Uma Decisão Difícil...

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por: Tata

Quando eu era pequena, dizia que queria ter seis filhos. Sempre achei o máximo família grande, sempre quis ter mais irmãos. E até hoje, digo sem pensar duas vezes que, se eu fosse rica, teria mesmo uns seis, pelo menos. Continuo adorando família grande e a idéia de uma família cheia de irmãos e irmãs para dividirem brinquedos, brincadeiras, brigas, confidências, experiências, amores, dores, enfim. Uma caminhada conjunta pela vida afora.

Mas a verdade é que depois que os filhos chegam, a gente vê como as coisas acontecem, as necessidades que vão surgindo, e passa a ver as coisas de outra forma. Fica mais pé no chão, toma um banho de realidade. Hoje em dia, aqui em casa, estamos nesse ponto da encruzilhada: decidir se temos um quarto filho ou se paramos por aqui, deixando que nossa Chiarinha curta para sempre sua condição de caçulinha. A dúvida é cruel, a decisão é difícil.

Por um lado, a idéia de uma nova gravidez, de um novo parto, de um novo recém-nascido para cuidar, embalar, amamentar, me apaixona demais. Imaginar mais um filhote, ou uma filhota, para brincar com as pimentas, bagunçar no quintal, tagarelar o dia todo, dançar de bracinhos abertos pela sala, apertar e beijar bastante, me faz querer engravidar novamente hoje, já. Por outro lado, a questão financeira pesa. Não tem como dizer que não. E nem penso em questões do dia a dia, porque acredito na máxima dos nossos avós, de que 'onde comem três, comem quatro!'. O mesmo para roupas, brinquedos, espaço em casa. Tudo isso, de um jeito ou de outro, a gente ajeita, e a dificuldade fica pequenininha diante da alegria de receber mais uma criaturinha para colorir a nossa vida em família.

Agora, o que pesa mesmo é educação. Porque com escola não tem jeito, não dá pra fazer mais ou menos, pelo menos não dentro do que eu acredito que é importante. E boas escolas, hoje em dia, na realidade brasileira, custam caro. As meninas estudam em uma escola super diferenciada, com uma proposta bacana, e para mantê-las lá, em um espaço que oferece o respeito, a formação e o ambiente legal que eu desejo para a vida escolar delas, pagamos o preço, que não é barato, mas para nós vale a pena. Mas quando ao final de cada mês confiro o valor que pagamos de mensalidade, penso em como seria dobrar esse valor, colocando mais dois filhotes na escola. Putz, não seria fácil.

Aqui, ainda não sabemos mesmo como vamos seguir adiante. Não devemos demorar muito para decidir, porque se for para engravidar novamente, quero fazê-lo logo, enquanto Chiara ainda é pequena, para que o irmão ou irmã cresça bem próximo dela, dividindo tudo e brincando muito junto, como foi com as mais velhas. Mas puxa... como é difícil saber para que lado está pesando essa balança!!

E vocês? Pretendem aumentar a família ou já 'fecharam a fábrica'?? Foi difícil tomar a decisão?

Imagem: http://weheartit.com

Amar só não basta

por: Kalu


Quem não viveu uma louca paixão desmedida que nos fez acreditar que sexo e amor bastam para sermos felizes?

Com o tempo a gente aprende que nenhuma relação vive só de amor e amar é algo muito mais complexo que exige mais ação, aceitação que esta visão adolescente da paixonite. Não podemos comparar nossas ações, pensamentos, sentimentos com 15 e 30 anos.

Com maternidade é a mesma coisa: não basta só amar e a medida que vivemos aprendemos com a possibilidade de fazer diferente. Amor é fundamental, mas antes de tudo, para mim, a maternidade é algo que nos faz querer o melhor, lapidar nosso barro interior, futucar as feridas e renascer dentro de uma nova consciência.

Tenho uma visão da responsabilidade do maternar: acima de tudo estamos deixando um grande legado para este mundo e esboçando a obra de arte das futuras gerações. Ouço muita gente dizer: eu nasci de cesárea, não fui amamentada, apanhei, comi porcaria, assisti Xuxa e sobrevivi.

Sim, eu também nasci de cesárea, não fui amamentada, apanhei, comi porcaria, assisti Xuxa, aprendi a perdoar minha mãe por suas escolhas, reconheci seu amor nos acertos e erros. Mas minha responsabilidade é fazer diferente e melhor naquilo que hoje sinto na carne e na alma não ser o correto e buscar meus erros e acertos assim como minha manifestação de amor.

Uma das grandes magias da maternidade é que a gente cresce e amadurece todos os dias. Existem os conceitos, os traumas, o peso cultural, o instinto. E em cada momento da maternidade as balanças se desequilibram. Muitas são enganadas por seus médicos na primeira cesárea, buscam caminhos para um parto normal. Sucumbem diante da dor da amamentação e numa segunda oportunidade persistem e vencem seus limites.

Parir, amamentar, não-bater, ficar com as crias, dormir com as crias são ações que não fazem ninguém melhor ou pior que outrem. Cada uma de nós tem sua própria história de potencialidades e dificuldades que nos tornam únicas e incomparáveis. E em cada fase da nossa vida, (como mulheres, mães, seres humanos, almas em evolução e aprendizado) temos um nível de consciência. Aprendemos e nos espelhamos em nossos antepassados, buscando outros caminhos diante das possibilidades sociais, culturais e individuais.

Minha avó teve 3 cesáreas, não amamentou nenhum dos filhos, voltou a trabalhar quando os mesmos tinham 4 meses e contratou uma babá para deles cuidar. Isso era a década de 60, em que as mulheres começaram a conquistar o mercado de trabalho, lutar por seus direitos. Minha avó fumava em locais públicos, casou com 28 anos e transgrediu a moral e ética da sua época. Foi uma mulher moderna que apanhava calada do marido alcoólatra. Ela fez diferente de sua mãe que não pode trabalhar nem estudar, pariu os filhos em casa e perdeu um casal de gêmeos que nasceram prematuros e ficou viúva com 3 filhos pequenos que vendiam doce na estação de trem.

Na sua dor, minha avó queria trabalhar para que seus filhos pudessem ser crianças, ter comida e conforto, algo que ela não teve. Minha mãe engravidou com 18 anos, não cursou enfermagem na USP para cuidar exclusivamente das filhas. Para ela essa era uma lacuna importante que queria e fez diferente. Foi para a universidade quando eu e minha irmã tínhamos terminado a nossa. Buscou ocupações que ganhava um dinheirinho e ficava perto das filhas. Não me amamentou até 6 meses porque engravidou e o médico indicou leite artificial para que ela não ficasse fraca. Não conseguiu ou quis parto normal porque para ela não era importante, mas amamentou minha irmã até 2 anos, ficou em casa cuidando das crias

Eu fiz escolhas diferentes que couberam para meu nível de consciência: já me tratava com homeopatia, reiki quando decidi por um parto domiciliar, mas ainda assim, me submeti a um pré-natal convencional com médico de plano de saúde. Trabalho em casa desde que meu filho nasceu, tenho uma babá que fica com ele parte do dia enquanto trabalho, mas que me permite brincar vez ou outra ou dispensá-la em um dia tranquilo. Eu escolhi não bater, gritar, ameaçar porque estas ações me deixaram marcas profundas que me curo ao agir diferente. Claro que cometo meus erros e tropeços, mas com a certeza de que constantemente busco sair da zona de conforto e construir dentro das minhas possibilidades e limitações a maternagem que me cabe, buscando sempre aprender, expandir e crescer. Em cada etapa evoluímos. Com cada filhos aprendemos. E não nos cabe culpa por não ter feito isso ou aquilo. É como exigir de uma menina de 15 anos a maturidade de alguém que já passou dos 30.

As areias do tempo nos trazem as rugas e a serenidade da maturidade. Mas, em todas as fases existe o amor. Tenho certeza que minha avó, mãe e eu amamos nossos filhos e fizemos nossas escolhas baseadas no amor e na possibilidade social, espiritual e de consciência de cada momento. O que não é devido é justificar nossos erros e limitações nas escolhas alheias, sejam elas de nossos antepassados ou de nosso círculo social. E que nunca nos esqueçamos de nossa responsabilidade e compromisso de buscar a nossa evolução e a semente dela que plantamos em nossos filhos.

Mulheres (im)perfeitas

por: Kathy

Minhas queridas mamíferas, andei vendo aí pelos comentários vocês admiradas quando nós aqui assumimos nossos erros, nossas dificuldades como mães, como companheiras, como mulheres...

Acreditem, todo mundo de vez em quando perde um pouco a paciência, o rebolado, tem vontade de sumir, de gritar, de se trancar no banheiro e chorar abraçando os joelhos. Todo mundo um dia já se arrependeu de alguma coisa que fez, ou pelo menos já se arrependeu por não ter feito algo que deveria.

Todo mundo já soltou um palavrão bem alto, e só depois percebeu que a criançada estava por perto ouvindo. Quem nunca deu risada alto na hora que não podia, ou já chorou sem controle na frente de quem não queria? Quem nunca inventou uma mentirinha ou uma mentirona, fingiu que não viu, pagou mico, deu fora, passou vergonha, errou mesmo...?

Não existe no mundo quem não escreva errado de vez em quando, ou erre na conta do troco, esqueça de comprar a mistura pro jantar, o pó de café, o papel higiênico. Não há quem já não tenha esquecido um aniversário (eu sou campeã!), um telefone, quem nunca tenha se atrasado para um compromisso ou perdido a hora de manhã cedo. Quantas vezes eu mesma já não me confundi nos dias aqui e esqueci de postar!? Várias!

Não há quem não tenha uma espinha, uma estria, uma cicatriz, uma ruguinha, um pêlo encravado. Quem não acorde com remela no olho, o cabelo meio torto e um mau humor sem nenhum motivo específico. Meia furada, relógio quebrado, brinco faltando par...

Não é de se espantar, portanto, que nós erramos sim como mães, e que temos nossos momentos de não saber o que fazer, de ter que pedir ajuda, parar pra repensar, reorganizar, rever. Normal, aceitável, esperado, mais do que desejável! Erros e acertos fazem parte da vida e, portanto, fazem parte da maternidade e da paternidade.

Ninguém tem vida perfeita, família perfeita, vida perfeita, marido perfeito, filhos perfeitos. Existe gente perfeita no mundo? Todo mundo tem um problema, uma dificuldade, uma pendência, uma dúvida, um medo, uma doença, um trauma, uma tragédia, um quiprocó qualquer, e quem não tem nada disso é que é anormal.

Não existe no mundo pessoa que saiba sempre exatamente como agir, o que fazer, pra onde ir, quem esteja sempre certo, em seu altar de sabedoria e de plenitude. Não existe, não existe. E quem acha que está sempre certo está cometendo um erro imenso, imenso!

A gente aqui tenta dividir nossos acertos com vocês porque é uma forma legal de falarmos sobre os caminhos que nós já trilhamos e que deram certo, pra facilitar a jornada de outras mães, mesmo. Mas quem disse que a gente não dá umas mancadas de vez em quando? Tantas e tantas vezes nós aqui já falamos das nossas. Tantas vezes já assumimos aqui nossos problemas, nossas tristezas, nossas quedas, nossas dúvidas.

Nós três aqui, e sei que nesse ponto posso falar com tranquilidade pela Kalu e pela Rê, somos pessoas completamente normais, mulheres normais, como vocês. Sabemos mais de algumas coisas, menos de outras, temos dificuldades e facilidades, tudinho igualzinho a vocês, fiquem tranquilas! Aqui a perfeição passa bem longe. Não nascemos sabendo ser mamíferas. Claro que algumas coisas são instintivas, mas todo dia aprendemos uma coisa nova, ainda bem! Que continue sempre assim! Estamos aqui nesse mundo pra isso, podem ter certeza!

Imagem: http://lh5.google.com/image/xcorex2/Rej3YFTc38I/AAAAAAAAABc/2hPYCMDgSpI/Peanuts.1954_120.jpg

Tal Mãe, Tal Filha

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por: Tata

Eu fui uma criança tímida. Muito tímida, na verdade. Daquelas que ficava num canto brincando sozinha nas festas, que preferia enfiar a cara nos livros do que correr e jogar no meio da turma. Fui uma criança reservada, muito sensível, e muito criativa.

Hoje, já adulta, mãe, vejo na Ana Luz, minha 'pimenta-primogênita', uma criança semelhante em muitas coisas àquela que fui, anos e anos atrás. Ela é igualmente tímida, não se expõe, leva um bom tempo para se acostumar com gente nova. Sensível ao extremo, quando se sente agredida, ou magoada, não se defende, chora. Magoa-se com uma facilidade incrível. Não é uma criança exageradamente quieta, retraída. Entre nós, é divertida e falante, brincalhona, palhaça. Mas se mostra para nós, ou para outros que a conhecem bem, não para o mundo do lado de fora. Eu, quando criança, era igual.

Hoje me vejo em uma situação delicada, curiosa, e docemente bela. Vejo-me com a possibilidade de acolher, em minha filha, a menina que fui. Acolher minhas inseguranças nas inseguranças dela, acarinhar seus medos e suas deliciosas fantasias como se acalentasse as minhas próprias, abrir os braços para sua sensiblidade tão intensa, como se abrisse os braços para mim mesma, numa reinvenção do tempo e do espaço.

Tem sido um aprendizado fantástico, pra mim. Eu, que durante muitos anos lutei contra minhas inseguranças, contra rótulos limitadores que me tinham sido impostos ainda na infância, que trilhei um longo caminho de autoconhecimento e aceitação, que aprendi ao longo dos anos a lançar um olhar amoroso sobre a pessoa que sou, hoje posso dividir com minha menina todo esse intenso aprendizado.

De repente me pego observando suas brincadeiras, fantasias, seu sorriso inocente e por vezes levemente acanhado, seu olhar doce e curioso diante da vida. Penso em tudo o que gostaria de lhe mostrar, de lhe ajudar a compreender.

Gostaria que ela soubesse que não precisa ser outra pessoa, ser de outro jeito, que não precisa nem deve moldar-se, ajustar-se a nada. Eu, menina, tantas vezes achei que minha timidez era um defeito, que o jeito certo de ser era ser atirada, expansiva, comunicativa e sociável, tudo o que eu não era. Gostaria que ela pudesse ver as coisas com outro olhar, sabendo que quando se trata de seres humanos, não há certo ou errado, tudo é tão relativo. E o importante é a gente se aceitar, se curtir, ter um olhar amoroso consigo, ser feliz com o que se é.

Quero poder dividir com ela aquilo que levei quase vinte anos para aprender: que cada um é como é, e o importante é que se possa contemplar com doçura e leveza tanto nossos defeitos quanto nossas qualidades. Porque mesmo que não pareça, todos os têm. Uns e outros.

Também gostaria que ela pudesse aceitar em si mesma a timidez, a sensibilidade extrema, sem se deixar aprisionar por elas. Porque acontece. A gente vai se escondendo por trás dos complexos, e por causa deles, deixa de fazer uma porção de coisas que gostaria, perde tempo, perde oportunidades. Aconteceu comigo, não gostaria que acontecesse com ela.

São coisas que espero poder dizer a ela, não somente com palavras, mas especialmente com atitudes, com o que sou e vivo todos os dias, e serve de exemplo pra ela. Ajudá-la a entender que não se pode esconder da vida, nem pedir licença ou desculpas pelo que se é.

Eu, que ainda menina tantas vezes me encolhi e escondi, pude aprender com o tempo, crescer, olhar-me, conhecer-me e aceitar-me. Hoje caminho mais leve, porque aprendi a olhar para meu lado de dentro e contemplar, ser feliz. Não foi um aprendizado fácil, não foi cor-de-rosa. Mas valeu a pena demais.

Hoje, a menina que fui abre os braços, estende as mãos e convida a brincar de roda a outra menina, essa que trouxe ao mundo. E lhe diz baixinho ao ouvido que a vida é assim mesmo, a gente aprende com o tempo, e às vezes é dureza, mas é delícia também.

Eu sei por experiência própria que um belo dia ela, que terá adormecido patinho feio, despertará um lindo cisne, orgulhoso e imponente.

E espero estar bem perto pra ver. E sentir meu coração ficar pequenininho e estouvado, de tanta alegria.

Imagem: arquivo pessoal (eu e minha pimenta-primogênita, Ana Luz)

Depois do Surto

por: Kalu

Há mais ou menos dois meses tive um grande surto. Depois de intermináveis dias com uma criança com febre, dor de garganta, em um domingo tranquilo, eu desabei. Nada aconteceu, apenas um tombo do Miguel e um choro que brotou de dentro de mim. Eu me perdi naquele momento, não conseguia controlar meu corpo no chão que chorava como um bebê abandonado por sua mãe. Eu estava no meu limite.

Desde que me descobri grávida, nasci como esposa também. E este parto me foi muito mais doloroso que parir meu menino. É difícil começar uma vida a três. A gente descobre tudo, no palco, sem tempo de ensaio. Um improviso cheio de erros e tropeços.

Neste surto eu me descobri humana. Dolorosamente limitada. Fui buscar ajuda de uma terapeuta para fazer o parto da esposa. Para isso tive que abrir mão do poder e responsabilidades da maternagem, dividindo-a com meu companheiro.

Ontem, enquanto preparava uma deliciosa pizza vegetariana com massa integral, que eu e Miguel fizemos a tarde, escuto risadas no quintal. Um barulho de um veloz carrinho seguido de outro. Dois meninos brincam sob a luz das estrelas. Um de mais de cinqüenta e outro de três. Correndo felizes pelo jardim. Eu ouvindo um delicioso jazz, arrumando a mesa com calma e carinho.

Pouco antes da comida estar pronta, chamei os dois para um banho, que foi comemorado:

- Oba, quem vai chegar primeiro?

E lá se foram os dois escada acima.

O banho é aquela diversão que acompanho do lado de baixo, com o coração feliz. Não pude deixar de lembrar do meu surto, onde o cansaço dominou minha alma e me tirou de mim. O choro desesperado, jogada no chão. A conversa dolorida de perceber que daquele jeito não dava mais. Eu não era a super heroína que buscava ser, sempre tentando ser plena e zen em cada parte da minha vida.

Aquela que pariu rápido, que amamenta sem dor e que trabalha, cuida do filho, medita, cuida do corpo, estuda. Era coisa demais, cobrança demais. O surto me fez humana. Me fez olhar para mim mesma e saber que as vezes a gente se enche e tem o direito de se fartar dos choros que nunca terminam, das birras sem fim. E mais, não há nada de errado em pedir ajuda. É humano e belo permitir-se ser ajudada pelo companheiro que está ao nosso lado.

E atrás da voz calma e doce, uma panela pronta para explodir. A culpa não é do menino, nem da mãe, nem do pai. O surto é como aquele terremoto que mobiliza todas as partes: o menino que percebe a mãe humana que tem; o pai que acorda para assumir seu papel e a mãe que se desinfla dividindo seu poder e responsabilidades.

O banho acaba e espero que aquela voz grossa me chame. E nada. Ele pega o pijama, enxuga o menino e lembra-se de passar a pomadinha na frieira. Descem os dois, felizes, limpos e lindos jantar. Me lembro das vezes que não jantei, que um banho rápido tomei pela minha incapacidade de pedir ajuda.

Enquanto esperava, ouvindo a trilha sonora de um banho feliz, sentei em frente a janela para ver as estrelas. E agradeci por aprender com esta experiência humana que me ensina, todos os dias, sobre a transitoriedade das coisas e o amor fundamental para todas as horas. E a vida, que é intensa como a carne e deliciosa como a pele, nunca deixando de pulsar com o sangue que corre e movimenta tudo.

O menino passou por mais uma crise de garganta, mas sem ser derrubado. Venceu-a, talvez agora porque estivesse forte suficientemente da energia emanada pelo masculino e não mais precise gritar em silêncio por esta ausência.

Foto: Arquivo pessoal

Sobre Mães e Filhas

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por: Catherine Crema, mamífera convidada

Desde que me conheço por gente, muito antes de ficar grávida, desejei ter uma menina. Na verdade queria mais que uma, mas achei melhor pensar em uma por vez.

Assim que fiquei grávida, além do parto, não conseguia pensar em outra coisa, além do sexo do bebê! Pedia em todas as minhas orações que aquela semente fosse uma menininha, perfeita, saudável, mas uma menininha...

Exceto minha mãe e minha sogra, o resto do mundo achava que era um menino. Todas as tabelas, todas as brincadeiras, todas as pessoas que me paravam a rua falavam que eu esperava um menino. Descobrimos com 25 semanas, no terceiro e último ultrassom, quando ela resolveu mostrar quem era! Mas mesmo assim, até o dia anterior ao nascimento dela, fui parada no shopping por uma senhora dizendo que o “meninão” logo estaria por aqui!

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Pode parecer um capricho bobo, mas não é! Nem capricho, nem bobo! E eu percebi assim que ela saiu de dentro de mim. Descobri o porquê dessa “obsessão” pelo feminino.

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As melhores lembranças da minha infância foram ao lado das minhas irmãs, tias e primas. Apesar de ter uns 15 tios e “trocentos” primos, nada se compara ao que vivi ao lado dessas mulheres.

Existe uma ligação muito forte entre nós, apesar da distância, dos rumos que nossas vidas tomaram, os laços continuam fortes entre nós.

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Isso foi decisivo quando decidi pelo parto domiciliar, e quando optei por partilhar esse momento com minha mãe, irmãs e sogra. Além da parteira. O único homem era o meu amado companheiro, que participou ativamente do parto mas de uma forma silenciosa e cúmplice, de um jeito que só ele sabe fazer e me fazer sentir.

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O parto foi um momento maravilhoso. Contar com a presença da minha mãe, irmã, sogra e parteira! Todas mulheres, todas importantes na minha vida e que acreditavam naquele processo.

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E assim que minha filha nasceu, senti uma energia muito forte percorrendo todo meu corpo. Além do alívio, da emoção de ter trazido minha filha ao mundo, de ter feito uma longa jornada com ela e ser coroada recebendo aquele ser maravilhoso e puro nos meus braços. Muito além de saber que eu fiz minha filha nascer, e que ela me proporcionou isso.

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Naquele momento senti uma energia diferente de tudo que eu já tinha sentido. Parecia que eu fazia parte de algo muito maior, eu sentia como se me juntasse às minhas ancestrais, às mulheres que fizeram parte das histórias que ouvi, que pariam em suas casas, o “sagrado feminino” que me falaram. Eu precisava dessa força naquele momento. Precisava sentir que elas estavam ali comigo. E a presença das mulheres que escolhi me proporcionaram isso.

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Talvez a ciência explique como algum processo hormonal, mas não tem hormônios sintéticos que consigam reproduzir a comunhão espiritual que é dar à luz a um filho! E eu quis dividir esse momento com as pessoas que mais amo nesse mundo. Nada mais justo que minha filha fosse recebida pelas pessoas que mais esperaram por ela.

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E hoje, ela já está grandinha, não é mais um bebê, todas as noites temos nosso ritual que remete às mais doces lembranças que posso trazer da sua chegada: nosso banho. O banho é um dos momentos mais importantes do meu dia, e acredito que do dia dela também. É o “nosso momento”, a hora que nos reconectamos; eu encho a bacia com água, ela brinca enquanto eu tomo meu banho, então nós brincamos e eu saio, ela normalmente fica mais um pouquinho na água, mas recentemente ela começou a me banhar, como eu faço com ela, enchendo os potinhos e banhando seu corpo.

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E quando ela começou a fazer isso, eu comecei a lembrar de coisas do parto que ainda não tinha consciência: no momento que a bolsa das águas se rompeu eu desejei um dia poder partilhar desse momento com a minha filha; quando ela nascia, minha mãe segurou forte a minha mão e me dizia baixinho palavras de incentivo e força e eu desejei isso pra mim e pra ela!

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Que um dia, se assim minha filha escolher, ela possa me aceitar na sua hora, e que eu possa segurar sua mão e me unir à ela e à sua cria, da mesma forma que minha mãe se uniu a nós duas.

Imagem: www.weheartit.com

Escola de Rock

por: Kathy

Meu filho é do rock. Uma afirmação que orgulharia muito algumas mães e talvez assustasse outras. Nunca forcei nada, todas as bandas e as músicas que ele afirma gostar e que curte com vontade são as músicas que estou acostumada a ouvir aqui em casa desde sempre e as que eu mesma gosto bastante.

Ele ama guitarras, vibra quando ouve um riff conhecido, toca air guitar em tudo que encontra e ama uma bateria. Gosta de Kiss, de Black Sabbath, Guns´n Roses e arrisca algumas músicas do Iron Maiden (esse por culpa do meu namorado). Recentemente passou a gostar também de Poison e de Bon Jovi. É um farofeiro de primeira, mesmo. Gosta de ver as roupas exageradas e os cabelos oitentistas e canta do seu jeito o que consegue acompanhar.

No começo ficava na dúvida se esse tipo de música era legal pra ele, mas depois passei a relaxar, acho que nada mais comum do que ele gostar e aprender a curtir o que ouve em casa, acho que é um jeito da gente se aproximar também.

Claro que um dia ele vai começar a ter gostos próprios, procurar as bandas com as quais tem mais afinidade. Tranquilo, assim como pra mim “música da mamãe” era Roberto Carlos, Samuel vai lembrar de “Sweet Child of Mine” ou, vejam que irônico “Your mama don´t dance” são as "músicas da mamãe"... :)

Já vieram me falar muitas coisas sobre essa paixão do Sam pelo rock, já disseram que a música é agitada demais, que pode provocaragressividade, deixá-lo muito ativo, mas eu nunca percebi nada de negativo nisso, pelo contrário, ele se diverte, eu me divirto, e passamos cada vez mais tempo juntos brincando ao som de boa música.

Já que escolhi esse título, deixo a dica do filme também: uma delícia assistir escola de rock com os pequenos. Jack Black é muito engraçado, as crianças tocam de verdade e muito bem e as referências musicais do filme são de primeira. Recomendo!

Seus pequenos já manifestam bom (ou mau) gosto musical? :o)

Imagem: http://cinemacomrapadura.com.br/filmes/imgs/escola_de_rock_2003_poster.jpg

20 Anos da Cia Trucks

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por: Tata

Hoje, aqui em casa, foi dia de levar as meninas ao teatro. E o programa foi tão bacana que resolvi passar por aqui para dar a dica, para as mamíferas paulistanas ou das redondezas. É a mostra comemorativa dos 20 anos da Cia. Truks, uma companhia de teatro de animação super bacana, com um trabalho lindo, delicado, cuidadoso, muito bem realizado.

As peças da Trucks são sensíveis, doces, de uma poesia e uma plasticidade que encantam não só as crianças, mas também os adultos. Divertem, emocionam, fazem pensar. Na semana passada, já havíamos levado as pimentas para assistir "Gigante" - aliás com a deliciosa companhia da Kathy e do Samuquinha - , uma linda história sobre um gigante que se alimentava dos sonhos dos outros. Hoje, fomos conferir "Os Vizinhos", bela fábula sobre conviver com o outro, compartilhar, sobre solidariedade. Dois programas deliciosos!!

A mostra conta com 14 espetáculos, 8 deles infantis, e 6 adultos. É, é isso mesmo, tem pra gente grande também!! Esses ainda não conferimos, porque a logística para deixar três crianças e ir ao teatro somente papai e mamãe ainda é meio complicada. Mas pelo que vimos nos espetáculos infantis, os adultos devem ser igualmente saborosos, incríveis e cheios de poesia.

E pra ficar ainda melhor, o programa é de graça! A mostra está em cartaz na Funarte, no centro, um lugar super acessível. Os espetáculos infantis começam sempre às 16hs, e os ingressos são distribuídos uma hora antes, quando a bilheteria abre. Mas não se preocupe, as filas não são desanimadoras - pelo menos das duas vezes que estivemos lá, não eram -, e é bem tranquilo conseguir entrada.

Para quem se interessar, a programação detalhada pode ser conferida aqui. A mostra fica na Funarte até dia 25 de abril. Então, quem quiser aproveitar ainda tem pela frente três finais de semana para conferir os espetáculos infantis "Zoo-ilógico", "E Se as Histórias Fossem Diferentes?" e "O Senhor dos Sonhos", além dos adultos "Popol Vuh", "Big Bang" e "Isto Não é um Cachimbo".

Eu, que já conhecia a Truks há anos, e já tinha conferido o trabalho deles antes mesmo de ser mãe, estou adorando poder dividir essa paixão com as minhas pimentas, que riem, se emocionam e curtem cada minutinho dos espetáculos. Até mesmo a Chiara, que obviamente não entende muita coisa, fica fascinada com as luzes, cores, ruídos e movimentos, e curte os espetáculos de olhinhos fixos no palco.

Como atriz, sou bastante crítica com as produções teatrais voltadas para o público infantil, porque acho que tem muita coisa mal feita, textos e produções de péssima qualidade. Mas vivo sempre fuçando para encontrar coisas diferentes, propostas inovadoras, cultura de qualidade para os pequeninos, e quando encontro, tenho mais é que vir dividir com vocês, não é mesmo?

Fica a dica, então. E se alguém for conferir, quem sabe a gente não se encontra por lá?


Imagem: www.culturakids.com.br

Super Poderes

por: Kalu

Lembro-me de minha tia a ferver a água mineral do banho de seu filho. O álcool sempre por perto para esterilizar as mãos da criança e de quem se aproximasse dela. Todos os brinquedos eram limpos constantemente, fervidos, assim como qualquer coisa e pessoa que tivesse contato com o menino. Aquilo me parecia tão pouco natural, pouco biológico e demasiadamente cansativo.


Mas posso entender que aquele corpo pequenino, frágil, dependente, parece que não vai sobreviver. Ele pode morrer sem respirar com um pano no rosto? E se regurgitar e não conseguir expelir? E se o leite não for suficiente?

Quando meu filho nasceu fiz estas perguntas ao pediatra que me disse: você já viu que as crianças indígenas ficam no chão enquanto suas mães trabalham? Levam na boca tocos, pedras? Bebês são mais fortes do que podemos imaginar e não são raras as ocasiões que são os únicos sobreviventes de catástrofes e acidentes.

Quando nasce o bebê, nasce com ele uma mãe e com ela uma inimiga companheira da maternidade: a culpa. Por mais, que tentemos estar em todos os lugares, com todos os sentidos aguçados, parece que os perigos do mundo são maiores que nossa capacidade de preservarmos nossos pequenos.

Por mais cuidadosas que sejamos, um livro cai na cabeça, o bebê cai do trocador no menor descuido, uma dedo é esmagado no armário e, pior, causado por nós mesmas. E aquela sensação de impotência que nos invade na primeira enfermidade? Buscamos respostas, jogamos a culpa para dentro do peito que nos faz chorar solitárias e igualmente frágeis diante das ocasiões incontroláveis da vida.

Aos poucos podemos entender que não há andar sem queda, correr sem tropeço, aprendizado sem dor. O corpo se regenera rápido, as casquinhas surgem nos ferimentos em poucas horas e a memória do ocorrido se vai em segundos. O que fica para os pequenos é a maneira como lidamos com estas situações. O gelo, o aconchego, o remedinho na ferida acompanhado de carinhos e palavras positivas é o que vai formar um indivíduo confiante, forte e seguro.

Em cada tombo, doença e dificuldades que nossos filhos passam, nos fortalecemos também. Aprendemos a ser mais tranqüilas solucionando as dores físicas e emocionais com equilíbrio e calma, mandando a culpa para bem longe. Gosto de uma frase de Rubem Alves: ostra feliz não faz pérola. É nas dificuldades que eles e nós, temos a verdadeira oportunidade de tecer a jóia rara que nos colocará em uma nova etapa de nós mesmos.

De todos os super poderes de uma mãe, como ouvido supersônico, visão de raio laser, sentido de premonição, a capacidade de ser humanas, demasiadamente humanas é o maior poder que o recebemos com a chegada dos nossos filhotes.

E nosso companheiro, o pai, geralmente é aquele que sente satisfação em colocar nossos filhos diante dos desafios da vida e enfrentá-los com coragem e ousadia.


Foto: Miguel com marcas de um grande tombo

Tá cru ou tá cozido?

por: Kathy

Daí que eu, toda feliz, resolvi que nesse ano eu e o Samuel íamos pintar cascas de ovos cozidos na Páscoa, assim como eu fazia na escola quando era pequena. Cozinhei os ovinhos toda feliz e saltitante, deixei esfriar e coloquei na geladeira num potinho separado para fazermos a decoração de Páscoa a noite. Perfeito!

Claro que Samuelzinho amou a idéia de pintar os ovos, ficou todo animado pra fazer a brincadeira. Eis que, quando chego em casa, a moça que trabalha comigo tinha muito gentilmente feito uma arrumação na geladeira e... tchanam! Misturou meus ovos cozidos com os crus e eu não sabia mais quais estavam crus e quais estavam cozidos, rs...

Foi muito engraçada a cena. Eu e Samuel olhando os ovos, chacoalhando, tentando ver se tinha alguma diferença nas cores, no peso, mas nada. Todos iguaizinhos! Ele dava cada gargalhada, e eu perdida pensando em como resolver a situação sem quebrar os ovos todos.

Dividi a dúvida com as amigas aqui do trabalho e todo mundo deu risada e começaram a investigar a questão. No fim foi minha amiga Kátia, super mamãe da Sofia quem desvendou o mistério.

Contamos com a ajuda do oráculo Google e o que aprendemos me senti na obrigação de vir dividir aqui com vocês. O segredo para descobrir é girar os ovos! Os ovos crus, por serem líquidos por dentro, giram mais devagar e "os cozidos giram rápido, por serem uma massa compacta, rs... Inércia sendo comprovada ali, na mesa da minha cozinha! rs...

"A Primeira Lei de Newton, o Princípio da Inércia, pode ajudar a identificar se um ovo está cozido. Um método é girar o ovo. Um ovo cru provavelmente irá cambalear. O interior de um ovo cru não está fortemente ligado à casca externa, e a inércia faz com que seu interior resista à rotação. O ovo cozido é sólido, portanto o ovo inteiro gira na mesma velocidade que a casca."

Claro que o Samuel ainda não entendeu muita coisa das teorias do tio Newton, mas na prática ele entendeu direitinho que os ovos cozidos giravam mais rápido e se divertiu muito com aquela experiência improvisada e a bagunça na cozinha. O mais engraçado foi ele no final: "Mamãe, não vamos pintar não, quero comer!" E saiu descascando seu ovinho cozido. :)

Imagem: http://www.acessa.com/projetos/Sabor/arquivo/dicas/2004/03/23-presente/facaevenda8.jpg