por: Jane Adélia (Mamífera convidada)
Nunca vi mulher que tivesse engravidado sozinha. Um dia a gente se descobre grávida e começam então as diversas questões em torno da nova vida. Daí você tem que aprender uma montanha de novidades: ter cuidado com a barriga, alimentar-se direito, ingerir muito líquido, enfim, cuidar-se ainda além do que uma vida pede, porque agora você é no mínimo duas.
No relacionamento homem e mulher já não existe mais a possibilidade de ficarem sozinhos; pelo menos nos bons próximos meses. E então? Então a gente curte, curte ser mimada, curte sentir-se bem, sentir-se mal, não ter que se preocupar porque a barriga saliente aparece. Aliás, essa foi à parte que eu mais gostei, não ter que me preocupar com a barriga que empurra a roupa, pelo contrário: exibir a barriga embaixo da roupa.
Passamos a pensar no grande dia. O dia escolhido pelo próprio bebê para seu nascimento natural. O dia que nunca mais vai deixar de ser especial em nosso calendário. O dia no qual vamos passar o resto de nossas vidas comemorando por ele existir. E quando o casal está grávido, costuma fazer até aposta sobre qual dia o bebê vai escolher para nascer, pois tudo vira motivo para confraternizar.
Mas antes deste dia chegar são tantas as participações: A escolha do nome, das cores e decorações do quarto. E quem não tem quarto, reserva pelo menos um cantinho para colocar o bercinho cercado de muito carinho. Roupinhas, brinquedos, mimos, produtos de higiene para deixar ainda mais cheirosinho aquele que já tem o melhor dos melhores perfumes. O papai orgulhoso faz planos para o futuro! A mamãe organiza e convida todo o mundo para o chá de fraldas.
E como deixar o papai de fora ???
Ele, que até então era o protagonista da sua vida e que junto com você será elevado a papel de coadjuvante. Elevado sim, pois tem coisa mais gratificante do que se tornar pai e mãe?
Tem coisa melhor do que saber que você vai fazer parte para sempre da vida daquele que é o centro das suas atenções? Aquele serzinho que com um olhar vai muitas vezes te pedir arrego?
E como não participar???
E como não participar???
Tá na lei do direito ao acompanhante para a parturiente:
“Adota a presença de acompanhante de livre escolha da mulher no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.”
Gente, é o momento principal da história e se fosse uma narrativa poderia ser classificado como o clímax. Então, não dá para deixar de fora o marido, o pai, o companheiro, o parceiro ... dê a ele o nome que quiser, mas para mim, o pai não deveria nem ser classificado como acompanhante e sim como participante, ou será que tem alguém que irá provar que concebeu um filho(a) sozinha?
E quando chega o momento da mulher dar a luz ao ser que foi gerado, amado, esperado com tanto amor pelo casal, deveria sim ter uma lei que proibisse o pai de não participar. Mas, espera aí, não quero ser radical, porém levo a reflexão, tem como a mãe não estar presente na hora do parto? E os homens que me perdoem, então porque eles também não se preparam emocionalmente para transpor os medos e participarem ativamente?
Durante a gestação do Victor tive a felicidade de incluir o papai em todas as atividades. Foram cursos, roda do Bem Nascer, visitas a maternidades, decisões sobre todos os detalhes. Também não cansei de lembrar aos mais desavisados que além de um bebê e uma mamãe, estava nascendo um papai.
Foi bacana ver como o meu esposo curtiu cada momento conosco. Inclusive a escolha da nossa doula teve a participação dele. No dia do nascimento, Victor foi um felizardo que contou com a presença da mamãe e do papai, pois nós decidimos juntos abrir mão do plano de saúde, que pagávamos há anos com objetivo de cobertura do parto.
Hoje nos orgulhamos de ter parido juntos em uma maternidade do SUS, onde os nossos direitos foram respeitados. Acredito que chegará o dia no qual a lei de direito ao acompanhante será ignorada pela sociedade pelo simples fato dos homens fazerem questão de participar deste momento.
Por que não deixamos o pai participar naturalmente do parto que ele mesmo ajudou a existir? Por que não escolhemos apoio de alguém que possa participar com conhecimento na hora que o casal vai parir? Afinal, a família ainda é para mim a maior força do universo, capaz de quebrar paradigmas que nós mesmos criamos.
Sei que sou sonhadora! E quero é educar meu filho para promover mudanças sociais que estejam ligadas a valorização do ser humano, transformando-o cada vez mais em Ser Humano.
Imagem: Getty Images
6 comentários:
Jane, adorei, lindo texto
"Mas, espera aí, não quero ser radical, porém levo a reflexão, tem como a mãe não estar presente na hora do parto? E os homens que me perdoem, então porque eles também não se preparam emocionalmente para transpor os medos e participarem ativamente?"
Assino embaixo.
Beijo
Jane, mais uma vez encantou. O que assistimos por ai, é a mulher sendo 'levada/conduzida' em seu trabalho de parto. O que vc nos chama a reflexão deveria constar pra todos aqueles que agem como donos da situação. Ou seja, fazendo questão de ignorar o papel do pai no nascimento do seu filho. O da mãe nem se fala. Realmente, apontem aqueles que descobrirem se tem como a mãe não estar presente na hora do parto? Texto muito rico em emoção, nos convida a refletir sobre o envolvimento e preparação do pai numa jornada, onde a mulher 'carrega' a barriga, mas que ambos podem e devem dividir tudo que envolve a gestação, afinal foi feito a dois... Grande a abraço e que Deus continue abençoando sua família. As mudanças também começam por sonhos, sonhos que vão se concretizando até se tornarem realidade...
Jane....
LINDO o texto e muito inteligente também!!!
O direito ao acompanhante precisa ser mais reivindicado pelas mulheres que realmente QUEREM que esse momento além de único seja compartilhado com quem a proporcionou que ocorresse. Se não der para ser o papai que seja alguém que muito a ama e deseja bem.
Ser deixada lá em um quarto frio, em uma cama vazia, com pessoas que não tem nosso sangue ou algum vínculo, é muito DESUMANO.
Precisamos acreditar e lutar pelos nossos direitos. Isso se fortalece veemente quando encontramos mulheres como você que fazem voz aos nossos sentimentos, sabendo expressá-lo com maestria nas veredas de uma bela escrita.
Obrigada por abraçar a causa e nos fazer acreditar que devemos buscar incansavelmente o que já é nosso por direito.
Aline Felix – Mãe de Jujú
( Que teve acompanhante no pré, durante e pós parto pelo fato de ter dado a luz no SUS. Entretanto, se fosse na rede particular...)
Jane,
Parabéns pelo texto, pela bela família e pela pessoa encantadora que você é.
É isso mesmo, se vamos mudar o mundo pela forma de nascer, não tem como deixar os homens de fora.
Sempre conto que um dia falei pro meu marido: fique comigo na hora do parto, se você não se sentir bem, saia. Mas achei injusto! Afinal, eu não poderia sair, rsrsrs...
Brincadeiras à parte, o parto é um evento familiar. Quando é o primeiro filho, a família está se formando ali, o amor do casal frutificando. Nada melhor que os dois estejam juntos, trabalhando para que o bebê chegue em paz e seja muito bem acolhido.
Com carinho, Helena.
Parabéns pelo belo texto. Concordo plenamente com você que o papai tem o direito/dever de participar ativamente do parto. A mulher se prepara durante 9 meses para o parto e o papai também têm que se preparar para estar com sua esposa no momento mais sublime de suas vidas que é trazer o seu filho ao mundo. É um momento único, que com certeza estreita os laços familiares. É importante também as mamães não esquecerem de não deixar os papais de lado. É muito comum após o nascimento dos filhos a mãe querer proteger seus filhos, como as fêmeas protegem suas crias e colocar o papai em segundo plano, como se ele não soubesse ou não pudesse cuidar do recém nascido. Muitos pais acabam deixando para suas esposas cuidarem sozinhas porque se sentem excluídos. Já ouvi muito relato de pai que a única coisa que lhe sobrou durante a gravidez é dar a notícia que vai ser pai, já que não sente o desenvolvimento do bebê. Ouvi também pai falar que quando o bebê chora ele não levanta porque quem dá de mamar para o filho é a mãe e ele ficaria sem ter o que fazer. Cabe a nós mulheres mudarmos esta mentalidade. Seja inserindo os nossos maridos no papel de papai desde a concepção (no meu caso estou fazendo desde a fase dos treinos hehehe), seja na criação de nossos filhos. Não podemos esquecer que somos nós, mulheres, que criamos os FILHOS. Então não adianta reclamar dos homens se nós não mudamos os jeito de criarmos os nossos meninos. A maioria das mulheres reclamam que os maridos não ajudam em casa, mas continua criando os meninos sem ajudarem nos afazeres domésticos e inserindo as meninas desde cedo nas tarefas da casa. A mudança tem que partir de nós. Um abraço!!!
blog: www.odespertardeumanjo.blogspot.com
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