por: Tata
Outro dia, uma conhecida virou pra mim e disse: "a maternidade é glamourizada demais".
O raciocínio me chamou a atenção, e pedi pra ela explicar. Ela então me disse que as pessoas sempre falavam sobre como a mulher grávida fica linda, como o bebê ao nascer transforma e faz da mãe uma pessoa melhor, sobre como é bom ver o sorriso de um filho, brincar, vê-lo crescer, como mães são mais felizes (ou só elas, como diria Cazuza, rs), como um filho traz realização, sentido pra vida, etc, etc, etc. Mas que ninguém falava do outro lado, das noites que se deixa de dormir, das marcas que ficam no corpo depois da gravidez, do trabalho imenso que dá cuidar de um bebê, da liberdade que se perde depois que os filhos nascem, de que se fica anos e anos preso a uma outra pessoa, e por isso se deixa milhares de planos, desejos e sonhos de lado, entre outras coisas que não me lembro agora.
Fiquei pensando muito sobre isso tudo. E sobre a visão que a sociedade contemporânea vem tendo da vida, da maternidade, do indivíduo e de outros conceitos que definem nossas atitudes no dia-a-dia.
Eu sou uma daquelas que repete ad infinitum (e do fundo do coração) que mulher grávida é uma das coisas mais lindas do mundo. Sou do tipo que se derrete mesmo com o sorriso de um filhote, e vivo dizendo que ser mãe fez de mim uma pessoa melhor em todos os aspectos, que me redescobri depois que minhas filhas nasceram. Digo, e repito, porque essa é a minha experiência.
Eu não acho que ser mãe seja um mar de rosas. De todas as dificuldades que a tal conhecida enumerou lá em cima, algumas são incontestáveis: sim, dorme-se pouco; sim, cuidar de bebê dá um trabalho danado; sim, o corpo muda depois da gravidez; sim, muita coisa que fazíamos antes de ser mãe têm que ser deixadas de lado, ou pelo menos encaradas de outra forma, depois que chegam os filhotes. Sobre estar anos e anos preso a outra pessoa, eu já discordo. Não me sinto presa às minhas filhas. Sinto-me ligada a elas, o que é muito diferente. Sinto que minha vida hoje está mesclada com a vida delas, mas não vejo nada de ruim nisso, muito pelo contrário.
Ter um filho é uma experiência muito bacana. Não é perfeito. Mas não precisa ser. Não é disso que se trata a maternidade. Não precisa ser perfeito. Só precisa valer a pena.
Não há escolhas sem perdas na vida. Para tudo o que a gente escolhe, ganha alguma coisa e perde outra. Simples assim, pra tudo. Não existem escolhas em que só se ganha. O que é importante é a gente parar pra pensar, escolher o que é mais importante ganhar, e o que não se importa tanto em perder.
É assim quando a gente opta por ter um filho. A gente perde horas de sono, mas ganha sorrisos e pequenas mãozinhas fazendo carinho, e sonzinhos curiosos nos acariciando os ouvidos. Perde as curvas delineadas, o corpo durinho, mas ganha uma boquinha pequenina grudada no peito e olhando pra gente com olhinhos brilhantes enquanto mama feliz da vida. Perde a liberdade de fazer o que quer, na hora que quer, mas ganha novas habilidades, descobre novos talentos, novos caminhos e novas razões para sorrir e curtir a vida.
Para muita gente, pode não compensar. Pra mim, eu nem preciso me perguntar duas vezes. Eu trocaria mil vezes a minha vida de antes da maternidade pela oportunidade de ver minhas pequenas brincando contentes, descobrindo o mundo, aprendendo coisas novas, crescendo e aparecendo.
Eu não acho que toda mulher deva ser mãe. Maternidade, como tudo na vida, é escolha. E não há escolha melhor ou pior. Há aquela que é certa pra mim, e pronto. É por isso que eu digo que EU não concebo minha vida sem ter sido mãe.
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Mas quando se trata de escolhas, é "cada um com seu cada um". Ou, como disse Caetano, bem mais poeticamente, 'cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é'.
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E isso, no final das contas, é o mais importante: a gente curtir tudo, as dores e as delícias. Umas e outras, tudo o tempo todo, de braços abertos e com espaço pra tudo. Assim, feito coração de mãe.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
6 comentários:
Eu também sou muito apaixonada pela maternidade, sempre sonhei com isso, não planejei e gostaria que tivesse acontecido mais tarde, mas hoje em dia sei que ela veio na hora certa e somos a pessoa certa uma pra outra, descobri que a minha alma gêmea eu tive o privilégio de ter morando dentro de mim e ela sim é o verdadeiro amor da minha vida.
Acho que a maternidade é glamourizada demais porque a verdade é essa, e concordo com você, não é toda mulher que pode (ou merece) ser mãe.
Sei que foi a melhor coisa que me aconteceu, que eu me tornei sim uma pessoa melhor e finalmente me descobri, com quilinhos e estrias que não tinha antes, mas muito mais feliz!
Sim, curtindo as dores e as delícias!
AMEI.
Perfeito!
Lindo, lindo. E muito verdadeiro.
coisa mais bonita é esse texto...
Amei seu texto...é isso mesmo, td na vida é escolha e toda escolha definitivamente leva a abrir mão de alguma coisa. O jeito é pensar bem antes de se arrepender pq pra algumas coisas não há como voltar atrás!
Bjos!
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