
por: Kathy
Crianças sentem ciúmes, isso é óbvio. Mesmo sem saber denominar esse sentimento, elas o demonstram muito bem. Têm ciúmes muitas vezes da mamãe com o papai ou do papai com a mamãe, e reagem se enfiando entre o casal ou gritando um sonoro "não!" quando os pais se beijam diante dela, por exemplo.
Têm ciúmes dos irmãozinhos mais velhos e mais novos, muitas vezes reivindicando mesmo que inconsciente um pouco mais de atenção. Têm ciúmes de seus brinquedos e da professora da escola, já que o conceito de posse e de que tudo é seu ainda é forte e é difícil para eles aprender que é possível dividir as coisas e a atenção das pessoas com os coleguinhas sem prejuízos.
E quando o casal se separa e possivelmente acabam entrando em cena o novo namorado da mamãe ou a nova namorada do papai? Situação mais do que complicada, já que envolve em geral alguém novo na vida da criança, vindo de fora do seu convívio habitual e que, aos seus pequeninos olhos, chegou para "levar embora" o que era só dela.
Meu filho é ciumento e demonstra esse sentimento com frequência. Tanto que eu já consegui passar por quase todas as situações que citei logo acima. Em algumas vezes, Samuel teve reações raivosas e agressivas diante do ciúme. Em outras, ficou chateado, triste, choroso.
Como boa ciumenta que sou, tento nesses momentos difíceis manter a calma e tentar enxergar a situação pelo lado dele. Não é nada legal sentir ciúmes... Claro que muitas vezes é difícil manter a calma com uma criança berrando ou pior, sendo agressiva. Se a situação está muito feia, prefiro, se possível, sair um pouco de cena, me afastar dele alguns segundos pra respirar e colocar as idéias no lugar.
Quando estou um pouco mais calma, a primeira reação é conversar. Olhar no olho mesmo e falar com tranquilidade. Uma coisa que funciona muito com o Samuel é que eu explico pra ele que não vou ouví-lo enquanto ele estiver alterado. Tento falar com calma que enquanto ele estiver berrando descontrolado eu não consigo entender nada. Muitas vezes é preciso repetir isso várias e várias vezes. Não é fácil, mas se a gente mantém sempre a mesma linha de ação, eles entendem muito bem e isso tende a diminuir também o tempo de choradeira.
Uma coisa que sempre atrapalha demais são os palpiteiros de plantão. Em geral as pessoas que estão próximas quando a criança tem um desses descontroles gerados pelo ciúme resolvem por bem que devem ajudar a pobre mãe a segurar aquele "pequeno delinquente". Isso é frequente principalmente quando há outras mães envolvidas, como quando o Sam está irritado porque outra criança pegou um brinquedo seu num parquinho público, por exemplo. Em geral eu tento ignorar solenemente as outras pessoas, focando minha atenção somente no Samuel. Claro que às vezes é impossível ignorar, mas meu foco é sempre tentar resolver as coisas entre eu e ele, sem influências externas.
Depois que ele está mais calmo, gosto de conversar sobre os sentimentos dele, por exemplo: você não gostou que o amiguinho pegou seu brinquedo? você ficou bravo? ficou triste? como se sentiu? Parece que não funciona, mas as com meu filho, pelo menos, sempre acaba rolando um diálogo legal e parece que ele também passa a denominar as emoções, entendê-las mesmo. Várias vezes ele já veio até mim dizendo categórico: "estou muito bravo mamãe!".
Daí, claro, explico que ele não pode bater em ninguém quando está com raiva, por exemplo, porque pode machucar. Explico que não pode jogar coisas, porque elas podem quebrar, enfim, passo o recado sobre o que não gostei dentro da reação dele, sem desmerecer a legitimidade do seu sentimento.
Quando o ciúme é direcionado aos pais, seja por conta do irmãozinho, do namorado(a) ou outra pessoa da família, acho que o mais importante é deixar a criança segura de que a intensidade do amor e a qualidade da atenção dedicada a ela não vai mudar, mesmo com um namorado novo ou com a presença do papai por perto. Não é só falar, claro, é preciso agir, demonstrar, passar momentos de qualidade e carinho com os pequenos para que elas sintam segurança de que nada vai jamais afetar aquele relacionamento entre mãe e filho, ou pai e filho.
Não acredito que há solução definitiva para o ciúme, já que é um sentimento que eu mesma tenho em alguns momentos, é algo incontrolável. Porém, segurança, carinho, atenção e diálogo, mesmo com os menorzinhos, podem fazer milagres no sentido de ajudar a criança a perceber e entender esses sentimentos às vezes tão repentinos.
Reprimir o ciúme com um castigo, ignorar, fazer pouco do sentimento da criança ou provocar o ciúme e se divertir com isso só gera raiva e a sensação na criança de que seus sentimentos são ignorados ou não são levados em consideração, ou seja, não ajudam em absolutamente nada.
Imagem: http://adeusmundocruel.files.wordpress.com/2008/04/ciumes.jpg
2 comentários:
Puxa, Kathy! Sabe que só endo seu texto é que entendi um pouco melhor algumas reações do Rodrigo quando as irmãs dele estão em casa? Já tinha tecido várias hipóteses para o (mau) comportamento dele, mas não tinha levado os ciúmes em conta...Valeu!
adorei o texto!! talvez pela criação q eu recebi, acabei agindo igual com meu irmão caçula, instintivamente... temos quase 12 anos d diferença e os pais dele (ele é fruto do 2o casamento d minha mãe) sempre trabalharam fora e durante todo dia. À tarde era eu, da família, quem ficava em casa com os dois irmãos. As vezes ele chorava tanto querendo o pai e a mãe q a empregada ñ sabia o q fazer. Daí eu tentava conversar com ele e se ñ adiantasse eu sentava com ele, muitas vezes na sua caminha e dizia calmamente e quantas vezes fosse necessárias q assim q ele ficasse mais calminho agente tentaria resolver o problema. E deixava ele lá, sentadinho, e pedia à empregada e ao meu irmão q não se preocupassem, pois ele já ia parar. Sempre dava certo, o chorinho ia diminuindo, diminuindo, até q parava e ele conseguia entender e dialogar numa boa... Acho q isso até ajudou a nos aproximar! Quem diria q tão pouco tempo depois (pois quando se trata d crianças, o q são 5, 10, 20 anos!?) eu teria um daqueles só pra mim? Quando o Ícaro chegar, um tio vai estar com 16 e o outro com quase 11!! E agora sim eu vou testar esses limites... Espero q eu dê tudo certo!!
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