por Deborah
Sou uma pessoa de natureza ansiosa. Parece que estou sempre esperando o que irá acontecer "amanhã" e reconheço que isto me limita muito viver o hoje.
E o medo caminha ao lado da ansiedade. Acho que o medo é a ansiedade disfarçada. Pelo menos este medo de coisas que não sabemos o que é e que nem sabemos se existe. Temos medos de várias coisas. Sempre. Desde bebês.
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Nosso pequenos têm medo de cair, têm medo de que as mães desapareçam. Tem o medo do banho... Vão crescendo e vem o medo do escuro, o medo de ficar sozinho, o medo dos monstros, dos bichos... medo do palhaço, de personagens.
E depois vem o medo de não sermos aceitos, o medo do primeiro amor, o medo do primeiro beijo, da primeira vez...
E para vencer estes medos, só mesmo acontecendo aquilo que tanto nos assusta. Com a maternidade não poderia ser diferente. Medo de estar grávida para umas, de não estar, para outras. Medo dos sintomas, medo de engordar, medo de ficar feia, medo de não termos filhos saudáveis... e o medo do parto, é claro!
Acredito que, pelo menos em algum momento, todas as mulheres grávidas já tiveram medo do parto. Foi algo que colocaram em nossas cabeças e mesmo com o nosso lado mamífero dizendo que tudo é um ato fisiológico e natural, acredito que em algum momento o medo passa por cada grávida.
Não é à toa que tantas marcam suas cesáreas por puro medo, medo da dor, do desconhecido, da espera, medo de deixar seu corpo agir, medo de perder o controle...
Por que estou falando do medo? Ontem, o Pietro estava deitado em nossa cama e lembrei do meu trabalho de parto, ali naquela cama, naquele quarto e eu disse para ele: "Filho, era aí que a mamãe queria que você nascesse, mas não foi assim que aconteceu"... E pensei o quanto o medo me fez bloquear aquele desejo. O quanto o "medo-tensão-dor", tão falado pelo obstetra gaúcho Ric Jones foi responsável pelo pânico que tomou conta de mim e fez com que eu preferisse a transferência para um hospital onde o Pietro nasceu de parto normal após cesárea.
E de onde veio tanto medo? Parece que até chegar no ponto em que eu já tinha chegado no meu parto anterior, eu consegui segurar bem, mas quando as coisas foram tomando um rumo desconhecido, quando só o que eue precisava era deixar meu corpo agir, mesmo que demorasse 10, 20 ou 30 horas, eu deixei me tomar por este medo ou anisedade e bloqueei o processo natural das coisas.
E comecei a pensar em tantos medos que temos na vida e que não conseguimos interpretar como medo e por isto não conseguimos vencê-los e passar por determinadas fases tão necessárias para o nosso crescimento.
Com o nosso filhos não é diferente. O medo do primeiros dias, de não educá-los da melhor maneira, o medo de ceder demais, de ser intransigente demais, medo do perigo de deixá-los soltos, de deixá-los presos... e por aí vai. O medo da separação.
No meu caso, ainda sou mãe de uma criança e um bebê, mas imagino os medos que devem aparecer quando os filhos são adolescentes, jovens, adultos...
E você, tem medo do que no momento?
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(gosto muito desta música do Lenine, cantada junto com a Julieta Venegas:)
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Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
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Imagem: http://gettyimages.com.br/
Um comentário:
que louco vc escrever sobre isso, ainda esses dias estava conversando com minha sogra sobre os medos que os pais passam para os filhos... sobre como devemos nos controlar para não passar nossos medos a eles, e sim deixá-los descobrir seus próprios limites e medos...
Eu nunca tinha pensado sobre isso, mas sou (fui) uma pessoa medrosa e vejo que talvez isso venha da minha mãe, que é muito medrosa... Mas não tive medo do parto, nem um pouquinho, e hoje, lendo seu post, me vi como uma pessoa que foi medrosa e se curou com o parto... rsrsrs
bjs, adorei o tema.
thaís
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