por: Tata
Outro dia, estava eu na manicure aqui ao lado de casa e ela, sabendo da minha 'militância' a favor do parto natural e da amamentação, me contou da dificuldade de uma moça que tinha acabado de deixar o salão.
A moça, mãe de um bebê de 3 semanas, estava tristíssima porque "não tinha leite" suficiente para amamentar seu bebê, e estava começando a ter que dar leite artificial, por recomendação expressa do pediatra, sob pena de arcar com consequências gravíssimas para a saúde do bebê, como atraso do crescimento e retardo mental - sim, segundo ela, palavras do pediatra.
Fiquei intrigada com a situação, e gato escaldado que já sou, fui tentando obter mais informações a respeito da estória. Aí vieram os detalhes mais esclarecedores: com 3 semanas de vida do filho, a mãe já havia retomado toda a rotina anterior à maternidade, ou seja, manicure uma vez na semana, cabeleireiro, ginástica três vezes por semana e trabalho - a moça é dona de uma escolinha aqui do bairro, e vivia cheia de problemas para resolver, rotinas estressantes e compromissos inadiáveis. Acho desnecessário dizer que em cada um desses compromissos, o bebê ficava em casa, com a babá.
Bem, esclarecidos esses detalhes, não ficou difícil entender a razão da tal "falta de leite": pouco descanso, alimentação provavelmente não muito adequada com tantos compromissos, ginástica já tão cedo exigindo do corpo a energia que ele precisaria dedicar ao bebê e à produção da quantidade de leite necessária para alimentá-lo, livre demanda inexistente.
Fiquei triste, como sempre fico nessas ocasiões. Não pela mãe, que afinal de contas está exercendo seu direito de tomar as próprias decisões e fazer o que considera correto para a própria vida. Mas pelo bebê, privado do contato com a mãe tão precocemente, passando horas e horas aos cuidados de uma babá que, por mais atenciosa, cuidadosa e carinhosa que possa ser, não é a referência que ele conhece desde o útero e que o faz sentir-se protegido e seguro, alimentado por uma mamadeira fria e impessoal. Depois que me tornei mãe, pensar nesse tipo de abandono me dói fundo, me deixa um vazio insuportável no peito.
E não pude deixar de pensar na irresponsabilidade deste pediatra, falhando em orientar essa mãe nesse princípio tão fundamental para a vida do bebê, falhando em explicar que para ter leite suficiente a fórmula é simples, e não tem mágica: basta descansar, alimentar-se bem, beber muito líquido, amamentar em livre demanda e conectar-se com seu bebê. Pensei na falta de compromisso com esse pequeno ser tão indefeso, ao simplesmente receitar o caminho mais fácil: o complemento que enche barriga, estufa e faz a criança dormir sossegada por horas e horas.
Para mim, a atitude desses profissionais é muito mais que repreensível: é quase criminosa. Na minha opinião, seria digna de denúncia ao CRM. Isso, se não vivêssemos em um mundo onde "amamentar é para poucas, nem todas as mulheres podem, e quem não consegue não deve se sentir 'menos mãe' por isso".
Mais uma para a série "definitivamente, eu não sou desse mundo"...
Imagem: www.gettyimages.com.br
8 comentários:
Sabe, penso como vc.
Amo amamentar meu bebe, q está com 16 meses. Mas infelizmente, quem não amamenta, por vários motivos, tem sido super respeitada. Hoje eu ouvi assim de uam visinha: "já tá na hora de botar ele na creche pra ti ir trqabalhar..." " ele ainda mama? é só tirar o peito dele!"
Nossa! Meu sangue ferveu, mas conversei e spus meus motivos com educação. AS pessoas acham muito estranho uma mulher jovem dedicar seu dia ao filho, amamentá-lo e fazer isso por livre escolha,por achar q isso é o melhor pros dois.
Amo este blog de vcs, mas considero nosso, pois vcs falam por mim tbm.
Eu tb sou da opiniao de que deve-se levar este tipo de irresponsabilidade à justiça. Mas essa mae é igualmente responsavel.
Ela nao quer amamentar. Quem quer, pelo menos tenta e geralmente consegue. nao estou dizendo que é facil, mas n eh nem de longe impossivel.
O que esta perpera quer é uma boa desculpa para nao fazer o que é certo de fazer.
Leite insuficiente é uma desculpa mto melhor do que falta de tempo. Mas na verdade esta é uma consequencia de uma cascata de acontecimento "pró-nao-amamentaçao, "pro-nao-maternidade".
Nao tenho a menor duvida de que ela passou por uma cesarea agendada de urgencia pq o cordao estava enrolado no pescoço. Ok, talvez tenham lhe dito que sua bacia era estreita, o bebe era grande ou que é legal nascer dia 09/09. Mas o pior de tudo isso é que ela acreditou. Acreditou em TUDO menos em si mesma.
Fica trsite nao, eu sou menos ainda deste mundo do que vc. Tb pari em casa (2), amamentei e amamento prolongadamente, moro no mato, sou vegetariana, anti-abortista e ainda sou fiel ao meu marido. Vai encarar?
hehehehehe
Eu concordo com a Dydy, essa mãe também é (ir)responsável. Ser mãe é dedicar-se a outro ser humano, deixar de lado um pouco a si mesma e atender às necessidades físicas e emocionais de um bebê. Deixar meu bebê de pouquíssimas semanas para ir à cabelereira, manicure, ginástica, trabalho? Nem pensar! Se ela queria continuar a vida do mesmo jeito que era antes do bebê, para que engravidou?
Eu pari um no hospital e outro em casa, amamentei prolongadamente, sou vegetariana, anti-aborto e fui fiel a meu marido, enquanto estávamos casados. Só não moro no mato, como a Dydy ... risos
Realmente, não dá para entender porque algumas mulheres resolvem ser mães, se não querem abrir mão de nada em suas vidas em prol da maternidade.
Espero que eu consiga amamentar meu filho até voltar ao trabalho. Ainda estou grávida e acho que será uma alegria enorme poder amamentar e dedicar os primeiros 5 meses da vida dele somente a ele. É um tempo que não volta mais, não é verdade? beijos, Fabi
Dydy, a minha tristeza não é por "não ser desse mundo", a isso já me acostumei! :-)
A minha tristeza é pelo bb, a única parte de fato inocente nessa estória, a mais suscetível e a que mais sofre com o caminhar das coisas.
Concordo com vc tb, Carla, que essa mãe é igualmente (ir)responsável pelo desenrolar da situação. Afinal, quem quer vai atrás, busca informação, encontra caminhos. Eu mesma fiz isso, depois de ouvir do primeiro pediatra das meninas que amamentar gêmeas exclusivamente era impossível.
Mas acho que também a gente deveria voltar mais os olhos aos pediatras, porque nesse caso não, claramente já não era o desejo da mãe amamentar e ela só aproveitou a indicação que veio bem a calhar, mas há casos em que a mãe está apenas fragilizada, emocionalmente baqueada e acaba sucumbindo a uma indicação equivocada por excesso de confiança nos "homis de branco". Amamentar não deveria ser essa batalha em campo inimigo, em que a gente precisa se entrincheirar, encher os bolsos de informações, lutar contra meio mundo para alimentar nossos filhos da forma mais natural.
Se houvesse mais apoio à mulher que deseja amamentar, acredito que o processo seria bem mais tranquilo e curtiríamos ainda mais...
bjitos, meninas!
ps: esse comentário anterior é meu, ok? rsrs. só pra esclarecer, pq postei com outro login.
bjitos
rê (Tata)
Tô bege!!!
:-O
Esse relato empata com tantos "não tive dilatação" que já vimos por aí... né não?
Sem estimulo = sem leite.
Sem TP = sem dilatação!
Bjs!
DEFINITIVAMENTE eu também não sou deste mundo!
Eu e Rebeca lidamos o tempo todo com mães cujo peito seca misteriosamente e imediatamente...
Quando eu desmamei o Pedro ele tinha mais de 2 anos e levou bem uns 6 meses pro leite sumir do meu peito...
bjs
Pata
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