Eu tenho em casa duas pequeninas que já passaram por todo tipo de fase em relação ao sono. Com um mês, dormiam a noite toda. Dez, onze horas direto, o sonho de qualquer mãe. Isso, naturalmente, sem nenhum 'treinamento'. Com cinco meses, começaram a acordar uma, duas vezes por noite. Com nove meses, passaram por uma fase complicada: chegavam a acordar cinco vezes por noite cada uma - o que significa que euzinha aqui levantava nada menos que dez vezes por noite. Não chegava a dormir uma hora direto, era o tempo todo acordando, levantando, dando mamá, embalando, botando no berço, deitando, retomando o sono interrompido para logo em seguida começar tudo de novo. Foi nessa época que desencanei dos preconceitos e passei a adotar a cama familiar: com elas dormindo juntinho ficava tudo bem mais fácil.
Daí pra frente, eram épocas acordando mais, épocas acordando menos, épocas (bem raras, admito) engrenando quase uma noite toda de sono contínuo. Não nego que tive meus momentos de extremo cansaço. Tive noites de chegar a chorar, sentada na beirada da cama, pensando "chega, eu não aguento mais!". Mas era exatamente quando eu chegava nesses picos de cansaço que elas, talvez intuindo minha dificuldade, davam uma engrenada, passavam uns dias acordando menos, eu recuperava as forças e pensava que dava pra levar por mais um tempinho.
A verdade é que eu nunca me senti confortável com a idéia de "treinar" minhas filhas para dormirem a noite toda. Sim, sei dos Nana Nenê's e Encantadoras de Bebês da vida, mas essas técnicas não combinam comigo, com a maternidade em que eu acredito, com o que desejo para as minhas filhas.
Eu não acredito que bebês sejam manipuladores por natureza. Acredito que bebês têm necessidades, que são seres em adaptação, que estão descobrindo muitas coisas novas, aprendendo a lidar com sentimentos e sensações até então desconhecidas, e precisam de apoio, de toque, de muito amor, carinho e proximidade para lidar com tudo isso.
Eu não nego que esses métodos funcionem. Nunca tentei com minhas filhas, mas imagino que devam funcionar, sim.
Para quem não conhece, são métodos que pregam que é preciso "adestrar" o bebê, ensiná-lo a não precisar de colo, peito ou qualquer tipo de ajudar para voltar a dormir, quando desperta no meio da noite (o que é normal, e acontece inclusive com adultos). Em resumo, quando o bebê acorda, deve-se deixar que chore até dormir, para que aprenda a ninar-se sozinho (no caso do Nana Nenê) ou ir até o berço, pegá-lo no colo, explicar que é hora de dormir, fazer um carinho e colocá-lo de volta no berço ainda desperto, e caso o choro recomece, repetir o processo infinitas vezes, até que a criança durma (no caso da Encantadora de Bebês).
Acredito que esses métodos funcionem porque sim, seres humanos podem ser condicionados. Assim, como ratinhos de laboratório, que após tomarem repetidos choques ao tentar tocar em uma comida deixada propositalmente ao seu alcance, aprendem a não mais aproximar-se dela, ainda que estejam a ponto de morrer de fome. Da mesma forma, imagino que o bebê, depois de alguns dias de aplicação dos métodos acima, 'desista' de chorar e de implorar por carinho e atenção, já que já sabe que só receberá negativas em resposta. Mas isso não acontece porque agora ele já se sente seguro, tranquilo e confiante para adormecer sozinho, mas porque sabe que chorar só o fará gastar energia, e não lhe trará qualquer consolo, portanto o melhor é engolir sua angústia em silêncio.
Definitivamente, não é isso que eu desejo para as minhas filhas. Não quero que elas aprendam que não podem contar comigo, que nos momentos de dificuldade, não adianta chamar, porque eu não poderei ajudá-las. A mensagem que acredito ter passado para as minhas pimentas, em tantas noites de peito, colo e aconchego, é algo como "eu estou aqui, você pode ter que passar por dificuldades, essa vida é difícil muitas vezes, temos que aprender a lidar com coisas nem sempre agradáveis, eu sei que você está se esforçando, e você pode contar comigo, meu colo, meu carinho estarão sempre aqui quando você precisar. eu posso não poder resolver todos os problemas por você, mas estarei sempre ao seu lado para te dar forças para resolvê-los".
Hoje, depois de anos acompanhando a vivência de tantas mães, pais e bebês entre amigas e companheiras de listas de discussão, tenho comigo uma certeza: bebês que dormem a noite toda são exceção, não regra. Os bebês estão em constante adaptação ao mundo externo, aprender sobre os ritmos da vida diária faz parte desse processo. E aprender leva tempo, exige paciência, dedicação. Dentro da barriga, o bebê nem ao menos se sentia dormir ou acordar, tudo era fluidez e continuidade. Adaptar-se a algo diferente é um aprendizado. E, como todo aprendizado, pode ser conduzido com suavidade ou com violência.
A grande questão é que somos acostumadas a acreditar que, se nosso bebê acorda, ele deve ter algum problema, ou devemos estar fazendo algo de errado. Não. Seu bebê não tem nenhum problema, nem você está fazendo nada de errado.
Por quanto tempo você levará essa situação, se tomará alguma atitude mais intervencionista, ou se deixará que as coisas caminhem naturalmente, só você poderá decidir. Não existem soluções prontas, nem respostas absolutas. Como em quase tudo, cada família encontra a sua dinâmica, e há soluções para todas as nuances possíveis.
O importante é que você saiba que essas coisas acontecem, e passam. Não se deixe levar pelo fantasma de um filhote acordando quinze vezes à noite à beira do vestibular. Vale, aqui também, o bom e velho mantra da maternidade: "isso passa". Acredite, passa sim.
Muitas vezes, e digo porque a partir de um determinado momento tive plena consciência de que isso acontecia comigo, o que pesa mais não é nem o acordar em si, o cansaço propriamente dito, mas a sensação incômoda de inadequação, de que aquilo não deveria estar acontecendo. Pois lembre-se: seu filho é único, sua família é única, e quanto a isso, regras não existem. Tudo bem sentir-se cansada, tudo bem desejar ardentemente uma noite de sono ininterrupto, mas não deixe-se levar pelas más línguas que repetem a torto e a direito que você precisa 'domar' seu filho, sob pena de transformá-lo em um pequeno tirano. Tome uma atitude se, e apenas se, VOCÊ acreditar que é preciso mudar alguma coisa. Caso contrário, relaxe, respire, e siga adiante. Como para tudo, eles crescem muito mais rápido do que a gente imagina.
Hoje, com 3 anos, minhas filhas dormem a noite toda já há praticamente um ano. Doze horas direto. Dormem e acordam com as galinhas: vão das sete da noite às sete da manhã. Quando estão doentinhas, ou passando por alguma fase mais difícil emocionalmente, alguma carência ou coisa do tipo, acabam acordando. Mas aí é uma fase específica, basta ter sensibilidade para sacar a raiz do problema. E passa logo. Além disso, já não mamam mais quando acordam, apenas pedem nossa presença para dissipar o susto da escuridão noturna.
E eu? Bem, não é raro que eu acorde, em meio ao silêncio da madrugada, e fique alguns segundos a contemplar aqueles rostinhos adormecidos, a escutar o doce som da respiração, a acompanhar o suave movimento das barriguinhas a subir e descer, subir e descer, subir e descer.
Nessas horas, eu não tenho a menor dúvida. Horas de sono, a gente recupera. A oportunidade perdida de estar presente, de dar carinho e segurança, essa não.
Essa, se a gente deixa passar, não volta mais.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
5 comentários:
beeeeem verdade..........
beijo!
conselho de quem tinha bb que não dormia: enfiar na cabeça "nós não vamos dormir a noite toda e ponto". Quando a pessoa já vai deitar com a angústia e a expectativa de que o bb vai acordar ela sofre. Pra mim, o segredo é aceitar que será assim até, pelo menos, 2 anos. E, olha, 2 anos voam. Se lutar contra, sofre mais. bjs
A-do-rei. Acredito em cada ponto, vírgula e palavra. Vamos parar de achar que os bbs estão errados e encontrar maneiras de tornar essa fase menos estressante para as mães. Beijos
Concordo plenamente com cada linha...eu nunca tive esse tipo de problema com a Bruna, ela sempre dormiu a noite inteira, a não ser quanto tá doente ou algo do tipo, mas nunca pensei em domá-la, não acredito nessas teorias que dizem que os bebês fazem manha.
Eles mal assimilam que já são um indivíduo, como vão fazer manha?!
Eu só não adotei a cama familiar pq tinha medo do meu marido virar em cima da Bruna e mata-la sufocada... acabou que ela acostumou no berço e nunca reclamou....
Beijos!
Amei! Acho que toda gestante devia ler este post antes de parir, para não ficar acreditando que elas e seus filhotinhos é que estão fora do normal...rsrs Sempre achei que amor, carinho e atenção são essenciais e não "estraga" ninguém, muito menos o "amor da minha vida", mas confesso que tivemos longas conversas de madrugada, na minha ou na cama dele, em que eu tentava explicar o quanto eu precisava dormir algums horas... Mas olha, meu leonino não é do tipo 'domesticável', só compreende no tempo dele e com muitos argumentos, de preferência no colinho da mamãe, bem abraçadinho... Agora, aos 3 anos e 10 meses dorme tranqüilo, toda a noite (já há 2 anos) e eu tb já concluí que tudo passa depressa demais para causar sofrimento... passemos pelos processos, sabendo que uma nova fase chegará logo, logo (é isso que eu tento explicar para as mamães que não estão dormindo ainda...). Beijos, Alessandra, mãe do João, nascido de parto natural de ativista da Parto do Princípio.
Postar um comentário