por: Tata
Ano que vem, quando estiverem para completar 4 anos, as pimentas vão para a escolinha. Como trabalho em casa e dedico grande parte do meu tempo a elas, e tenho alguém de confiança para me ajudar quando preciso sair ou me concentrar em outra coisa, optei por deixá-las em casa o máximo de tempo possível. Pra mim, lugar de criança pequena é em casa, em um ambiente conhecido, onde ela se sente segura. Claro que isso nem sempre é possível, mas quando é, como no nosso caso, acho a melhor opção.
Agora estamos diante dessa nova fase, e com a nova fase, vieram as escolhas. Encontrar uma escolinha para elas não foi fácil. Visitei várias, tive dúvidas, fiz milhares e milhares de perguntas, pesquisei, pensei e repensei. Não é fácil escolher o ambiente onde seu filhote vai passar uma parte importante da vidinha dele, onde vai construir relações importantes, e vivenciar e aprender coisas que levará para a vida toda.
Mas depois de muita pesquisa e reflexão, finalmente encontrei a escolinha certa. Bom, a certa para nós, pois isso é uma escolha muito pessoal, e como tudo na maternidade, não existem verdades absolutas. Mas pra mim, foi botar os pés na escolinha para ter a certeza de que meu coração estaria tranquilo em deixar minhas pimentas ali.
A Kalu andou falando aqui sobre a escolha da escola para os filhotes. Aliás, levantou uma questão que também considero importantíssima: a afinidade entre os valores e o "estilo de vida" da escola e aqueles que a criança vivencia em casa. Acho primordial que os pequenos encontrem essa coerência, essa fluidez entre o que se diz e se faz na escola, e o que se diz e se faz em casa. Sem isso, a cabecinha deles mergulha numa confusão imensa, e extremamente difícil de lidar.
Mas há um outro ponto que foi essencial na minha busca pela escolinha ideal para as meninas, e que acho bacana citar aqui: a visão que a escola tem do processo de aprendizado, do ato de ensinar e do papel do professor nesse processo.
Eu acredito que as escolas tradicionais vêm reproduzindo um modelo de ensino equivocado e falido: o aprendizado que vem de fora para dentro. Um currículo engessado que é passado para todos os alunos de forma indistinta, ignorando as particularidades e a individualidade de cada aluno. Além disso, uma hierarquia já superada mas ainda mantida, em que os alunos não participam das decisões, não têm responsabilidade sobre as regras a serem seguidas, e devem apenas "abrir a cabeça" e deixar que lhes seja despejado todo o conteúdo a ser absorvido, pelas mãos dos professores, eles sim, detentores de todo o conhecimento e mestres absolutos.
Há uma idéia proposta pelo escritor, filósofo, teólogo e professor Rubem Alves - cuja obra recomendo integralmente, pois contém reflexões belíssimas sobre educação, além de outros temas valiosíssimos - , de que gosto muito. Alves defende que o único aprendizado efetivo, verdadeiro e útil é aquele que nasce de dentro pra fora, que vêm da curiosidade natural do indivíduo, o aprendizado que surge "das perguntas que o corpo faz". Acredito muito nessa idéia.
Eu desejo que minhas filhas aprendam assim. Que possam estender suas mãozinhas curiosas e tocar esse mundo tão cheio de maravilhas e contradições, pouco a pouco, cada uma no seu ritmo, do seu jeito, que não será igual ao de mais ninguém. Desejo que elas sejam respeitadas nas suas aptidões - ou não, porque ninguém é bom em tudo, e é preciso também respeitar as inaptidões de cada um.
Desejo para as minhas filhas uma educação muito diferente daquela que eu mesma vivenciei. Desejo uma educação mais respeitosa com as diferenças, que leve em conta as particularidades de cada aluno, suas paixões e interesses pessoais. Desejo que elas tenham prazer em desvendar cada pedacinho de saber por suas próprias mãos, ao invés de passarem seus dias sentadas em uma carteira fazendo anotações inúteis enquanto um professor despeja conteúdo em um imenso quadro negro. Desejo que elas se vejam livres dessa hierarquia absurda que estabelece o professor como o detentor de todo o saber, e o aluno como um 'saco vazio' a que se deve preencher com o conteúdo a ser decorado e repetido no dia dos exames.
Acima de tudo, desejo que minhas filhas aprendam sempre com brilho nos olhos, que tenham a seu redor quem saiba lhes despertar o fascínio pelo ato de aprender, tão fundamental ao longo da vida.
Desejo para as minhas filhas a liberdade de tatear o mundo e construir seu próprio conhecimento. Coisa tão rara hoje em dia, em um mundo tão afeito aos padrões, rótulos e regras insuportavelmente padronizadoras e emburrecedoras.
Para terminar, deixo uma linda frase de Rubem Alves, para reflexão:
"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro..."
É exatamente isso que desejo e acredito que a escola escolhida será para as minhas pimentas: um pequeno oásis de liberdade, um fragmento de um futuro que sonho todos os dias que elas possam vivenciar.
Imagem: www.gettyimages.com.br
9 comentários:
adori!
Oi Tata,
adorei o texto e me identifiquei muito com suas palavras. Também estou vivenciando a fase de visitas às escolas para fazer uma boa escolha pra minha filhota. Qual escola é essa que você gostou?
Abraços e obrigada,
Carol Ratton (carolratton@yahoo.com.br)
Olá!
gostei do texto, e fiquei curiosa: de qual escolinha voce gostou? minha filhinha ainda é bebe, mas sempre gosto de informações sobre as escolinhas, pra quando chegar a hora. Obrigada, beijos,
Bárbara (barbaraturra@hotmail.com)
É, Rê, acha que entende porque atravesso a ponte todos os dias para levar e buscar a Isa, né, e não faço como tantas pessoas me aconselham "coloca numa escola perto da sua casa". É este brilho no olhar que você falou que me direciona...
oi Dé, acho q é bem por aí... tb ouço muito isso, "pra que levá-las tão longe se tem tanta escolinha do lado da sua casa???", mas faço que nem escuto. com certeza, se der pra conciliar a melhor escola com a proximidade de casa, melhor. mas se não der, não tenho dúvidas de qual desses fatores é o mais importante. bjo!!
Carteira, quadro negro e professor vomitando conteúdo; estas coisas podem não ser ruins para todos. O problema, talvez, não seja o q a escola é e, isto sim, aquilo q a criança aprende a ver pelos olhos dos pais. Cada um, cada um. Filho de peixe nem sempre peixinho é.
Ah...me conta em qual escolinha vc vai colocar as pimentas??? hehehehe
Eu estou penando aqui em Varginha, viu?! Mas tenho certeza que isso vai mudar... até mesmo pq estou correndo atrás dessa mudança... se não encontrar mesmo uma escolinha pro Joaquim, pretendo "formar" uma. Meso que comece só com uma turminha, uma sala e um jardim! Ai, quero encontrar vc no msn pra conversarmos mais. Saudade, querida!
Olá Renata, meu nome é Bebel e eu sou fã dos seus textos no Mamíferas. Eles têm me ajudado muito em minhas escolhas e atitudes em relação à minha filha de seis meses.
Eu tb gostaria de saber qual é a escola que vc escolheu para as pimentas... vc pode contar?
Obrigada!
Bebel,
me passa teu email, que teu perfil do blogger é fechado e não consigo te contactar por lá! pode colocar o email aqui mesmo ou mandar diretamente pra mim no rp-rodrigues@uol.com.br
bjo
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