada por "ouvir demais a minha filha", por dar chance demais para que ela resolva seus problemas junto comigo e por aí vai. Nunca questionei se isto seria ou não certo. Crianças pensam sim. E muito! Muitas vezes, até mais do que nós. Não admito passar por cima do que meus fihos pensam, ou de qualquer outra criança. Até com o Pietro, de 4 meses, tento escutar o que os olhinhos dele me dizem...
;;;
Lei seca contra palmadas, que jamais educam! Lei seca contra "ignorar" o que nossas crias pensam!
5 comentários:
Como vocês explanaram o tema de forma tão diversificada, com visões e experiências diferentes!
Gostei muito!
Eu teria tanto a falar...
Vou fazer um post lá no meu blog que é melhor...
beijo a todas!
Meninas, adorei o post! Vou copiar o selinho e postar a campanha no meu blog também!
Beijos!
Queridas, Obrigada por aderirem a campanha, as crianças agradecem e a PR também!
Ta lindo!
Bjs!
Moderadora PR: Jen
Queridas, muito bacanas os textos de todas vocês. Eu estava enrolando para fazer a postagem (mesmo que atrasada), mas agora me animei de novo. Beijos.
Postar um comentário