por: Catherine Crema, mamífera convidada
Desde que me conheço por gente, muito antes de ficar grávida, desejei ter uma menina. Na verdade queria mais que uma, mas achei melhor pensar em uma por vez.
Assim que fiquei grávida, além do parto, não conseguia pensar em outra coisa, além do sexo do bebê! Pedia em todas as minhas orações que aquela semente fosse uma menininha, perfeita, saudável, mas uma menininha...
Exceto minha mãe e minha sogra, o resto do mundo achava que era um menino. Todas as tabelas, todas as brincadeiras, todas as pessoas que me paravam a rua falavam que eu esperava um menino. Descobrimos com 25 semanas, no terceiro e último ultrassom, quando ela resolveu mostrar quem era! Mas mesmo assim, até o dia anterior ao nascimento dela, fui parada no shopping por uma senhora dizendo que o “meninão” logo estaria por aqui!
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Pode parecer um capricho bobo, mas não é! Nem capricho, nem bobo! E eu percebi assim que ela saiu de dentro de mim. Descobri o porquê dessa “obsessão” pelo feminino.
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As melhores lembranças da minha infância foram ao lado das minhas irmãs, tias e primas. Apesar de ter uns 15 tios e “trocentos” primos, nada se compara ao que vivi ao lado dessas mulheres.
Existe uma ligação muito forte entre nós, apesar da distância, dos rumos que nossas vidas tomaram, os laços continuam fortes entre nós.
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Isso foi decisivo quando decidi pelo parto domiciliar, e quando optei por partilhar esse momento com minha mãe, irmãs e sogra. Além da parteira. O único homem era o meu amado companheiro, que participou ativamente do parto mas de uma forma silenciosa e cúmplice, de um jeito que só ele sabe fazer e me fazer sentir.
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O parto foi um momento maravilhoso. Contar com a presença da minha mãe, irmã, sogra e parteira! Todas mulheres, todas importantes na minha vida e que acreditavam naquele processo.
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E assim que minha filha nasceu, senti uma energia muito forte percorrendo todo meu corpo. Além do alívio, da emoção de ter trazido minha filha ao mundo, de ter feito uma longa jornada com ela e ser coroada recebendo aquele ser maravilhoso e puro nos meus braços. Muito além de saber que eu fiz minha filha nascer, e que ela me proporcionou isso.
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Naquele momento senti uma energia diferente de tudo que eu já tinha sentido. Parecia que eu fazia parte de algo muito maior, eu sentia como se me juntasse às minhas ancestrais, às mulheres que fizeram parte das histórias que ouvi, que pariam em suas casas, o “sagrado feminino” que me falaram. Eu precisava dessa força naquele momento. Precisava sentir que elas estavam ali comigo. E a presença das mulheres que escolhi me proporcionaram isso.
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Talvez a ciência explique como algum processo hormonal, mas não tem hormônios sintéticos que consigam reproduzir a comunhão espiritual que é dar à luz a um filho! E eu quis dividir esse momento com as pessoas que mais amo nesse mundo. Nada mais justo que minha filha fosse recebida pelas pessoas que mais esperaram por ela.
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E hoje, ela já está grandinha, não é mais um bebê, todas as noites temos nosso ritual que remete às mais doces lembranças que posso trazer da sua chegada: nosso banho. O banho é um dos momentos mais importantes do meu dia, e acredito que do dia dela também. É o “nosso momento”, a hora que nos reconectamos; eu encho a bacia com água, ela brinca enquanto eu tomo meu banho, então nós brincamos e eu saio, ela normalmente fica mais um pouquinho na água, mas recentemente ela começou a me banhar, como eu faço com ela, enchendo os potinhos e banhando seu corpo.
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E quando ela começou a fazer isso, eu comecei a lembrar de coisas do parto que ainda não tinha consciência: no momento que a bolsa das águas se rompeu eu desejei um dia poder partilhar desse momento com a minha filha; quando ela nascia, minha mãe segurou forte a minha mão e me dizia baixinho palavras de incentivo e força e eu desejei isso pra mim e pra ela!
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Que um dia, se assim minha filha escolher, ela possa me aceitar na sua hora, e que eu possa segurar sua mão e me unir à ela e à sua cria, da mesma forma que minha mãe se uniu a nós duas.
Imagem: www.weheartit.com
10 comentários:
Liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo de viver
eu que sou filha da minha avó, filha da minha mãe, irmã das minhas únicas 2 irmãs, tia da minha única sobrinha, mãe das minhas 2 filhas...amiga de milhares de mulheres e quase poucos homens, imagina como estou emocionada...quis a companhia da minha mãe no meu primeiro parto (domiciliar), mas não foi bom, minha mãe estava muito assustada, apesar de seus 3 partos vaginais (porém, pelo jeito, terrivelmente hospitalares...)
beijuuuuuu
Esse post me fez lembrar muito de um livro. É uma menina! como desenvolver a auto estima de nossas filhas. Ele fala justamente do ritual do banho, pentear cabelo e etc.
Eu n tive uma boa relação com a minha mãe, assim que engravidei pedi logo um menino, mas veio uma linda menininha que mudou a minha vida. Costumo dizer que ela resgatou uma feminilidade adormecida dentro de mim, a relação com minha mãe simplesmente ficou maravilhosa depois do nascimento dela. Com Sophia aprendi que ser mulher pode ser muito mais encantador do que um dia pensei e que podemos e vamos dividir lindos momentos juntos. Hoje fico sonhando com três filhas...
Cath, lindo o que vc escreveu. Engraçado que antes de engravidar (e ainda agora) todas as minhas fortes referências vinham do masculino, depois que o Caetano nasceu passei a observar com mais atenção as nuances femininas na minha vida e pude me aproximar mais delas.
beijão
Fiquei emocionada com esse texto! Minha relação com minha mãe não é exatamente ruim, porém é distante. Depois que engravidei, nos aproximamos mais, mais conversas surgiram, mais história. Estou gestando uma menina e quero reconstruir minha própria história com isso. Como? Sendo mais próxima, tendo coragem pra amar minha filha sem ter vergonha ou receio de dizer isso pra ela. Obrigada pelas reflexões.
Lindo texto. E linda a foto de vcs duas! Que eu e Olivia sejamos assim tb! Bjos!
Obrigada meninas!
Depois que virei mãe passei a entender melhor muitas coisas que criticava e que discordava da minha própria mãe!
Hj enxergo td com outros olhos!
Alexandra, qdo nasci meus avós já eram falecidos, na verdade todos diziam que era filha da minha irmã masi velha e neta da minha mãe, ela ficava p***!!! Mas sempre fomos mto ligadas. A parteira alertou pro problema das mães no TP, mas a minha foi tranuila, pq ela mesma teve um domiciliar unassisted!
Carol, estou começando a ler esse livro! Qdo comecei a ler fiquei aliviada´por estar trilhando um caminho favorável. Mas é difícil!
Mari, Aninha e Liu, foi um parto escrever esse texto! O Gu (meu namorido) falou: "cuidado pra não ofender quem só tem menino", mas que bom que vcs gostaram! Eu só posso falar da minha experiência, e do quanto é positiva pra mim!
Na foto a gente estava tomando banho!
Bjos!
Lindo texto, tenho uma ligação fortíssima com a minha avó, e uma bela reconstrução com a minha mãe, além de três irmãs que eu amo demais, e quando me vi grávida por algumas vezes desejei estar esperando uma menina para dar essa continuidade no entanto no fundo do meu coração sempre senti que era menino e era!!! Agradeci à Deus pelo meu filho perfeito e pela oportunidade de entrar em um mundo totalmente novo para mim, certamente eu tenho algo a aprender com a experiência de ser mãe de menino, adoro meu filho mais que tudo no mundo e acho que nasci mesmo para ser mãe de menino, mesmo assim...Como não quero ter outros filhos, fica sempre uma saudadinha de algo que eu não vivi desta relação tão linda de mãe e filha!! Parabéns!!
A relaçao com a menina é realmente diferente. Tb ja escrevi sobre isso em http://amaezona.blogspot.com/2010/02/amiga.html
Eu nao imaginava que ser mae de outra mulher era tao profundo...
Lindo de viver. Náo pude deixar de me emocionar.
Eu li seu post Dydy, amei! e comentei!
Nossa, Kalu, me senti elogiada agora! Eu que amo seu jeito de escrever! Obrigada!
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