
por: Raquel Hönig (Mamífera convidada)
Durante a minha primeira gestação eu não me preocupei muito com a amamentação. Achava que para amamentar bastaria colocar no peito e pronto, que não haviam segredos. Lembro de um pequeno relato de uma mulher, onde ela contava que amamentou o seu ‘cordeirinho mamão’ até 5 anos.
Nesse meio tempo ela engravidou, teve outro filho, este até desmamou e o ‘cordeirinho mamão’ continuou mamando até os seus 5 anos. Lembro-me bem que quando eu li isto vi ali uma possibilidade, coisa que nunca havia pensado: amamentar grávida, amamentar dois filhos ao mesmo tempo e principalmente amamentar prolongadamente.
Quando o Elias nasceu eu vi que a amamentação não era assim tão sem segredos. Não tive grandes problemas, mas superei diversos pequenos obstáculos. Na consulta de pós parto, o GO falou de planejamento familiar, eu disse que queria ter outro filho dentro de 2 ou 3 anos, mas não queria ter que desmamar um para ter outro. Ainda com o meu recém-nascido nos braços ouvi que eu não precisaria desmamar, que poderia amamentar grávida e amamentar depois os dois filhos sem problema.
Não há risco de se amamentar grávida, a não ser que exista risco de parto prematuro, que daí sim o hormônio liberado na amamentação pode adiantar o parto, mas se houver esta restrição medica para amamentar também haverá para sexo e algumas outras atividades, já que o hormônio liberado é o mesmo e as contrações provocadas pelo orgasmo são até mais intensas do que as provocadas pela amamentação. Portanto, se não há restrição para o sexo não há porque restringir a amamentação.
Sabendo isto passei a ter o meu ideal, amamentar prolongadamente, esperando o desmame natural e espontâneo, ter outro filho próximo, amamentar grávida e depois ambos os filhos. Era o que eu acreditava ser o melhor, o que eu queria e o que eu desejava, dependendo apenas da vontade deles também.
Quando engravidei novamente o Elias estava com 2 anos e 3 meses, já não mamava muito, mas logo que engravidei passou a mamar mais, para depois novamente reduzir. Quando ele tinha dois anos e meio foi a primeira vez que pensei em desmame, não em desmamá-lo, mas no desmame como um processo longo que já havia começado
Foi tranqüilo amamentar grávida, não vou dizer que seja uma maravilha apesar de não ser de todo ruim. Os seios estão mais sensíveis, às vezes dói, a barriga começa a atrapalhar, estamos mais cansadas, temos mais sono, o humor muda, nossos hormônios mudam, o leite diminui. Apesar disso, eu sempre acreditei que amamentação era mais importante do que estes inconvenientes e continuei.
Não lembro em que ponto da gestação tive a nítida impressão de que meu leite havia secado, para depois de uns dias chegar o colostro. O Elias continuou mamando sem nunca falar ou reclamar de nada.
Quando a Sarah nasceu o Elias passou a mamar bem mais. Nos primeiros dias posso dizer até mesmo que ele mamou mais do que ela, até de madrugada ele voltou a mamar. No começo ele a via mamar e queria, ele não a via e queria da mesma forma. Junto com a Sarah veio a abundância, muito leite e nisto o meu pequeno rapaz de 3 anos engordou 1kg em cerca de 1 mês de volta à amamentação (quase) exclusiva.
Aos poucos ele foi reduzindo novamente as mamadas, voltou a mamar como mamava antes de eu engravidar e seguiu no seu ritmo de desmame, mamando atualmente uma ou duas vezes ao dia.
A Sarah se mostrou um bebê completamente diferente do que o Elias foi, com um ritmo de mamar diferente, o tempo que ficava no peito, a freqüência que me solicitava, tudo diferente. A gente sabe que um filho é diferente do outro, mas eu não imaginava que me surpreenderia tanto com estas diferenças.
Para ela parece que o mundo é mamar, não pode ver, ouvir, cheirar, pensar que logo já quer: mamar, mamar, mamar... Penso que quando for ela a mais velha mamando junto de um próximo irmão, será bem diferente de como foi com o Elias mais velho, já que a relação dela com o mamá é completamente diferente da dele.
Eles mamaram muitas vezes juntos, muitas vezes separado. Amamentar um filho em cada peito com eles se fazendo carinho é uma das coisas mais gostosas que há. Só que amamentar dois filhos não é só isto, tem horas que um quer mamar justamente o peito que o outro está, o peito às vezes vira alvo de disputa e às vezes de união. Tem horas que não há coisa melhor para os ciúmes do que ter dois seios.
Para mim, amamentar os meus dois filhos de idades diferentes é algo tão natural como gestar e parir. A amamentação começou e vai terminar na hora dela, o Elias desmamará espontaneamente e enquanto isto não acontece, eu sigo amamentando, mesmo tendo engravidado e amamentado outro bebê.
O mesmo vale para Sarah, que desmamará um dia ainda muito longe, mesmo com uma nova gestação e com mais um filho no peito, eu continuarei a amamenta-la até que seja o momento dela de parar.
Para mim é importante respeitar o ritmo da criança e como não há motivos para não se amamentar grávida, eu não conseguiria ter um filho em detrimento do outro, e eu me sentiria assim se desmamasse em uma nova gestação.
Imagem: arquivo pessoal
17 comentários:
bom, acho que nunca comentei aqui..mas acompanho há muitooo tempo o mamíferas...minha filha mamou no peito por 20 dias apenas..até hj me arrependo e vou fazer bem diferente com o próximo filho..eu tive infecção nos pontos da cesárea que foi uma "necessária"..por eu ter Super Obesidade Mórbida..pesava 120 Kgs e meço 1,50 (agora peso 79 Kgs). e pressão alta..ninguém insistiu, ninguém me deu a mão na hora da amamentação..e era muito mais fácil fazer mamdeira do que deixar ela no peito né..massss agora defendo a unhas e dentes amamentação! ! ! ! no chá de fraldas da minha sobrinha, que vai nascer daqui 1 mês ela ganhou SEIS mamadeiras..absurdo né? porque espero que ela nem precise usar elas..de coração..lá uma menina de dois anos e um mês estava mamando no peito e uma pessoa da minha família disse : VOCÊ AINDA NÃO CONSEGUIU TIRAR ELA DO PEITO??? daí levantei a bandeira rs...e disse prá que tirar? deixa..ela desmama sozinha, dai essa pessoa disse mas os meus eu tirei do peito com seis meses...tentei colocar umas coisas nas cabeças dessas pessoas..eu disse que se não fosse importante o ministério da saúde não ia colocar em caixas de leite, em latas de leite, embalangens de mamadeiras e chupetas que amamentar até os dois anos de idade ou mais é fundamental! ! bom..levantei a polemica..mas é uma coisa que tem que ser trabalhada na cabeça das pessoas todos os dias..aquela tarde fiz minha parte..eu acho..parabéns prá essa mãe que amamenta os dois irmãos!! maravilhoso! a foto é digna de aplausos !!!!!!!!!
Meu primeiro contato com amamentação prolongada foi uma tia que amamentou minha prima até uns 4 anos. Lembro de ser pequena e ela amamentar aquela criança grandona e ordenhar num copinho para mim. Eu mesma mamei pouco, a mamadeira foi introduzida quando eu tinha talvez um mês e minha mãe não teve apoio, informação, paciência...enfim.
Na minha recente caminhada materna eu vesti a camiseta da amamentação, revi (pré)conceitos e decidi amamentar minha filha enquanto ela quiser e ignorar solenemente a opinião alheia. Lembro que muitas pessoas me olhavam com pena e achavam que eu insistia em vão em amamentar mas fui em frente e estou conseguindo. Cada mês é uma conquista que comemoro intimamente.
Parabéns Raquel, tu é um lindo exemplo a ser seguido.
hahaha tenho diversas fotos como esta postada! Passei por isso, e que saudades!!!!! Quando a Giovanna nasceu o Gustavo estava com 1 ano e meio, não parei de amaenta-lo drante a gestação (batendo de frente com todos incluso minha obstetra) tive uma gestação super normal, qdo ela nasceu, amamentava os dois ao mesmo tempo, cada um em um peito... o gustavo mamou até os 3 anos e a gi até 1 e meio (isso pq fui obrigada a tirar pois tive que fazer uma cirurgia e precisei tomar antibióticos) por mim deixaria até eles não quererem mais...
super beijo!
Uau, eu adorei aprender tanto com os relatos de vocês!
Infelizmente (e chorei muito por isso...) não consegui amamentar a Larissa além dos 6 meses porque a depressão pós-parto me deixou insone e isso é fundamental na produção de leite: dormir decentemente. Portanto, a fonte secou.
Com o Caio, que chegou 5 anos depois, as coisas foram conduzidas de outra maneira e faz apenas um mês que ele foi desmamado, porque precisei tomar uma medicação que não poderia ele receber através do leite materno.
Amamentar é um momento especial para quem gosta; conheço gente que detestou, torceu para que o leite nem viesse... Que coisa, né?!
Abraços a todas e já adianto o meu feliz dia das mães a todas!
Ingrid
Nossa, parabéns pelo seu relato! Eu nunca tinha imaginado uma situação dessas e olha que sou super a favor da amamentação!
Que relato lindo Raquel! Já tinha lido o seu depoimento do parto natural no site do primaluz e vi essa foto lá. Achei linda! Eu amamentei a minha filha até os 8 meses, depois disso, por total falta de informação e apoio, acabei introduzindo de maneira equivocada a mamadeira, quando voltei a trabalhar...daí já viu né, na mamdeira era mais fácil, ela não quis mais. Com meu segundo filho quero fazer diferente! Beijos!
Lindo seu depoimento!!!fico aqui so imaginando quando eu tiver os meus.
Parabéns! Linda experiência!
Também passei por isso quando engravidei e meu filho Ernesto estava com 2 anos e 4 meses. Ele continuou mamando durante toda a gestação, mesmo com o leite reduzido, mamilos doloridos, etc.
Hoje, ele está com 3 anos e 5 meses, não mama mais, mas continua pedindo o peito que agora é mais da irmãzinha Joana, com 2 meses e meio.
Sylvana
Realmente, é um depoimento ímpar. Não me é comum ouvir falar sobre amamentação durante a gravidez, deve ser pura falta de informação minha mesmo... Admito.
Raquel, lendo o seu perfil, vi qualquer coisa sobre fralda de pano... Penso em usar fraldas de pano no meu próximo bebê, embora ainda não esteja grávida. Acho que não é tão difícil assim... Que conselho você daria às mães que pretendem ter esta inciativa?
Qual a rotina do bebê que usa fralda de pano? Qual a maneira mais prática de lavá-las (molho?)?
Um abraço e, se não tiver tempo para as minhas dúvidas, não tem problema! Fique à vontade para responder se quiser e achar pertinente!
Michelle
OI Raquel, tem um ponto no teu texto que resume exatamente que eu penso, há um tempo para cada criança e é preciso respeitá-lo. Mas mesmo assim, precisamos estar atentas a outras questões, "cada um ter seu tempo" tem que ser um norteador, mas não em absoluto. Porque cabe a nós também ajudar na construção emocional, de acordo com as etapas que eles vão vencendo. Até hoje não é difícil pra nós tomar algumas decisões? Dar alguns passos? Seguir em frente com coragem? Passar etapas é difícil, mas podemos incentivar, encorajar, isso só vai fortalecer a estima e ajudá-los a se situar no seu tempo. Existem milhares de formas para trocar amor e carinho, que podem ser alternadas, não acho legal uma criança de 5 anos mamando por exemplo. Como fica a sexualidade? E a independência de ambos? Isso fortalece ou desestabiliza? A gente tem que olhar pra dentro de nós também e perguntar por que estamos mantendo essa prática tão além (e sim, não existe uma convenção para a hora ideal mas dá pra identificar se encontrarmos o NOSSO tempo). É gostoso demais acolher, mas cabe a nós também empurrar pro vôo. De pouquinho em pouquinho, sem movimentos bruscos, com muito amor e naturalidade, mas firmeza e decisão. Porque o limite e a percepção também são nossas responsabilidades, tanto quanto viver o amor na plenitude.
Nossa, que perfeito, não imaginava que isso era possível, adorei conhecer este blog!
A foto passa um sentimento inexplicável!!!
Beijos, parabéns!!!
Caroline, eu concordo com vc em partes. Realmente acho que temos que ajudar muitas vezes com um empurrãozinho as crianças a crescer e considerar o “cada um tem seu tempo” como um absoluto é um erro e poderia ser até uma forma de fugir de uma situação(o que não é o meu caso), mas já não vejo nenhum problema de uma criança de 5 anos mamando... Sobre a sexualidade, não sei em que ponto a amamentação prolongada interferiria nisto, não sei mesmo, já a independência não vejo como a amamentação pode prejudicar isto, já vi crianças amamentadas por mais de 3 anos, que a mãe trabalhava, viajava e a criança mamava, quando estava com ela. Eu vejo o meu filho em relação a outras crianças e não vejo nele uma criança mais dependente que outras a única diferença é que ele vai mamar a noite, quem não sabe que ele mama acha ele uma criança independente, nunca tivemos um comentário contrario a isto. Há muitas formas de se trocar carinho, eu não acho que a amamentação seja uma forma de trocar carinho, acho que vai muito além disto, é uma forma de imunização, de alimentação, mesmo numa criança maior. Quando quero dar carinho eu não amamento, não que quando amamente não dê carinho.
abçs
ELA, usar fraldas de pano é super tranquilo, eu acho que não muda em nada a rotina. E lavar é facil, da mesma forma que vc lavaria uma roupa que vazou coco ou xixi.
bjks
Ah! Raquel que delícia te ver aqui!Faltava mesmo essa linda história aqui no mamíferas!
Demorou ;0)
Aconselho a Caroline a ler,mais a respeito dos benefícios da amamentação prolongada. Conhecer psicologia que contrapoem esse jargão da dependência e independência com relação a amamentação prolongada seria um exercicio de abertura do pensamento.
Raquel,
Só tenho a agradecer seu lindo depoimento. Tenho um bebê de quase 4 meses e quero muito ter outro filho e quero que a distância entre eles seja pequena, para que cresçam juntos. Mas a idéia de desmamar meu filho para ter outro me parecia tão descabida que eu estava meio perdida, sem saber como coincilar meu desejo de amamentação prolongada e filhos com pqna diferença de idade. Graças ao seu depoimento comecei a pesquisar a respeito, fui atrás de informações sobre amamentação durante a gravidez e vi que realmente não há problema algum. Desmamar devido a gravidez é mais um dos muitos mitos que rolam por aí. Agradeço imensamente por ter aberto as portas à minha pesquisa e me aberto os olhos em busca do conhecimento e aprimoramento constantes.
Boa sorte com seus bebÊs e parabéns por amamentar seu filho até hoje.
Um abraço,
Agnes, mãe do Bruno
Adorei..seu blog...estou pensando seriamente em fazer um blog para meu principe...acho q pode ficar como recordação pra sempre!!!
Estou navegando pra divulgar meu blog.
Visite meu blog e se gostar vai ser um prazer ter sua companhia.
bjs
Oi Raquel, obrigada!
Oi Flávia, estou super aberta a conhecer mais, mas tembém tenho direito a ter opinião, vc poderia me indicar a leitura "ideal"? É aquela que fala sobre o que vc acredita? Abertura de pensamento, mas fechada só na sua visão?
Afinal, no final das contas, não estamos falando de amor? Sua fala não foi amorosa, não entendo, é a mesma coisa que aquela pessoa que pede paz gritando ou apertando buzinas.
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