por: Tata
Recentemente, fiquei sabendo dessa estória. Resumindo, o caso é o seguinte: uma marca conhecida de roupas infantis veiculou uma propaganda na qual se via uma menina de uns cinco anos vestida como 'mini-mulher', em uma pose lânguida, de significado ambíguo. Para piorar, a frase-mote da campanha: "use e se lambuze".
Sinceramente, acho que precisa ter muita ingenuidade para não enxergar um forte apelo erotizante por trás dessa propaganda. E não é viagem minha não, tanto que, como vocês podem ver pelo link acima, o Instituto Alana, uma entidade muito bacana de assistência social para o desenvolvimento da cidadania, está movendo uma ação jurídica contra a empresa que veiculou a propaganda.
Além das questões óbvias e seríssimas, como o estímulo à pedofilia e à erotização precoce, isso tudo me fez pensar em um tema polêmico, e que considero muito sério. Não é de hoje que percebo que as crianças têm tido cada vez menos tempo para ser crianças.
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Eu me lembro da minha própria infância, e não consigo evitar um sorriso ao lembrar que, aos 14 anos, eu ainda brincava com minhas bonecas. Hoje em dia, meninas de 14 anos estão mais preocupadas em caber no jeans manequim 38 e com a balada do final de semana.
Para quem é mãe de menina, como eu, acho que a situação é ainda mais preocupante. Basta dar um pulo até a loja de roupas mais próxima para constatar a força do fenômeno. Eu, por exemplo, sofro horrores cada vez que preciso comprar roupas para as pimentas. Haja tempo para garimpar entre roupinhas de "mini-mulher", ombros de fora, decotes absurdos, muito brilho, modelos inacreditáveis até mesmo para uma adolescente, vestindo manequins de meninas de três, quatro anos.
Fico pensando onde vamos parar, se continuarmos trilhando um caminho como esse. Dando cada vez menos tempo às crianças para que curtam ser apenas isso: crianças. Para que experienciem o mundo com olhos ingênuos, puros, livres de malícia. Para que fantasiem à vontade, explorem os cantinhos lúdicos de um mundo sem maldade, sem segundas intenções.
Estamos tirando de nossas crianças algo muito sério: o direito à infância. E falo de infância não apenas como uma fase cronológica da vida, mas como um tempo pleno de possibilidades, onde se pode existir livre de preconceitos, de padrões, de cobranças estéticas ou sociais, das amarras de uma sociedade obcecada pelo consumo, pelo dinheiro, pela beleza, e por tudo o que é ilusório, vazio e inútil.
Eu espero conseguir preservar minhas filhas dessa violência (sim, porque não consigo imaginar violência maior que roubar a uma criança aquilo que lhe é mais precioso: sua inocência), cuidando para que cresçam com outros tipos de valores, de desejos e de crenças de vida. Espero, mas não posso negar que muitas vezes me assombra o medo de não conseguir, porque afinal não se pode criar os filhos em redomas de vidro, protegidos de um mundo que, por mais torto e absurdo que possa ser, é o mundo no qual eles terão, inevitavelmente, que aprender a viver.
Espero conseguir ao menos criá-las para que ajudem, em um futuro não muito distante, a criar uma nova consciência. Minhas duas pequenas sementinhas, que planto sonhando com uma nova realidade, de valores mais nobres, objetivos menos egoístas e mais humanos.
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Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
4 comentários:
Oi Tata
Também sou mãe de menina e sinto isso qdo vou comprar roupas e olha que ela tem apenas 14 meses!! Quero vesti-la como um bebê de 14 meses e não como uma mini-mulher....espero ter lucidez e conseguir passar bons valores pra minha pequena! Um beijo!
Drica da Isa
Ttata... Eu pressinto que nosso próximo filho será uma menina e morro de medo... Porque, a sério, eu vou brigar com muiiiiiiita gente! Ac ho que muito doq ue se tem hoje para o público infantil, mais comumente para as meninas, é de uma violência psicológica enojante. Sim, sim, para muitos pais, é orgulho que suas meninas vistam-se e até ajam como mocinhas, não necessariamente como mocinhas exatamente dignas. Roupinhas mínimas, namoradinhos, cds absolutamente aviltantes com os quais doutrinam as próprias filhas. É muito difícil educar menina hoje em dia. Tem que ter muito amor, muita cabeça no lugar e muita determinação, para não inverter todas as prioridades...
E, no final, Deus que me perdoe, mas ficam umas crianças descompensadas e tão chatas... Que dá até pena.
OLha Re.... é tão complido roupas e sapatos de doer mesmo
e os sapatos? de salto????
em casa, só sandália ortopé e pt final! rs
de verdade, é bem trabalhoso remar contra a maré, buscar roupas e sapatos adequados à infância, fazer as crianças resistirem ao apelo das xuxas, carlas-perez e rebeldes da midia.
mas, acredite, é possível e dá resultado. no final, as meninas crescem no ritmo delas, sem pular etapas, e isso só traz benefícios.
precocidade não ajuda ninguém!
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