por: Tata
É assim: o bichinho nasce, gruda no peito, mama o dia inteiro, a gente supera as dificuldades iniciais da amamentação e o negócio passa a ir de vento em popa, é dia e noite com o filhote no peito, a gente acostuma e passa a gostar desse negócio de disponibilidade geral e irrestrita, de poder sacar o peitão em qualquer hora e lugar para aplacar a fome dos nossos pequenos mamõezinhos.
Só que o tempo passa. Vão-se seis meses, às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos, e chega a hora de apresentar outros sabores para aquele paladarzinho tão apurado. Para algumas mães, é um momento pra lá de divertido, com muita sujeira, bochechinhas lambuzadas, melecas mil e bebês alimentados e felizes. Para outras, começa um pequeno calvário: o bebê não come de jeito nenhum. E aí, o que fazer?
Eu acho que a primeira coisa é relaxar. Sim, é difícil deixar rolar com tranquilidade quando o seu bebê não come nada de nada, e tudo o que você ouve ao redor é sobre o filho da vizinha que desde os quatro meses bate o maior pratão, sobre a filha da cunhada do motorista do ônibus, que come duas bananas, um sanduíche e um copão de leite com chocolate no café da manhã, sobre o sobrinho da avó do padeiro, que é fanático por pão de queijo, macarronada e churrasco, e por aí vai. É duro, e a gente começa mesmo a se perguntar se está fazendo algo de errado.
A verdade é que o único erro aí é achar que todos os bebês são iguais. Que vão começar a comer alimentos sólidos todos na mesma época, da mesma maneira, e com a mesma satisfação. Adultos não são todos iguais, porque as crianças o seriam? Há adultos que gostam mais de comer, outros nem tanto. Entre as crianças, é a mesma coisa.
Seu filho não precisa ser um devorador de macarronada e churrasco. Esqueça os bebês johnsons, todos cheios de dobrinhas e irresistivelmente gorduchos. Se ele se alimentar saudavelmente, ainda que pouco, isso já é suficiente. Foi-se o tempo em que se acreditava que criança gordinha é criança saudável. Hoje, já se sabe que a quantidade de comida que se come não tem absolutamente nada a ver com saúde. O que importa é a qualidade.
É óbvio que não dá para desistir de uma vez e dizer: "bom, o dia que ele quiser comer, ele pede". Mas ficar forçando só traz estresse, para você e para o seu bebê. Se seu pequeno tem dificuldades para começar a comer, talvez seja bacana pendurar na porta da geladeira (sem dúvida, um bom lugar!) uma frase que a pediatra das meninas me disse uma vez: 'criança que tem comida em casa não passa fome!'. Claro, é bom lembrar que falamos de comida saudável. Não vale deixar que a criança não coma a comida e, no intervalo, liberar bolachas, danoninhos, balas, entre outras porcarias. Se não quiser comer, não come. Mas se quiser, é comida: arroz, feijão, legumes, verduras, frutas, grãos, carnes.
As crianças têm seu tempo, cada uma o seu. E costumam ser muito sábias nisso, e defender com unhas e dentes seu direito a só fazer aquilo que estão preparadas para encarar. A hora do seu filho começar a comer pode ser antes, pode ser depois. Só há uma certeza nesse processo: não será você quem determinará esse momento, muito menos o filho-da-cunhada-da-vizinha.
Assim, se seu filho faz parte do grupo de candidatos a futuro faquir, relaxe. Continue oferecendo alimentos saudáveis, balanceados, variados. Capriche na oferta de frutas, legumes, dê pedacinhos para que ele possa manusear, sentir, investigar. Crianças são muito táteis, conhecem o mundo pela ponta dos dedos. Desencane da bagunça, ela faz parte do processo. Permita a seu filho investigar as cores, texturas e sabores dos alimentos do seu jeito. Ele saberá fazê-lo, acredite.
Lembre-se: até um ano de idade (e há fontes de consulta que defendem que isso ocorre até os dois anos), o leite materno continua sendo o principal alimento para o seu filho, nutricionalmente falando. Todo o resto é complemento, portanto não há motivo para achar que aos seis meses seu filho ficará desnutrido porque não come o prato de estivador que o sobrinho-da-cunhada-do-padeiro lá de cima devora em questão de minutos. Ele terá o tempo dele para tornar-se um glutão, ou não. Talvez ele apenas passe a comer o suficiente para não passar fome. Se a criança estiver crescendo e se desenvolvendo, e se tiver uma dieta saudável, ainda que limitada em quantidade, não há motivo para preocupação.
E lembre-se também que nada é para sempre. Um belo dia, quando menos esperar, você poderá ver-se no supermercado e sentir-se subitamente teletransportada para uma propaganda de TV, quando seu filho puxar a barra da sua blusa e pedir sem cerimônia: "mãe, me compra um brócolis?"!
Olá!
Mudamos de endereço.
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6 comentários:
Ai, adorei o texto. Não tenho filhos (ainda), mas me remeteu às muitas vezes que minha avó veio preocupada dizer para minha mãe que meu irmão "está tããão magrinho, come tããão devagarinho, porque o priminho dele, olha só como ele é forte, devora tuuuudo, vai ficar bem gordinho e olha que tem 8 meses a menos! E blá blá blá!".
Só rindo!
Um abraço!
Meu filhote tem quase 9 meses, com 6 começou a coisa de novos alimentos... ai Deus! Ele não comia!
Aí um belo dia me viu comendo e abriu um bocão, comeu que deu gosto e não para desde lá!!! Continua mamando, feliz da vida!
ai, Re, depois de ser desencana com isso por 2 anos e ver que meu filho não tá crescendo NADA porque não come, eu resolvi começar a encanar sim. porque 2 anos de desencanação já foram suficientes pra mim. chegou a hora que eu precisei de bom senso e ver que isso estava realmente prejudicando ele. estou no método intermediário pra ver o que vai resultar agora. estou seguindo o meu coração de mãe pq minhas teorias me confrontaram.
Si, acho que teu comentário tem tudo a ver. Como eu disse no texto, acho que o comer ou não comer não pode ser a ÚNICA questão para causar (ou não) preocupação. O que eu quis dizer é que não comer não é, por si só, um problema. Pode ser apenas uma característica. Se a criança, no mais, está se desenvolvendo normalmente, não há motivo para preocupação. Agora, como no caso do teu filhote havia outro fator envolvido - restrição do crescimento - aí, claro, é caso de investigar melhor e descobrir o que está acontecendo...
bjo, querida!
É normal comer dois dias e depois não comer 3?
oi Márcia, eu acho que em se tratando dos nossos filhotes, quase tudo pode ser normal e pode não ser.
Como eu disse, é preciso avaliar o todo e dar menos importância às informações pontuais. Por exemplo: normalmente, seu filho come bem? É apenas uma fase que ele está passando ou comer pouco é uma característica? Se for uma característica, de resto, ele apresenta outros sinais de problema? É uma criança ativa, feliz? Brinca normalmente, tem energia? Tem brilho nos olhos? Faz xixi e cocô normalmente? É saudável ou adoece com facilidade?
Se o comer pouco for a única coisa que ele tem de diferente, e de resto for saudável, ativo, feliz, esperto, etc, acho que não é preciso se preocupar. Cuide para que o pouco que ele coma seja sempre balanceado e saudável, e relaxe. Seu pequeno pode ser mais um entre os muitos candidatos a faquir!! :-)
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