por: Kalu
Na noite escura ela parece não conseguir esconder-se quando a lua cheia lá fora surge. O rabo pula fora do vestido, as patas buscam a terra, os instintos afloram e ela sai a noite para dançar perto da fogueira onde outras lobas celebram sua essência feminina.
Tenho certeza que em cada mulher há uma porção loba. Lembro-me que na noite anterior ao meu parto senti uma estranha vontade de andar de quatro na terra. Levantei da cama confortável para brincar com as estrelas que salpicavam o céu de uma noite de 19 de fevereiro.
Sempre tive este espírito selvagem que busca o que é diferente, rompe paradigmas. Por vezes tentei “informar-me” a respeito do mundo. Rasguei as roupas e aprendi a viver melhor com as estações adequando-se a minha natureza. Recolho-me dentro de mim na lua nova, expando-me na crescente, transbordo-me na cheia para depois contrair-me para meu interior.
Em cada linha da minha existência, intensificado depois da cria, enchi-me de boas certezas e vi ressurgir de dentro de mim a mágica loba. Hoje sei que a febre é o fogo que rompe com paradigmas de encarnações e processos; que criança levada é sinônimo de seres que estão aprendendo a usar os membros para fortalecer a mente. Nada de estímulos demais.
Basta um quintal com gramas e gravetos; um cachorro a correr pelo jardim sendo a grande companhia. A felicidade rima com simplicidade. Dormir junto não faz seres dependentes, afinal, passamos a vida para nutrir essa ausência de calor que encontramos ao dormir de conchinha com alguém. Se morássemos na mata, um filhote sozinho seria presa fácil. Porque não dormir todos juntos.
E quanto a intimidade, dormir junto com a cria estimula a criatividade de encontrar outros lugares para namorar. Às vezes no jardim, olhando a bela lua. Porque leite em pó, bicos artificiais se a natureza nos dotou com equipamentos tão confortáveis e saudáveis que nenhum homem será capaz de imitar?
Amamentar como ato de amor, sabendo que olhar nos olhos e tocar a pele nutre o corpo e a alma. A maternidade ativa nos transforma em lobas, em bruxas nos empurrando diariamente para o abismo da confiança em nós mesmos. Diante do abismo estique as asas e voe para além do conhecido para habitar um lugar onde o feminino baila e uiva para a lua.
Imagem: www.gettyimages.com.br
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