por: Kalu
Birra é uma palavra que não gosto muito, principalmente quando o assunto é bebês e crianças. Ao contrário do que muitos autores costumam colocar, não acredito que os pequenos são tiranos. O choro é a primeira forma de comunicação dos quais os bebês nascem equipados. Eles choram quando estão com fome, sono ou quando setem o mundo diferente do que conheciam.
A medida que ganham novas ferramentas passam a manifestar os sentimentos de contrariedade através de tapas e cenas que podem causar pânico nos pais. O que fazer quando uma criança tem a atitude de se jogar no chão, bater a cabeça ou gritar desesperadamente?
A primeira coisa a pensar é: o que meu filho está querendo dizer com estas atitudes. Antes de um ano de idade nem devemos pensar que isso é birra ou manha. Eles precisam de colo e aconchego. Para os maiores colo e aconchego continuam valendo, mas podemos pensar em outros fatores externos que podem causar uma mudança de atitude.
A gravidez da mãe, a ausência prolongada podem ser fatores que levam as crianças a estas atitudes. O ideal é manter a calma e nunca negligenciar o sentimento manifesto ou repreender. Assim como não concordo em deixar o bebê chorar até adormecer, não acho válido para o bom desenvolvimento emocional das crianças ignorar uma atitude que expressa um sentimento tão forte. Não podemos, contudo, ceder.
Um primeiro passo é afastar pensamentos como: o que estou fazendo de errado? Será que não estou dando educação? Até pouco tempo atrás educação era sinônimo de violênca. Neste espaço buscamos maneiras mais humanizadas de trazer nossos filhos ao mundo e educá-los.
O segundo passo é saber que como tudo na maternidadenão existe uma fórmula a ser aplicada com resultados eficientes. O que propomos aqui é antes de tudo uma reflexão sobre os caminhos tortuosos da educação de nossos filhos, sabendo que muitos de nossos paradigmas e teorias serão colocados à prova.
O terceiro passo é buscar uma forma de manter o quilíbrio nestas situações procurando entender que a "birra"não é "contra" a mãe, mas sim um processo particular e pessoal que a criança encontrou para lidar com vida naquele momento. Se possível procure não reagir aos acessos. Isso não quer dizer ignorar. Podemos estar lá com o coração aberto para receber a criança quando a mesma encontrar seu centro. Ofereça colo, abraços e carinhos sem a intenção de bloquear a birra. Da mesma forma como permitimos que o sistema imunológico de uma criança fique mais forte quando não tentamos baixar a febre, depois de uma fúria o sistema psicológico se expande.
Quando seu filho te bate, ele quer várias coisas: que você preste atenção nele, ele está manifestando um desagrado, ele quer que você reaja para satisfazer alguma necessidade que não necessariamente que deva ser satisfeita. Esta ação exige que a criança saiba o que não é certo bater. Afaste o rosto ou segure a mão dele sem machucar. Outro ponto importante é ajudar seu filho a elaborar o sentimento como por exemplo "Você está bravo porque quer ir na piscina mas não pode? Que tal a gente fazer outra coisa juntos como passear na rua?"
Meu filho estava com uma grande dificuldade para comer. Muitas pessoas me falaram que era por causa do peito. Então passei a evitar a dar peito para ele próximo das refeições. E cada vez que sentava para dar comida ele puxava o peito e gritava "mamá". Passei a dar mamar para ele novamente em livre demanda e ele algumas vezes mamava, parava e voltava a comer. Mesmo parecendo incoerente, aquilo me parecia a coisa mais certa a fazer. Ele entendeu que o peito estaria sempre disponível e que eu não estava substituindo uma coisa pela outra e voltou a comer. É muito difícil desenvolver esta percepção não-verbal, mas será muito eficiente para toda nossa vida, em diversas situações.
Com isso aprendemos a entender o ponto de vista do outro e desenvolver uma negociação consciente. São ferramentas de relacionamento maravilhosas para usar com um chefe ranzinza ou um marido fechado. Outro ponto importante é não distrair a criança quando manifestam sentimentos que a assustam, como raiva, tristeza ou revolta. Com o tempo estes sentimentos ganham formas diversas quando ignorados. Se uma criança cai, por exemplo não devemos ignorar o sentimento distraindo com outras coisas. O sentimento que fica é que o choro não é verdadeiro e que a dor deve ser abafada ou ignorada. Se a dor dele é escondida, nossos filhos não terão a capacidade de acolher a dor do outro e, assim como fizeram com ele, vão ignorar. O ideal é acolher, perguntar se estavam tristes, aninhar e esperar até que possam correr serelepes pela vida. E lembrar de aninhar e dar colo, sempre, para que não precisem adoecer para receber carinhos.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
3 comentários:
Kalu, gosto muito qndo vcs escrevem sobre 'essa' educacao consciente e digamos ate, humanizada.
Acho que a maioria das maes de hoje sao as que foram criadas com palmadas e sermoes 'morais', comigo pelo menos foi assim.
Sou adepta dessa nova geracao de maes e faço de tudo para seguir essa linha de raciocinio, embora nao seja facil...rsss
Mas como tudo isso pra mim eh novidade, existe uma coisa que nao deixo de pensar: esse tipo de criaçao nao pode no futuro, proximo ou distante, criar homens e mulheres que acham que podem tudo e que o 'mundo' sempre vai compreende-los???
Eu gostaria de entender isso melhor...
um beijo para as mamiferas
Rosana
Rosana,
Eu acho que a gente deve pensar no mund que gostaríamos que nossos filhos vivessem. Tenho certeza que eles serão pessoas úteis para o mundo e com grande capacidade de adaptaçao. Estamos deixando um legado precioso.
Oi, Kalu.
COmo vai?
Adorei o texto. Sempre fico me questionando sobre como lidar com as birras do meu filho.
Gostaria que você escrevesse mais sobre isso, com exemplos, como fez nesse. É bom ver a prática. :-)
Eu, muitas vezes, fico muito perdida em como reagir.
Por exemplo, você diz assim "Se possível procure não reagir aos acessos. Isso não quer dizer ignorar.". Eu tenho dificuldade com isso... Como não reagir, sem ignorar? Que fazer? rsrsrs
Só estou lançando minhas dúvidas existenciais do momento... Não espero que vc tenha as soluções, hahaha. Pq ai não seria empoderamento meu. :-)
Bjoks
Parabéns pelo blog
Paula
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