por: Kathy
Eu não tenho como mensurar a dor de perder um bebê. Eu sei, eu sei, esse assunto é pesado, denso, e dá arrepios ler essa frase: perder um bebê. Mas acho que podemos e devemos falar sobre esse tema aqui, principalmente se nossa abordagem puder de alguma forma ajudar alguém que esteja passando por esse tipo de experiência, seja na própria pele ou vivenciando a perda de alguém próximo e querido.
Nunca é confortável lidar com a morte. A gente se sente impotente e pequenininho diante dela. Lidar com a morte de um bebê que ainda nem nasceu ou que acaba de nascer causa um desconforto terrível porque significa ter de lidar com o vazio, mesmo. O vazio da barriga, o vazio do berço, o vazio das roupinhas compradas e não usadas, o vazio dos planos. Significa uma dor muito forte e solitária pois é preciso lidar com o fim de algo que talvez para os outros ainda não havia sequer começado, mas para quem carregava aquele ser na barriga já era uma realidade, uma vivência e convivência diária. Um amor já forte e incomparável.
O que dizer para uma mãe que passa por essa situação? É preciso dizer algo? Eu responderia que depende. O fundamental mesmo é respeitar o tempo de cada mãe. Demonstrar seu sentimento e colocar-se à disposição para que ela possa falar sobre o tema quando e se desejar, no momento em que desejar me parece das atitudes mais razoáveis. O luto é algo muito particular, e funciona diferente pra cada pessoa, afinal. O ideal para mim é dar tempo ao tempo e se mostrar disposto para apoiar no que for preciso.
Já vi muitas pessoas tentando consolar quem passa por um aborto dizendo coisas como "Você é nova, ainda pode ter muitos filhos". Acho que essa é a pior coisa que se pode falar numa situação dessas, pois na minha opinião desmerece a perda e dá a idéia de que aquele bebê é substituível, quando na verdade cada perda é única e traz uma dor única, que certamente a pessoa carregará com ela para sempre, como parte integrante de sua história de vida mesmo.
Enquanto pensava nesse post lembrei de uma mensagem escrita por uma enfermeira americana que passou por um aborto e que foi enviada há tempos na lista de discussões Materna, entitulada "Carta de uma mãe que perdeu seu bebê", cujo trecho dizia o seguinte: "Não diga: Você pode ter outro. Este bebê nunca foi descartável. Se tivesse a escolha entre perder esta criança ou furar meu olho com um garfo, eu teria dito: Onde está o garfo? Eu morreria por esta criança, assim como você morreria por seu filho. Uma mãe pode ter dez filhos, mas sempre sentirá falta daquele que se foi."
Essa carta foi publicada no ano passado no blog Materna Japão e poder ser acessada na íntegra aqui.
E o que fazer quando acontece com a gente? Nunca passei por essa experiência, não consigo sequer imaginar o tamanho da dor, da tristeza e da saudade. Sentir as contrações, vivenciar o trabalho de parto e o nascimento daquele bebê sem tê-lo depois nos braços pronto para começarem uma nova vida juntos é terrível, desesperador.
Mas, se é que posso me arriscar a dizer algo, eu diria: viva essa dor. Viva com toda sua intensidade o seu luto, para que o processo possa ter começo, meio e fim. As cicatrizes sempre ficam, visíveis ou invisíveis, e é bom que elas estejam ali, pois significa que de uma forma ou de outra superamos aquela etapa. E por superar não entendam, por favor, como esquecer, mas sim lembrar sem sentir uma dor dilacerante e impeditiva. Lembre-se também que você não está sozinha, e que muitas mães podem compartilhar com você seus aprendizados e desafios diante desse vazio.
(Texto em homenagem ao arrozinho, como eu carinhosamente o chamava, bebê de uma amiga querida, que virou anjinho nesse fim de semana de dia das mães deixando essa tia aqui meio sem palavras)
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
6 comentários:
é muito triste perder um bebê... Eu passei por isso recentemente, uma semana soube que estava gravida e na outra soube que não estava mais... bjs, Luciana
Vou deixar o link de um texto lindo que ganhei de uma amiga qd perdí meu neném.http://juwritesnow.blogspot.com/2008/04/o-aborto.html
mas vim aqui divulgar meu blog de fantasias que começou despretensiosamente e fez muito sucesso no carnaval e agora estamos fazendo festa junina:
www.mamaeuqueromama.blogspot.com
bjs!
Perder um bebê deve ser a perda mais cruel que existe...benditas estas mães que por desconhecidas razões doam mais estrelas ao nosso céu!
Eu nunca tinha lido um texto tão carinhoso, sensível e respeitoso sobre a perda de um bebê por alguém que não tivesse passado por essa experiência tão dolorosa, Kathy. Obrigada. Eu perdi uma filha em 2005 e foi realmente dilacerante... mas foi o "viver o luto" que me proporcionou em 2007 ter meu novo filhote, saudável e feliz e recomeçar! Esquecer realmente não esqueci, mas hj sou uma mãe que sinto aproveitar e agradecer muito mais as dores e delícias da maternidade por dar tanto valor a ela! BJS em todas as mamães! O tempo realmente é o melhor remédio...
Kathy, realmente seu texto é muito sesível, vc tem toda qdo diz que ouvimos palavras de consolo que não consolam. Pra mim só existiu um meio de superação viver a dor e continhuar caminhando em busca da maternidade. Mas esquecer esse ser que habitou em mim realmente não dá.
bjs,
Rosângela
Perder um bebê não é fácil. dói, revolta.
Perder dois então é inexplicável.
Aprendi a lidar com as perdas, aprendi a buscar soluções com a mesma sede que tinha de ser mãe e encontar a felicidade.
visitem a minha história:
http://viajandonamaternidade.blogspot.com/search/label/aborto
bjos
Carol
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