por: Kalu
Sempre tive um certa fascinação por televisão. A possibilidade de integrar sons e imagens para transmitir uma idéia é um recurso com muito poder. Escolhi fazer jornalismo com enfoque para televisão com a ingênua idéia que poderia mudar o mundo, mobilizar para algo positivo. Trabalhando em emissoras descobri que, como tudo neste mundo capitalista, o enfoque é vender. O que dá audiência, não fere os interesses econômicos dos patrocinadores e políticos aliados pode ser divulgado. E o mais irritante é que no pacote você leva propagandas para levar a consumir o que não precisa.
Há milhões de estudos de cores, músicas e imagens para levar as pessoas a comprarem mais e mais. E o pior de tudo, crianças são estudadas e tratadas como consumidores. Descobrem quais são as cores que chamam mais atenção, os sabores e cheiros que ativam as memórias preciosas, as músicas que marcam, os personagens preferidos que estarão à venda nas embalagens dos produtos. A televisão é o grande berço do consumo.
Nos estudos de semiótica descobrem como manter a atenção das crianças por mais tempo, para que determinado programa ou desenho faça sucesso. O resultado são programas barulhentos e frenéticos que capturam o olhar dos pequenos. Não é a toa que a TV é chamada de babá eletrônica. Nossos filhos podem passar horas em frente de imagens e sons, sendo bombardeados por propagandas para fazer com que consumam . E suas almas parecem ter sido capturadas por aquela caixa preta.
A médica Raquel Soifer afirma que a TV cria problemas de dislalia, dislexia e disgrafia nas crianças. E mais:a TV narcotiza essas crianças, predispondo- as ao consumo posterior de drogas.
Usando a referência antroposófica podemos entender como a TV influencia o desenvolvimento dos pequenos. Para a Antroposofia, até os 7 anos de idade o padrão que rege o aprendizado tanto mentalmente como biologicamente da criança é o da imitação. É, portanto, nessa época que a criança mais absorve o seu meio ambiente, ou seja, se o ambiente é tranqüilo a criança terá maior propensão a ser tranqüila e vice-versa.
Outro ponto relevante é que nesta fase uma das características mais marcantes será sua fantasia, ou seja, com alguns toquinhos de madeira a criança pode passar horas brincando e imaginando toda tipo de situações. Se pensarmos que o corpo humano tem uma espécie de divisão anatômica bem definida em três partes: cabeça, tronco e membros, e que nosso pensar está mais relacionado à cabeça, nosso sentir, mais relacionado ao tronco, onde se encontraria o agir? Pois é, nos membros.
Até os 7 anos, a criança se encontra mais no pólo dos membros do que na cabeça. Na visão antroposófica, o pequeno ser é pura vontade, motivo pelo qual sua atividade é tão fortemente marcada por sua capacidade imitativa, pois as células estão se reproduzindo rapidamente e fazendo o organismo crescer. Ela vive no movimento e na percepção do próprio corpo!
Já a televisão é veículo de comunicação que fica parado em algum lugar da casa, com sua tela a bombardear em nossas retinas milhares de mudanças por minuto. Sem contar que para manter nossa atenção é necessário que os programas tenham um ritmo sempre maior do que nossa capacidade de percepção. Um último ponto é perceber que os programas de televisão são um produto pronto, acabado e sem nenhuma interatividade.
Se a criança é puro movimento e a televisão é estática, temos aí um bom argumento para desligar o aparelho e brincar mais com nossos filhos. TV e criança não combinam, mas ao mesmo tempo constatamos que a tela da TV exerce um grande magnetismo sobre esses mesmos seres. O que fazer? Penso que a responsabilidade desses pequenos seres não está neles e sim nos seus responsáveis.Quanto mais cedo tivermos consciência de que o elemento natural para o desenvolvimento da criança é o "brincar", mais teremos força para pelo menos limitar o acesso à TV.
Criança gosta de atenção, carinho e interatividade para brincar junto. Bastam alguns elementos como um giz e um papel; um pedaço de madeira; pedras e um recipiente para fazer uma verdadeira festa. O famoso "não tenho tempo" deixa de existir quando tomamos consciência que tempo é mera questão de opção e estar com os filhos, participar de seu crescimento, torna-se uma fonte inesgotável de prazer. Assim poderemos propiciar um desenvolvimento mais saudável e feliz para nossas grandes riquezas.
E você, o que pensa sobre crianças e televisão?
Imagem: www.gettyimages.com.br/
6 comentários:
Oi querida! Eu gosto de televisão, chego a me assumir viciada em alguns programas. O Sam também gosta e assiste bastante. Aqui em casa a gente tenta o meio termo. Não deixo a tv de babá eletrônica, mas também não proíbo. Assistimos juntos e às vezes ele assiste sozinho os DVDs que já conhece. Vamos assim, nem radicalizando pra cá, nem pra lá. Um beijão!
Eu concordo. Não achei exagerado não. Eu sempre trabalhei fora, e quando chego em casa, priorizo meu tempo para brincar. Não acho que ver televisão seja brincadeira.
Nicole vê alguma coisa na TV (um filme, ou discovery kids), mas muito raramente e não tem paciência para ficar muito tempo. Talvez porque já aprendeu e entendeu que brincar mesmo é muuuuito melhor
Eu estou mais pro lado da Kathy, adoro televisão, e a Bruninha já gosta de alguns programas específicos, mas também não tem paciência pra ficar muito tempo sentada assistindo não, eu respeito isso...respeito o momento em que ela quer ficar quietinha vendo o programa dela e nem pensar desligo a tv na cara dela e também não me recuso quando ela pede por mim. Acho que tem muito programa bom na tv que é bom e combina sim com criança, que incentiva inclusive a imaginação...mas já deixar o tempo inteiro na frente da tv eu sou contra.
Meu ponto com a televisão é quando ela se transforma em uma espécie de onipresença n a casa. A família vai comer? Vai para frente da televisão; a família se reune à noite na sala? Vai para frente da televisão; a família vai dormir? Liga a televisão para relaxar; domingo à noitinha, de manhã cedo, durante as refeições, e lá está a tv ligada. Francamente, acho que isso induz a uma superficialidade danada nas relações, sem contar que o teu inconsciente fica lá, absorvendo um monte de coisas que de repente não te interesssam.
Acho que não existem nenhum problema em nossos filhos assistirem à tv em momentos específicos e a programas previamente testados e aprovados pelos responsáveis... Mas daí a isso se tornar onipresente, vai uma longa distância.
Em tempo, sei por experiência própria que entreter uma criança sem apelar pra telinha dá trabalho... Mas compensa.. E essa é uma fase tão preciosa e tão educativamente rica! De mais a mais, ele terá tempo de sobra para ficar na frente da telinha. Entre o uso e o abuso, tem um espaço que o bom senso preenche.
Sim, eu concordo. Acho que Tv em excesso faz mal para qualquer pessoa, especialmente crianças. Mas também não acho que deve ser proibido, há programas legais para as crianças assistirem. Quero tentar evitar ao máximo que meus filhos fiquem em frente a Tv, mas sei que será impossível proibir.
Beijos
Oi Kalu! Concordo PLENAMENTE com você e estou aqui na luta comigo mesma para diminuir cada vez mais o meu tempo em frente à tv por minha própria causa, mas mais ainda pela causa da Kamila que hoje está com 8 meses. Tenho tv a cabo e gosto de algumas séries da Sony, Warner, Home Health, mas tenho visto cada vez menos e colocando cada vez mais música para a pequena, principalmente as clássicas. Qdo ela tiver 2 anos quero colocá-la na Waldorf, pois acho que é a escola que mais se encaixa com o jeito de pensar meu e de meu marido. Na verdade ele é mais antroposófico que eu, pois ele é super contra a brinquedos de plástico, tv e até já brigamos por causa disso pois na época eu queria ver meu programinha em paz, mas aos poucos ele foi me fazendo entender certas coisas, como as que vc escreveu, e tbm fui pesquisando por conta própria e cada vez tendo consciência de que o caminho é mesmo diminuir cada vez mais. Mas tem a questão que é na casa das avós, dos tios, e isso nao tem como evitar, pois a tv é presença marcante em quase 100% dos lares, infelizmente. Com certeza nao poderei protegê-la totalmente, mas pelo menos dentro de casa o acesso vai ser bem restrito e ainda quero chegar a dar a tv para alguém!!! hehehe... Vamos ver se consigo! Tem gente que me acha radical, mas acho que perdemos realmente mto do nosso tempo em frente à caixa preta ao passo que podemos dedicá-lo à atividades que nos façam ser mais criativos e unidos como família.
Beijos!
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