por: Kalu
Somos escravos de números, padronizações, ceps, CPFs, contas bancárias com data de vencimento, reuniões que não respeitam os ritmos da natureza. Aliás, o ser humano tentou buscar padrões dentro do imprevisível, criar protocolos para o improtocolável.
Para parir naturalmente a mulher precisa estar com 37 a 40 e tantas semanas (de acordo com o protocolo de cada equipe, cada país, estado, profissional). Não se pode esperar naturalmente pelo parto por mais de X horas de bolsa rota. O bebê deve ter até tantos quilos. É considerado anormal uma mulher que não evolui um centímetro por hora. Fatores emocionais, igualmente incontroláveis são deixados de lado em qualquer uma das situações e por todos os tecnocratas.
O coração do bebê deve estar entre tantos e tantos batimentos por minuto, a pressão no máximo em tanto por tanto. E qualquer anormalidade nos números uma avalanche de procedimentos está a disposição para fazer com que a natureza imprevisível de cada um caiba nos conceitos e formas humanas.
Bebês devem receber alimentos com 6 meses, mesmo que não sentem ou mostrem interesse, querendo ou não somos obrigados a colocar nossos filhos na escola aos 7 anos. Eles hoje são alfabetizados com 6, devem falar perfeitamente com 4, andar com 1, sentar sei lá com quanto tempo, engatinhar até no máximo sei lá quantos meses. Há autores que falam dos saltos de crescimento e as crises, a adolescência foi antecipada para os 3 anos. No meio de tantos números, curvas de crescimento, horas de mamadas, do desmame eu me sinto feliz por não ser matemática da existência e me parecer muito com os tomentos climáticos.
Meu trabalho de parto foi totalmente atípico (ou típico para minha natureza anímica?). Fico pensando se de manhã, quando as enfermeiras estiveram na minha casa, tivessem feito um exame de toque e constatassem início de trabalho de parto? Eu não teria dormido. Eu não teria ficado sozinha com receio das coisas caminharem mais rápido e talvez, me perdesse nesta ansiedade. E se eu não estivesse dentro das normalidades e constantemente monitorada, se saísse dos padrões? Será que teria um parto tão rápido e instintivo? Se o batimento do meu filho desse alteração (como acontece com 70% dos diagnósticos de alteração dos batimentos fetais), será que teria parido lindamente em minha casa?
Não estou rejeitando a tecnologia, mas pedindo que pensemos realmente no que é necessário para que possamos usar os recursos com cautela, sem acreditar que números são deuses. Números nada significam, nem na balança, nem na dilatação. Eles devem estar dentro de contextos e avaliados por profissionais que realmente saibam considerar a falha dos números humanos.
Claro que muitas vezes os números indicam que está na hora de valer-se da tecnologia e esse momento será tão mais flexível quanto as ideologias daqueles que escolhemos para nos prestar assistência, sejam obstetras, enfermeiras, pediatras, consultores de empresa.
E que dentro da nossa certeza possamos avaliar e entregar-nos mais a força do imprevisível do que a certeza dos números. Que a gente possa viver mais no corpo, no coração e menos na cabeça e nas fórmulas a vida. Afinal engravidei totalmente fora do meu período fértil, mesmo tendo uma menstruação ciclicamente lunar.
Que possamos olhar nossos filhos além de centímetros e pesos, vendo com os olhos invisíveis do coração a nossa pequeneza diante da vida.
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
6 comentários:
Eu acho que esses números (referente a medicina) são para preencher vazios na relação médico vs paciente. Se o médico conhece pouco o paciente é impossível saber se tal coisa está normal ou não para aquela pessoa; em 40 minutos é impossível conhecer bem um paciente (na minha opinião). Para segurança do médico (e até do paciente) entra a padronização.
Parabéns pelo blog de vocês.
Beijos
"querendo ou não somos obrigados a colocar nossos filhos na escola aos 7 anos"
Bem, na verdade agora o Ensino Fundamental começa aos 6 anos de vida da criança... então nossa obrigação começa 1 ano antes. =/
.
Estou prestes a completar 37 semanas e os tais números vão começando a ficar mais ameaçadores... é...
Já deixamos de confiar no próprio corpo e na própria mente para deixar que teorias, cálculos e tecnologia pensem por nós. Também não sou contra, mas q costumamos exagerar, isso é bem verdade.
Cresci a base da medicina natural e aqui estou, ótima! :)
eu to num dilema enorme.. ta chegando a hora 38 semanas.. meu médico diz que não posso passar da 41 semana e que se nadaaconteceré p eu ir pro hospital assim mesmo..
mas pracomeçar, minha contatá diferente da dele.. tenho pelo menos dois dias a mais.. e não sei o quanto isso pode interfirir.. ou até quanto posso interferir no momento certo de acontecer
Olá Kalu
Adoro todas as autoras, mas você sempre toca no ponto certo pra mim!
Vou postar esse texto no meu blog (com os devidos créditos, pode ser?? Se houver algum problema, é só dizer...
ftangelarios.blogspot.com
beijos
Meninas,
Obrigada pelos comentários. Anninha, é verdade, agora é com 6 anos!
Cau, é isso mesmo, número deveriam ser referências e não algemas.
Karen - Como eu disse, os números teão maior ou menor peso dependendo de que os lê. Vc já pensou em buscar outras opinião?
Angela, pode publicar sim. Como eu sempre digo, palavras são como filhos criamos perto de nós mas elas pertecem ao mundo. E quando mais voarem, para mim, melhor.
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