por: Tata
Uma amiga me encaminhou, hoje pela manhã, um link para uma matéria em uma revista, dessas de "celebridades", em que algumas mães famosas dão seus depoimentos sobre a amamentação.
A idéia inicial, até que é bacana. É pra ser um estímulo, um exemplo, algo que passe a mensagem de que amamentar é algo importante, e uma experiência positiva.
Mesmo assim, pra quem já conhece um pouco mais do assunto, difícil não se entristecer com os equívocos colocados. Não sei, talvez eu seja 8 ou 80 demais. Aliás, acho mesmo que sou, e assumida, porque isso vem até na minha descrição na barrinha aí do lado - é só dar uma olhadinha de canto de olho.
O fato é que sempre fico chateada quando vejo uma mãe dizer que amamentou até os três meses porque não teve mais leite, ou que considerou uma vitória amamentar até os seis meses sendo que voltou a trabalhar com o filho recém-nascido (por opção, é bom lembrar), ou que o filho deixou de mamar com cinco meses porque foi descoberta intolerância a isso ou aquilo.
Não estou questionando as atitudes pessoais, porque cada um sabe de si, de suas prioridades e limites, e não cabe a mim determinar o que é certo ou errado pra ninguém. O que eu questiono é a qualidade da informação, já que muita gente lê esse tipo de depoimento e passa a acreditar nesses mitos equivocados, que a gente que lida com gestantes e mães faz tanto esforço pra derrubar.
Ainda por cima, tem sempre uma que vem com a eterna ladainha do "não sou menos mãe". Caramba, como isso cansa.
Sinceramente, essa argumentação do "não sou menos mãe" sempre me soa como uma culpa indisfarçável tentando ser varrida para baixo do tapete. E o mais triste dessa estória é que tantas e tantas mulheres se escondem atrás do véu do "não sou menos mãe" acabam perdendo uma oportunidade bacana de crescer e se empoderar: olhar pra trás, ver o que saiu errado e assumir que pode, sim, fazer diferente de uma próxima vez.
Não estou falando em auto-flagelação, em chorar rios sobre o leite derramado, em mergulhar num oceano de culpa, nada disso. Na verdade, trata-se de consciência, o que não tem nada a ver com culpa, nem com arrependimento. A gente não precisa se arrepender dos passos errados que deu. Sempre tenho em mente, e é uma filosofia minha, de vida, que se a gente erra, foi procurando acertar. Portanto, não cabe arrependimento. Mas é importante olhar pra trás e ter coragem de assumir que poderia ter feito de outro jeito. Só assim é que a gente cresce, amadurece, e se prepara para viver uma experiência diferente no futuro.
Se uma mãe que parou de amamentar com três meses, se contenta com esse rótulo do "eu não tenho leite", e passa a empunhar apaixonadamente a bandeira das que "não são menos mães", está deixando passar, bem ali, debaixo do nariz, a oportunidade de descobrir que não ter leite é uma sentença traiçoeira, e que, salvo raríssimas exceções, TODA mulher é capaz de amamentar seu filho.
Por outro lado, se ela se dispõe a deixar de lado a auto-piedade e ir atrás, pesquisar, aprender, buscar informação, talvez possa viver uma experiência totalmente nova - e até mesmo redentora - com um segundo filho. Quem sabe?
E pra não ficar parecendo que a gente só gosta mesmo é de jogar pedra, vale citar o depoimento super bacana da Maria Paula, que amamentou sua filhota mais velha até os dois anos, da Dira Paes citando a livre demanda, e da Nivea Stellman, falando da experiência de carregar o filhote para os bastidores, e amamentá-lo nas coxias do teatro.
No final das contas, 50% de bobagens, 50% de depoimentos positivos. Vá lá, pelo menos tá dando pra passar sem recuperação! ;-)
Imagem: www.gettyimages.com.br
8 comentários:
puxa... vc resumiu bem o que eu penso!
Rê, você coloca muito bem as palavras, sem ser cansativa.
É clara e objetiva pra dizer o que pensa sem se mostrar arrogante.
Quando crescer "literariamente" quero ser igual a você.
Parabéns! O texto esta perfeito!
bjo
Ro
PS: Posso linkar no Materna Japão?
Renata,
Excelente texto!
Eu também estou cansada de ouvir a ladainha de "não sou menos mãe". Como vc bem colocou: essas mulheres perdem a oportunidade de crescer e se empoderar para uma próxima vez.
Parabéns pelo post.
Beijos
Olha eu passei por isso e sei bem com é sentir-se fracassada com algo que sempre sonhei. Sempre imaginei que minha filha mamaria até os 5 anos se quisesse e me deparei com bicos invertidos que me causaram muito sofrimento nesse momento que pra mim seria tão mágico, tentei até o meu "limite" naquele momento e fiz o que pude. Me arrependo mesmo de ter tomado várias atitudes incorretas naquele momento (como por exemplo ter cedido a pediatra maluca e dado a mamadeira), mas foi exatamente isso que vc está descrevendo, a experiencia me serviu pra saber que num possível próximo filho vou fazer tudo diferente, não vou ceder a pressão das pessoas ao meu redor e seguir meu instinto que estava correto mas por medo, falta de apoio e despreparo eu não segui.
Realmente não me considero menos mãe por não ter amamentado tanto mas não me escondo atrás disso, fiz o que eu pude e sei que da próxima vou fazer muito melhor!
beijos!
Renata,
Inspirada no teu post, escrevi um texto no meu blog falando essa questão das celebridades e de como suas escolhas influenciam as mulheres de nossa sociedade.
Passa lá para conferir. ;-)
Beijos
Adorei o texto! As pesssoas formadoras de opinião têm que ser muito responsáveis pois podem influenciar negativamente muitas pessoas!
Bjos!
eu acho que a frase "não sou menos mãe" é uma confissão implícita. Se ngm tá falando que a pessoa é menos mãe, por que ela tem que afirmar que não é? É uma auto-defesa sem fundamento. Se ela diz isso é pq tá se sentindo menos e afirma que não pra tentar convencer a si própria.
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